Ménage à trois
Aquela noite! Nunca a esquecerei. À noite em que fiquei saciei minha sede de prazer. Todos os sentimentos explodindo em meu corpo simultaneamente. Mas posso afirmar, não éramos apenas dois, havia mais alguém presente. Que noite! A lua resplandecente no céu, dando luz e criando sombras naquele pequeno quarto, apertado e escuro, mas ainda assim aconchegante. Um ambiente acolhedor para qualquer um que quisesse ter uma boa noite de sono. As brisas calmas e frescas que penetravam pela janela meio aberta e faziam as cortinas brancas de tecido fino se moverem no mesmo ritmo. Tudo estava ajustado para dar certo, e como deu certo! A melhor noite de minha vida!
Naquela noite, posso afirmar, havia mais alguém conosco naquele quarto. Não posso afirmar se nossa companhia era de fato alguém de carne e ossos, mas havia - e posso afirmar - uma presença, pesada e sombria, nos observando do escuro dos cantos do quarto.
Tudo estava perfeito. Prazer, gosto e ilusão logo deram lugar a raiva, dor e sofrimento. Por que teve que fazer aquilo comigo? Nunca saberei. Apenas terei o conhecimento acrescido de dor de que houve traição. Maldita traição. Os motivos que a criaram, nunca saberei. Apenas sei que naquele quarto, havia mais alguém. Nunca saberei como e porque meu corpo, intencionalmente apertou-lhe a garganta até a morte. Nunca saberei o porquê minhas pernas levaram-me à cozinha e minhas mãos pegaram aquela faca. Nunca saberei por que, mesmo vendo apenas um corpo aparentemente sem vida, meus braços o apunhalaram, cada vez mais e mais, incessantemente. Havia prazer, raiva, felicidade e ódio, todos em perfeita sincronia. Ao total, vinte e seis facadas naquele corpo, agora sem vida, ensanguentado, pálido e frio. Apenas sei que havia mais alguém naquele quarto. Alguém que tomou conta de minh’alma e corpo. Apenas sei que as respostas para minhas perguntas cessaram junto à minha sanidade e vida após de cortar meus pulsos com a mesma faca antes usada.
Conforme meu sangue e vida escorriam de meus pulsos, a escuridão aumentava. A impressão de ter alguém me observando do escuro também aumentava. Posso afirmar que havia mais alguém lá. Cada vez mais perto, até restar apenas à escuridão, que agora tem meu corpo e alma.