O gato preto...

Quando percebeu que não podia gritar, que sua boca sequer se abria, ela entendeu que aquilo devia ser um pesadelo, pois os olhos verdes do gato preto mexiam no quadro, e os vermes que estranhamento o cercavam, rastejavam pelas paredes da casa. Sentou na cama, o suor escorria, o coração disparado parecia prestes a explodir dentro do peito, um vento frio entrava pela janela aberta, agitava as cortinas brancas, ouvia sim, miados distantes de um gato, talvez um gato tão preto quanto o do quadro?

No mês de setembro do ano de 1985 Laura ganhou de presente um quadro, nele um gato preto observava, de modo preguiçoso uma cesta de frutas, tendo a cauda solta caindo pela janela, e ao fundo a vista do lado externo da casa. Era um quadro peculiar, pois parecia ter sido pintado de dentro da casa, mas o gato da janela parecia sempre estar ao mesmo tempo dentro e fora, como se levitasse do lado de fora a altura da janela. Naquele ano ganhou sua filinha, Sara, desde o momento que aprendeu a falar gato não parou de repetir: “gato preto feio”, não entendia a repulsa da pequena pelo quadro, resolveu colocar no corredor que ia para o lado de fora pela porta de trás, lugar onde não seria visto por ela.

Passados 15 anos, ela ainda se sentia mal quando ficava sozinha em casa, o corredor que levava para fora sempre tinha um tipo de nevoa quando visto de rabo de olho, olhava então assustada, tudo normal.

Hoje, aos 21 sempre que ia à casa dos pais tinha aquela sensação estranha, o gato, a cesta, tudo era simples, mas trazia intrínseca uma aura de maldade. Por mais que tentasse não conseguia deixasse sentir um arrepio na perna direita, ate a altura dos joelhos, como se aquela criatura saísse do quadro e ficasse ali, a seu lado, vendo suas reações. Quando a noite veio, naquela sexta feira, coincidentemente treze, ela se sentou na cozinha, notando com pavor, pela primeira vez, que a janela da cozinha era muito parecida com a da quadro! A diferença era a textura da parede, e do fundo, como se o quadro tivesse sido pintado ali, naquela casa há muito tempo atrás! Sua mãe sempre dizia que a casa tinha sido comprada a um preço baixo e reformada, tinha sido construída havia mais de 50 anos, mas as bases eram incomparavelmente fortes. Ali, não podia ver o maldito quadro, mas sentiu o arrepio na perna, mas desta vez foi acompanhado pela sensação táctil de pêlo roçando! Olhou para baixo da mesa em pânico, não tinha nada! Dois segundos depois, estava do lado de fora bufando, resolveu que ia esperar os pais voltarem e iria para a sua casa. O relógio da sala fez um barulho, indicava que mais uma hora se completava. O silencio daquela rua agora a incomodava, pois se senti observada por um animal pequeno de lhos verdes, que não passava de um bocado de tinta em uma tela, e ter esta sensação doentia piorava com o fato de estar ali, abandonada, sem ter outros olhos para garantirem que não havia mesmo um gato por ali! Não tinha uma boca para dizer calmamente que certamente estava estressada a ponto de imaginar coisas.

Sentou-se na grama, observou a lua cheia, era dia 13, de fevereiro de 2006, a lua cheia ja estava ali, iluminando tudo, como um farol, e a sua alma angustiada clamava à lua que seu brilho jamais se apagasse, pois temia olhos cor de esmeraldas que a espreitava nas noites escura, sentindo os olhos pesados se deitou, lembra-se de ter visto por ultimo uma estrela se movendo e um gato de olhos verdes indo correndo em sua direção, apagou...

Quando percebeu que não podia gritar, que sua boca sequer se abria, ela entendeu que aquilo devia ser um pesadelo, pois os olhos verdes do gato preto mexiam no quadro, e os vermes que estranhamento o cercavam, rastejavam pelas paredes da casa. Sentou na cama, o suor escorria, o coração disparado parecia prestes a explodir dentro do peito, um vento frio entrava pela janela aberta, agitava as cortinas brancas, ouvia sim, miados distantes de um gato, talvez um gato tão preto quanto o do quadro?

O interruptor não funcionava, não sabia como tinha ido parar em seu quarto, se lembrava de estar no jardim. Saiu pelo corredor, foi até o quarto de seus pais, estava vazio. Foi então ate lá embaixo, descendo pela escada com cuidado, a lua cheia ainda iluminava, apesar de ja ser tarde e em algumas horas o sol já ia se levantar. Os passos ecoavam, ouviu um arranhar na porta dos fundos, sentindo o coração disparar foi ate la, passou ao lado do quadro, mas sequer o olhou, abriu a porta devagar, pela pequena fresta nada viu, fechou depressa se voltou para trás. Olhos verdes a fitavam, mesmo sem estar tão escuro não conseguia ver o dono daquele olhos. Como se uma nevoa negra acompanhasse, ocultando-o na escuridão. Vermes desciam do quadro, de buracos, como se a parede fosse uma carne em decomposição, com uma lentidão demoníaca ele se aproximava, a cesta o quadro não exibia mais frutas, mas carne em decomposição, tomada por vermes, estes pintados a tinta como ela, os vermes que saiam pelas paredes escorriam do buraco onde se encontrava o maldito gato desde sempre. Sim, ele vinha em sua direção, sim, ele era o maldito gato que estava em seu pesadelo, com a boca seca não conseguia grita, mas, desta vez tinha certeza, que não era apenas um pesadelo....

T Sophie
Enviado por T Sophie em 19/08/2007
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