O Contratado
Ele entrou discretamente no Café cheio. Não que não quisesse ser visto, mas era uma figura imperceptível de qualquer jeito. Tinha um passo leve e delicado. Suas botas de neve eram silenciosas e a jaqueta era preta, como outra qualquer.
Estava em um Café em meio a uma avenida movimentada de uma grande cidade norte americana. O relógio marcava 7:30 da matina e o movimento da rua aumentava a cada segundo.
A garçonete era loira, jovem e simpática. Tinha um sorriso cativante. Ele sorriu um sorriso frio e não forçado de volta.
Pediu um café descafeínado com duas colheres e meia de açúcar e meia colher de creme. Tirou do bolso moedas que já estavam contadas previamente com o valor exato de um copo médio de café. Sorriu outro sorriso frio e natural quando a atendente disse suavemente Thank you. E completou dizendo Have a Nice day ao entregar o copo.
Sentou-se enquanto o relógio marcava 7:35. Paciência era uma virtude que aprendera a ter desde criança.
Tinha um olhar distante, porém observador. Sabia dessa peculiaridade em sua personalidade. Podia inclusive adivinhar o próximo passo daquelas pessoas, de tanto que as observava.
Saboreava aquela bebida matinal como uma preciosidade. Procurava sentir o gosto de cada substância ali presente. Olhou para o relógio que marcava 7:45. Ainda tinha tempo, pensou ele. A multidão lá fora começava encher cada vez mais a avenida. A cidade acordava de vez. Mas ainda tinha tempo, pensou novamente enquanto o relógio marcava 7:48.
Avistou um homem velho de cabelos brancos e corpo forte. Usava óculos de grau grandiosos e uma jaqueta bege. Tinha chapéu de caubói, também bege, na metade da cabeça e botas de neve verde-escuras. Tinha as duas mãos nos bolsos da jaqueta, como se tivesse protegendo do frio. O termômetro marcava
–10o Celsius e o relógio 7:53.
Restavam dois dedos de café em seu copo e decidiu beber um pouco mais lento. Ainda estava cedo e não queria ficar matando tempo à toa.
O homem de chapéu bege comeu um pequeno pão rapidamente e saiu em passos largos e suspeitos.
O contratado olhava discretamente aquele sujeito. Bebeu o resto do café em goles pequenos e pouco apressados. O relógio marcava 8:02. Seu encontro deveria acontecer em cinco minutos e ainda teria que andar um quarteirão em meio a multidão.
Os passos das pessoas eram largos e apressados. Os homens normalmente tinham pastas nas mãos e usavam jaquetas longas e luxuosas. Saía uma fumaça frenética da boca daquelas pessoas, reflexo de uma respiração ofegante. As mulheres usavam gorros na metade da cabeça e muitas vestiam longos casacos de pele. Falavam ininterruptamente no celular e geralmente tinham o nariz vermelho.
O contratado se infiltrava silenciosamente na multidão e ia na direção do próximo quarteirão à esquerda da saída do Café.
Estava chegando ao ponto exato do encontro. O relógio marcava 8:05am. Já podia ver que o rosto apressado daquele que ele deveria encontrar aparecia no meio dos outros.
Levou exatos dois minutos para o contratado sacar sua pistola Magnum com silenciador do bolso da jaqueta preta e acertar o ponto exato no meio da testa daquele negro forte que caiu instantaneamente, como um pombo no chão. A multidão abriu e no meio encontrava-se o morto de chapéu com um buraco na testa.
O contratado seguiu seu caminho sem que ninguém o notasse.