O AMOR IMORTAL DOM QUIXOTE E DULCINEIA

Nos séculos passados, era de uma enorme nobreza contar e ouvir relatos de histórias de amor. Princesas e lindas donzelas eram salvas por bravos cavaleiros que lutavam com criaturas ferozes em troca de sua mão em casamento e promessas de amor.

E assim, sobrevivendo o tempo, ouvimos ecoar histórias inesquecíveis, que gravam em nossa mente como: Dom Quixote Dela Mancha e sua amada Dulcineia, uma das histórias mais emblemáticas contadas. Desta forma, me disponho simplesmente contar em uma prosa romântica uma alusão de amor sem grandes pretensões, apenas ressaltar nossas lembranças de amores passados e por vezes se fazem tão presentes em nossos corações.

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Na torre mais alta do castelo, estava Dulcineia em um mundo triste e de dor, além de solitária, ficava aprisionada e almejava ver os dragões que guardavam a entrada derrotados e ela liberta. Aguardando o dia que seu mais amoroso e fiel cavaleiro apaixonado a resgataria.

Parecia ser um dia qualquer, sem nada de novo para contar e ouvir. E de repente, pareceu ouvir ao longe o galopar forte de um cavalo, seu coração encheu-se de esperança, será que este seria o dia o qual seria resgatada de sua masmorra?

Ela avista de sua janela ao longe o sonhado cavaleiro montado em seu lindo cavalo preto. Era Dom Quixote Dela Mancha, vinha vestido de armadura de ferro, com escudo e espada na mão. Seu coração se exaltou! - Seria enfim libertada de sua prisão? Será que o cavaleiro venceria o dragão? A bravura e forma destemida de seu defensor a fazia sentir que ele era o mais poderoso de todos os valentes.

No entanto, ele alucinado não via o dragão e sim lutava contra um moinho de vento. Ao ver a cena, não pode fazer nada a não ser chorar. Porque queria que ele parasse de lutar contra o nada e com a força do amor a libertasse de sua real condição. Mas era fatal, e ao mesmo tempo em que a armadura protegia o cavaleiro, também o cegava... Ele não via nem o dragão, tão pouco poderia enxergar que a porta da masmorra estava aberta. Era só ele entrar e quebrar as correntes que a prendiam.

Contudo, em sua visão de amor ele gritava por Dulcineia, mas não a via a um palmo de sua frente... Lá do alto, uma angústia dominava a donzela, porque ela não podia ver de perto seu bem amado. E Dom Quixote em suas alucinações, partiu em direção oposta, vendo o moinho como inimigo e deixando a donzela para trás na torre, aprisionada nas correntes, sentindo dor e tristeza. Mas, ele partiu e ela ficou olhando ao longe, nada conseguiu fazer e sentiu-se perdida e desolada.

De todos cavaleiros que já tentaram salvá-la, ela não conseguia pensar em nenhum outro que não fosse Dom Quixote. E ficava lamentando, por saber que ele chegou tão perto e não a viu e nem a tocou... Dulcineia sempre sonhou, receber seu nobre cavaleiro com um sorriso e ofertar-lhe uma flor. Seria abraçada com doçura e como uma força de seu amor o faria superar o medo de fantasmas dos moinhos de ventos que vem e vão...

Assim, passaram dias e dias, e Dulcineia presa em sua torre. Nunca perdia a esperança de rever seu amado. Certa manhã um pássaro pousou em sua janela e ali entoou um canto triste, longo, sofrido... Ela ficou um tempo ouvindo aquela canção e se emocionou por completo, lágrimas de tristeza desceram em seu rosto ao lembrar que teve tão próximo do amado. Mal sabia ela que o canto anunciava o retorno de seu cavaleiro. Então, ouviu o galopar do bravo cavalo e a aproximação da voz forte de seu amado Dom Quixote que exaltado gritava:

- Malvado dragão solte minha adorada Dulcineia.

A alegria desta vez invadiu o coração de Dulcineia. Pensou: Será que as alucinações de Dom Quixote desta vez não iriam ofuscar sua visão?

Arrastou-se com dificuldade, pois, as correntes que as prendiam, a deixavam chegar apenas até a janela, e olhou ansiosa. Ficou muito triste, mais uma vez lá estava Dom Quixote, brigando ferozmente contra o moinho de vento. Ela gritava:

- Venha amor! Estou aqui. Olhe para mim, venha por favor me tire desta torre.

Mas ele não a ouvia. Com tida sua coragem segurava sua espada e escudo, e investia com toda sua força contra o moinho de vento. E desta vez, ocorreu o inesperado, a espada de Dom Quixote prendeu-se em uma das rodas do moinho. E Dom Quixote foi suspenso no ar, o moinho rodou e o deixou pendurado. Lá do alto ele pode ver Dulcineia na torre e foi à visão mais maravilhosa de sua vida.

Ele via a mulher mais linda do mundo, uma visão dos deuses! Com olhos brilhantes, pele alva, sorriso arrebatador. E sentiu-se feliz, porque, enfim, pôde estar com ela ao seu alcance pelo menos por alguns instantes.

Ela estendia a mão para ele, e os olhos rasos de lágrimas que escorriam em sua bela face. Neste instante, ela viu a pior cena de sua vida. Seu único e verdadeiro amor caindo do moinho. E tragicamente caiu em cima de sua própria espada e se feriu mortalmente. Da torre, Dulcineia olha o amado ali no chão ferido. E dando seu último suspiro de vida,

a suplica:

- Minha adorada Dulcineia, te espero no paraíso.

Dulcineia nada pôde fazer... A dor toma por completo sua alma, vendo que seu herói não conseguiu a salvar e nem tão pouco salvar a si mesmo. Percebe que não tem o que mais esperar... Com a corrente presa em seu pescoço se joga pela janela. E ali acaba a dor, a angustia o medo.

Os mais românticos, dizem que a morte de ambos foi nobre, foi por amor, e nas frias madrugadas o casal até os dias de hoje anda de mãos dadas por perto do castelo e daquele moinho. Uma visão de dois seres que se encontraram e enamoraram no além da vida, numa doçura de paixão e de um amor imortal.

Nota: Este conto é apenas uma fantasia analógica a bela obra original de Dom Quixote de la Mancha (Don Quijote de la Mancha em castelhano) que é um livro escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616). Um clássico da literatura mais lido em todo mundo. Nos seus 126 capítulos existem inúmeras aventuras do cavaleiro mais conhecido no mundo.