Noite de Chuva - Cap. II - È imprecionável? Não leia!
Capitulo II
Levada pela emoção, Dona Mercedes agora soltava novamente a voz para a sua narrativa. A classe a ouvia, cada vez mais ansiosa.
- “Ele” estava lá, zunindo nos meus ouvidos, juntamente com aquele chap-toc, chap-toc que me enlouquecia. E zunia lá fora a tempestade! O vento sacudia os galhos das árvores, que me pareciam chicotes fustigando o céu,
Meio endoidecida, a professora levou as mãos à cabeça, tapando as orelhas.
- Comecei a escutar palavras estranhas, desconexas, roncadas em meus ouvidos. Podia vê-lo, também! Fitava-me com ódio, com ganas de levar-me com ele, para as profundezas de onde havia saído. De sua boca rasgada saiam palavras horríveis, que eu procurava não ouvir, não entender; depois se tornaram murmurantes, suplicantes, confusas, entre gemidos... Assim... Assim...Junto a mim, coladas em meu rosto...Sentia-me estranha, a mim mesma, como se já não me dominasse, como se fosse entregar-me àquela força do mal. Em voz alta, quase gritando, iniciei uma oração e fui rezando, rezando, implorando que “ele” me deixasse em paz.
No silêncio da classe, por momentos, ela se integrou. Depois, lentamente, recomeçou:
- Como uma lesma, “ele” se retraiu, ao som das minhas preces. Encolheu-se sobre si mesmo, na escuridão do carro, sob o capuz que lhe cobria as feições. Aliviada, divisei as luzes da Universidade. Fechando o vidro do carro, peguei um lenço em minha bolsa e passei a enxugar o rosto, mas os calafrios não me abandonavam.
- Procurei estacionar o mais perto possível da nossa entrada; quando abri a porta do carro, aquela “assombração” deslizou para fora e ficou encolhida, confundida nas sombras, esperando por mim.
- Enquanto, lentamente, eu virava a chave na fechadura, procurava com os olhos algum retardatário, como eu, que me acompanhasse. Ninguém! Apenas um mar de carros vazios, cuja visão a chuva esmaecia. Um mar estático e silencioso! Fui tomada por uma onda de terror! O “fantasma” foi tomando corpo, foi se agigantando... Eu sabia... Eu sentia!
- Iniciei a caminhar em direção à entrado do prédio, a princípio lentamente; meus passos, incertos, passaram a ser seguidos por um arrastado “chap-toc, chap-toc, chap-toc”...
- Deixei-me tomar pelo pavor! Tentei correr, mas minhas pernas não me obedeciam! Meus pés pesavam como chumbo! Conseguia arrastá-los mais rapidamente, mas aquele “chap-toc, chap-toc, chap-toc” também se apressava, vindo ao meu alcance e já podia ouvir o riso de triunfo do maldito!
- Cheguei à escada e passei a agarrar-me ao corrimão, para “guinchar” os meus passos. Em cada degrau eu me retorcia de desespero e esforço. E “ele” vinha atrás de mim, como um gato brinca com o rato...
A professora, de repente parou de falar e, estarrecida, com os olhos esbugalhados, apontou para a porta e berrou:
- Olhem! Lá está “ele”!
Amanhâ... Amanhã será O dia!Quem tiver nesvos fracos não deve ler o final.