A MÃE DE BELLA (Parte 2)

Achei estranho, mas não perguntei se havia outro convidado. Talvez fosse a mulher que eu vira passando pelo jardim.

– Que linda a mesa, Bella – elogiei.

– Você gostou? – ela pegou a garrafa de vinho e serviu uma taça para mim e outra para si. – Vamos beber para comemorar nossa amizade.

O vinho estava divino. Tomei um gole pequeno e comentei:

– Que delícia! Você entende mesmo de vinhos!

– Nunca entendi nada! – ela deu uma risada que achei um pouco forçada. – Minha mãe era grande conhecedora do assunto. Este aqui era o preferido dela. Vamos jantar? Estou morrendo de fome!

Não gostei muito de saber que aquele vinho era o favorito da mãe de Bella. Aliás, me sentia muito desconfortável com aquele monte de retrato que pareciam observar cada movimento meu.

Antes da primeira garfada Bella já havia consumido com uma taça inteira de vinho. Talvez minha amiga estivesse esquisita por já estar bebendo antes de eu descer. Ela se serviu e mesmo eu não tendo terminado, Bella tornou a encher minha taça. Ela comentou:

– Vinho me deixa feliz.

Os olhos de Bella brilhavam.

– Não sabia que você bebia vinho. Ou qualquer outra bebida alcoólica.

Ela tomou mais um gole e respondeu:

– Desenvolvi este hábito durante a doença da minha mãe. Bebia para me sentir menos triste e estressada. Mas depois que ela partiu... bem, eu continuei bebendo. Me faz bem. Está boa a carne?

Eu nem sentia fome. O prato, contudo, estava com uma aparência ótima. Mas o comportamento de Bella me deixou com uma bola entalada na garganta.

– Incrível. Foi você quem preparou? Ou foram os empregados?

Bella me olhou e deu uma gargalhada.

– Empregados? Moro sozinha aqui. Faço tudo neste casarão. Já não havia comentado antes sobre este fato?

Foi minha vez de beber um grande gole de vinho. Bella se virou para sua direita e pegou alguma coisa que repousava na cadeira ao lado. Observei atentamente quando ela pôs uma caixa de madeira de tamanho médio sobre a mesa.

– Adivinha o que é isto?

– Uma caixa – respondi de boca cheia.

– Claro que sim. Mas o que tem dentro?

– Humm... Diamantes?

– Quem dera. Veja – Bella piscou o olho para mim e abriu a caixa. Pegou um retrato, olhou com carinho e depois mostrou para mim. – Linda, não?

Eu olhei para a foto e senti que ficava pálida. Não queria segurá-la, porém Bella a estendeu para mim. Não tive alternativa.

– É… sua mãe? – perguntei sem querer saber a resposta.

– Sim! Mesmo doente não perdeu a beleza.

A mãe de Bella estava numa cama, pálida, vestida com uma camisola branca, olhando fixamente para o fotógrafo. Estava abatida, mas os olhos eram frios e hostis. Devolvi a foto um pouco trêmula. Me lembrei da mulher que eu vira atravessando o jardim. Havia alguma semelhança. Tomei um grande gole de vinho para me acalmar.

– Me parece ótima – murmurei.

– Foi uma semana antes de ela morrer – contou Bella de forma casual.

Bella deixou a comida de lado e mostrou mais algumas fotos. Em todas a mãe de Bella aparece com a mesma expressão, ora recostada em almofadas numa poltrona ou sobre a cama. Não era algo agradável para se ver durante um jantar. Eu fiquei feliz de nunca a ter conhecido.

– Parabéns, ela era uma mulher incrível – eu tentei ser sincera. – Sinto muito pela sua perda.

Em silêncio, Bella enfiou a mão mais para o fundo da caixa procurando alguma coisa em especial. Segurou algumas fotos e me olhou por baixo dos seus longos cílios.

– Tenho fotos ótimas aqui.

Desejei que fossem imagens da mãe de Bella gozando de excelente saúde. Eu já havia desistido de jantar. Segurei a foto que ela me entregava e me deparei com uma imagem bizarra: a mãe de Bella sentada em um sofá, de olhos fechados, segurando um lindo buquê de rosas vermelhas. Não quis acreditar no que eu estava vendo.

– Ela está... está...

– Sim, mamãe já havia partido – Bella terminou a frase. – Não é uma foto de rara beleza? Veja mais esta aqui.

Precisei de outro gole de vinho. Era inacreditável. Minha mão tremia quando visualizei uma foto mais grotesca ainda que a anterior. Bella também estava na foto, sorrindo em uma selfie com a mãe morta. Devolvi a foto sem disfarçar minha cara de nojo. Bella não reparou. Comentou, enlevada:

– Cada foto mais maravilhosa que a outra.

Desejei ir até o quarto, buscar minhas coisas e fugir dali. Bella recomeçou a comer e de boca cheia apontou para meu prato com a faca afiada.

– Coma.

... continua...

Maria Caterinna
Enviado por Maria Caterinna em 23/04/2018
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