UMA GAROTA PERVERSA (Capítulo 3)

O feriadão foi tenso não apenas para os familiares de Pâmela como para Rafaela. As postagens do sumiço da garota viralizaram na internet e só se falava nisto. Rafaela tentou se isolar daquela confusão, mas era algo praticamente impossível. Sentia–se culpada e atemorizada. Sabia que tinha sido vista com Pâmela na sexta–feira atravessando o pátio bem na hora da Educação Física. Será que alguém teria visto ambas terem subido até o segundo andar? Rafaela pensou várias vezes em confessar aos pais o que tinha feito. Puxa vida, ela só tinha 16 anos e não era nenhuma criminosa. Fora uma brincadeira infeliz que não era para ter aquele final. E, no final das contas, Pâmela saíra sozinha. No fim das contas, Rafaela não fez coisa nenhuma. E aquele final de semana prolongado foi de angústia e tensão.

A terça–feira iniciou com Rafaela indo para a escola com as pernas bambas e temendo o pior. Alguém já teria contado à polícia que a última pessoa que estivera com Pâmela era ela? Na escola os colegas pareciam agitados e curiosos. Pâmela não era a figura mais popular, então ninguém estava sofrendo tanto assim. Com exceção de Rafaela. Os círculos de adolescentes discutiam onde Pâmela poderia estar escondida. Grupinhos estavam se formando para procurar Pâmela na escola, embora a polícia já tivesse feito isto no final de semana. Rafaela, atemorizada, não quis se encaixar em grupo de buscas nenhum. Tinha medo do que poderia encontrar. O coração ainda estava acelerado quando ela entrou na sala de aula e praticamente se jogou na cadeira. Seriam dias difíceis, disse para si mesma. Não sabia se teria forças para aguentar sem acabar revelando o que fizera. Mal a professora tinha entrado na sala de aula quando a vice–diretora apareceu na porta da sala. Rafaela nem a tinha visto. Estava ocupada tirando os cadernos de dentro da mochila, atrapalhada no seu nervosismo.

– Rafaela?

Ela olhou lentamente na direção da voz. A professora e a vice–diretora a encaravam de um modo estranho da porta. Os colegas, percebendo que alguma coisa não estava exatamente no seu lugar, silenciaram. Todos olhavam para Rafaela como se ela fosse a autora de algum crime. Pelo menos era assim que a garota se sentia. Ou que talvez ela fosse mesmo, afinal das contas.

– Sim?

Sua voz saiu calma e clara. Rafaela controlou o arrepio gelado que percorreu seu corpo e encarou as duas mulheres serenamente. O mundo estava caindo, mas ela tinha que se manter em pé. Ora, tinha uma reputação a zelar naquela escola.

– Você poderia me acompanhar? – perguntou a vice com uma voz esquisita.

– Claro que sim.

Rafaela deixou as coisas como estavam e saiu da sala sem olhar para ninguém, de cabeça erguida e nariz empinado. Os colegas a observaram em silêncio, a tensão palpitando no ar. Rafaela acompanhou a professora pelos corredores da escola. Nenhuma das duas falava nada. A garota se sentia como se estivesse indo para um pelotão de fuzilamento. Não sabia se iria voltar. Somente esperava que alguém guardasse o caro material escolar dentro da mochila fashion que ganhara há apenas duas semanas. Os pais ficariam loucos quando soubessem do que fizera.

Ainda assim foi com o queixo erguido que Rafaela entrou na sala da direção. Havia uma mulher junto com a diretora que ela não conhecia. Para sua surpresa, Rafaela se sentia estranhamente calma. Talvez fosse melhor confessar de uma vez e acabar com aquela tortura. Será que poderia fazer uma ligação para seu advogado? No caso, o pai.

– Bom dia, Rafaela – cumprimentou a mulher não tão amistosa. – Sou a Delegada Grace. Tudo bem com você?

– Tudo ótimo – Rafaela sorriu abertamente. Se deu conta que não iria confessar coisa nenhuma e iria mentir até o fim. Delegada? Meu Deus! Estava ficando muito importante!

– Como você tem conhecimento, sua colega Pâmela está desaparecida.

– Ah, é verdade – Rafaela fez uma cara triste. – Estou muito chocada.

– Todos estamos. Bem, vou direto ao ponto. Ficamos sabendo que você foi a última pessoa a ser vista com a Pâmela.

Rafaela estava sentada ao lado da policial. Frente às duas, instalada em sua cadeira, a diretora observava a tudo atentamente.

– É mesmo? Puxa. Deve ter sido durante a aula de Educação Física.

– Isto mesmo. Onde vocês estavam indo?

– Bem, nós sobramos nos times de vôlei e então eu sentei com ela em um dos banquinhos mais afastados. Nunca fomos muito de conversar, mas naquele dia Pâmela estava um pouco ansiosa e começou a falar feito uma tagarela.

A delegada achou interessante a informação e chegou a se acomodar melhor na cadeira para escutar o relato de Rafaela.

– Ela revelou o motivo de parecer tão ansiosa?

– Sim. Pâmela tinha um encontro.

– Com quem?

Todos os olhos estavam grudados em Rafaela.

– Ela não me disse, mas estava bem feliz. Foi então que Pâmela me disse que tinha esquecido de passar batom. E eu tentei ajudar. Eu estava indo com ela até o banheiro, mas recebi uma ligação antes. Dei meu batom para ela e não a vi mais depois disto. Para falar a verdade, até tinha me esquecido do fato até que soube pelas redes sociais que Pâmela sumiu.

– Pâmela comentou alguma coisa sobre o encontro ser no antigo laboratório de química?

– Ela não me disse nada. Aliás, não tínhamos muita intimidade. Por isto até me surpreendi quando Pâmela começou a falar.

A delegada balançou a cabeça como se concordasse com Rafaela. Fez algumas anotações e depois tornou a encarar Rafaela.

– Por enquanto é isto. Tornaremos a procurar você se acharmos relevante.

– Posso ir, então? – Rafaela falou rápido demais e depois tentou disfarçar. As palmas das mãos estavam suadas. Não podia deixar transparecer o quanto estava nervosa.

– Sim, está liberada.

– Se eu lembrar de mais alguma coisa...

– Sim, pode falar com a Diretora e ela irá me procurar.

– Certo. Bom dia.

Rafaela levantou elegantemente e se virou para sair da sala. As pernas estavam bambas quando ela tomou o rumo da sala de aula através do corredor. Será que a delegada havia acreditado? Talvez não tivesse sido uma boa ideia falar do encontro fictício de Pâmela com alguém. Quem conhecia Pâmela sabia que isto era impossível. Nenhum cara iria querer sair com ela. Pâmela era tosca demais.

Maria Caterinna
Enviado por Maria Caterinna em 07/06/2018
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