UMA GAROTA PERVERSA (Capítulo 4)

As amigas logo cercaram Rafaela durante o intervalo para saber o que delegada queria. Mais calma e com uma história já pronta, Rafaela contou superficialmente a mesma coisa para as garotas. Todas se surpreenderam com o fato de Pâmela estar contente por ter um suposto encontro pela frente.

– Não acredito – disse Clara. – Naquele dia a Pâmela estava com a mesma cara de bunda de sempre. E qual cara iria querer se encontrar com ela?

Rafaela sem sentiu um pouco desconfortável com aquela observação, mas não podia deixar transparecer. Devolveu:

– Talvez Pâmela não seja muito de falar sobre seus sentimentos.

– Mais surpreendente é ela falar estas coisas para você – Clara parecia agitada. – Você vivia praticando bullying contra a coitada.

– Escute aqui, Clara – o alerta vermelho de Rafaela acendeu. – Você não sabe o que se passava na cabeça daquela garota. Eu nunca fiz bullying contra ela. Eram só brincadeiras.

– Brincadeiras? Você contou para a delegada da vez que deu um banho de farinha na Pâmela depois do fim da aula?

Clara estava indo longe demais. Rafaela deu dois passos para frente e deu um forte empurrão na colega que se estabacou no chão. As outras meninas silenciaram, perplexas. Desconheciam aquele lado violento de Rafaela.

– Se você continuar falando merda eu juro que parto sua cara, entendeu? Não brinque comigo.

O falatório no pátio parou ante a briga das meninas. Clara não falou nada, limitando-se a ficar atirada no chão, olhando para Rafaela enquanto ela lhe passava o esporro. Furiosa, Rafaela se afastou do local, tensa e furiosa. Se viu alvo de muitos olhares enquanto atravessava o pátio, bufando, em direção à biblioteca. Não tinha nada para fazer lá, mas pelo menos podia ficar quieta enquanto fingia ler algum livro. Sabia que tinha sido um erro a agressividade contra Clara, mas não pudera se controlar. Se chegasse aos ouvidos da diretora seria péssimo. Rafaela ficaria mais visada do que já estava. Tudo por causa daquela imbecil da Pâmela.

– Onde você se enfiou, sua cretina?

*

Rafaela não voltou mais para a sala de aula naquele dia. Ficou o restante dos períodos na biblioteca fingindo estar fazendo algum trabalho. Depois que o sinal tocou anunciando o fim das aulas, ela deu um tempo e foi até a sala pegar suas coisas. Não havia mais ninguém. Rafaela se sentia irritada e preocupada. Era claro que os colegas estavam achando estranha a sua proximidade com Pâmela justo no dia do seu sumiço. E se um dia aparecesse – viva – ela contaria toda a verdade. Era melhor que Pâmela estivesse morta mesmo.

Ela estava há mais ou menos uma quadra da escola, indo para casa, quando o celular tocou. O som do aparelho interrompeu o curso dos seus pensamentos e deu-lhe um susto. No visor do celular constava “número privado”. Talvez fosse a polícia, pensou ela com o coração disparando. Mas se não atendesse seria pior. Respirando fundo, Rafaela firmou a voz.

– Alô?

Em um primeiro momento ninguém falou nada e ela acreditou que fosse engano. Melhor assim. Até faria melhor. Passaria o resto do dia com o celular desligado, trancada no quarto, sem ver ninguém. Precisava de paz. E tinha medo do que estava por vir.

Quando Rafaela estava pronta para desligar, escutou uma respiração profunda do outro lado. Ela se arrepiou. Cruzes, o que era aquilo? Nossa, que sinistro, disse Rafaela para si mesma. De repente uma voz esquisita falou:

– Eu sei o que você fez.

Rafaela estacou no meio da calçada e empalideceu no mesmo instante. Olhou para os lados, apavorada. Será que alguém estava lhe seguindo? Contudo, não havia ninguém suspeito por perto. Aliás, quase não havia vivalma na rua.

– Você não sabe nada – despejou ela, nervosa. Depois se arrependeu da sua impetuosidade. – Quem está falando?

– Eu sei o que você fez. Cuidado.

Rafaela desligou o celular com medo do que poderia ouvir. Era só o que faltava. Quem sabia? Quem tinha visto? Podia ser coisa de Clara. Alguém podia estar na espreita. Ela disfarçou e continuou o caminho para casa. Tinha a impressão de estar sendo observada por todos os lados.

Maria Caterinna
Enviado por Maria Caterinna em 09/06/2018
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