Trama diabólica (Parte 6)

"Trama diabólica"

(*) novelinha de Carla Rejane Silva

Capítulo seis

NO CAPÍTULO ANTERIOR, Sofia, de fato, se encontra com Carlos Soza de Mendoza. Mendoza relata pormenorizadamente o assunto sério que o levara a telefonar para Sofia e marcar aquele encontro meio que as escondidas. No final da conversa, Carlos e Sofia pactuam agir em silencio, numa mútua e solidária ajuda para o bem comum de suas respectivas famílias. Após o almoço, Sofia retorna à fazenda. Ao chegar, topa com dom Rafael soltando fogo pelas ventas.

Capítulo seis.

AO CHEGAR DOM RAFAEL veio como louco gritando:

- Onde você se meteu? - Estavam todos preocupados. Sabe que horas são? - Doutor Augusto está te aguardando desde o almoço. Perdeu os compromissos. Porque demorou?

Sofia fingiu que estava assustada. Deu um passo para trás e pôs as mãos na cabeça.

- Eu apenas fui dar uma volta, comprar analgésicos, e parei para almoçar. Perdi a noção do tempo. Sinto muito por causar preocupação. Saiba que não é fácil olhar tudo, ver lugares, pessoas, e não se lembrar. Sinto muito. Não estava sozinha. José foi comigo. Vou tomar banho e venho falar com doutor augusto.

Ato contínuo virou as costas e saiu, não sem antes escutar as palavras venenosas de Camélia que chegava naquele momento a dizer, com certa ironia na voz:

- Meu querido Rafael. Precisa internar a sua esposa antes que algo ruim aconteça a ela.

Sem esperar para ouvir a resposta, foi direto ver seus filhos. As crianças estavam na sala assistindo desenhos e comendo pipocas. Leon havia retornado da casa do colega de colégio. Dom Rafael fora busca-lo. Sofia deu um beijo em cada um, e se sentou entre os dois abraçando a ambos com carinho e ternura.

- Sofia, pode me acompanhar ao escritório? - disse dom Rafael entrando, de repente, na sala, com uma cara de dar medo. Nesses doze anos de casados a jovem nunca o havia visto daquele jeito.

- Sim!

Voltou a beijar os filhos e seguiu dom Rafael até o escritório. Esperou que ele abrisse a porta. Entrou, sentou e aguardou o marido dar inicio a conversa.

- Sei que está sendo difícil pra você não se lembrar de sua vida, ou dos últimos acontecimentos que antecederam ao acidente, quando aconteceu a sua queda do cavalo. Ouve uma discussão entre nós. Você, na ira, pegou meu cavalo, e, ao cavalgar Lúcifer atabalhoadamente ele te jogou fora da cela e você bateu a cabeça em uma pedra.

- Qual foi o motivo de nossa discussão? - O porquê de eu ter saído correndo? - Não entendo...

- Não vou entrar em detalhes. Com certeza, quando recuperar a memória, tudo ficará esclarecido. O motivo que te chamei aqui... foi pra falar que, de hoje em diante, em vista da sua situação, não tem que sair. Se precisar de alguma coisa, seja o que for José poderá perfeitamente ir até a cidade, ou quando eu mesmo for, posso trazer o que necessitar. Até segunda ordem fica proibida de sair da fazenda. Enquanto não tiver certeza que esta bem. Fui claro? - completou.

- Você não pode me prender. Perdi a memória, é fato, mas não estou doente. Posso muito bem cuidar de mim. Não preciso de ninguém me vigiando.

- Posso prender sim. E quer saber, não vou mais falar sobre isso. Se insistir interno você. Não quero que meus filhos passem por isso, todavia, se for preciso farei. Espero que me obedeça.

- Fique tranquilo dom Rafael. Ouço e obedeço - disse sarcástica.

- Mais alguma coisa – começou a dizer olhando nos olhos do marido. O que viu deixou seu coração em pedaços. Percebeu, havia tristeza no olhar. Linhas de expressões estranhas em derredor dos olhos. Afora isso, parecia cansado. Num quase momento de bobeira, levantou a mão e quase tocou o rosto do marido. Voltou atrás, baixou a tempo. Não podia dar sinais ou fraquejar, senão colocaria tudo a perder.

- Não! - completou, seco. - Pode ir... Disse dom Rafael

Ao sair, olhou para trás e viu o marido pegando uma garrafa de whisky e um copo. Sentiu tristeza enorme. Dom Rafael não era de beber. Fechou a porta, devagar e deixou que as lágrimas caíssem. Foi nesse momento, que ouviu a voz de Maria perguntando se estava tudo bem.

***

Sofia se limitou a balançar a cabeça afirmando que sim. Estava tudo bem. Maria, entretanto, sentiu que algo de errado pairava no ar. Apiedada, pegou a sua patroa pelo braço e a acompanhou até o quarto. La chegando, falou com voz branda:

- Senhora é melhor tomar um banho. Daqui a pouco o jantar será servido. Apenas na mesa a senhora, doutor Augusto, dona Camélia, dom Rafael e dom Álvaro. O senhor Pedro ainda não voltou e disse antes de sair, que chegaria tarde...

- Prefiro tomar uma sopa aqui mesmo no quarto. Não estou com ânimo para encarar ninguém - respondeu com lágrimas a escorrerem pelo rosto. Maria sentou a seu lado, na cama, e a abraçou.

- Quer me contar o que esta acontecendo? - Porque está fingindo que não recuperou a memória?

Assustada, Sofia deu um pulo com os olhos arregalados. Indagou, espantadíssima:

- Como descobriu? - É tão óbvio assim? Por favor, Maria, ninguém pode saber... ninguém...

- Porque senhora? Me diga. Confia em mim.

- Ok. Vou te contar Maria, mas precisa me prometer, de que manterá em segredo tudo o que ouvirá da minha boca.

- Sim, prometo, lógico. Vejo que é algo muito sério.

Sofia começou, então, a relatar tudo, desde a noite do acidente, quando acordou no hospital. Contou que, num primeiro momento não se lembrava de nada, mas, de repente, tudo voltou ao normal como num passe de mágica. Falou da conversa que ouviu no quarto de Camélia e, por último, relatou com detalhes o encontro com Carlos Soza no restaurante. Cada narração trazida à baila, podia ver a raiva que se formava, estampada no rosto da serviçal. Sabia o amor que ela tinha por dom Rafael, que viu crescer, o amor, por ela, desde o primeiro dia que conheceu Sofia, e o imenso amor pelos seus filhos.

- Senhora, quanto sofrimento essa família de crápulas provocou, e vem provocando... porque não fala a verdade a dom Rafael? Ele precisa saber o que está acontecendo...

- Não posso. Dom Rafael está convicto que eu o traí. Pelo bem dos meus filhos e de dom Rafael e de todos os demais, que continuem achando que perdi a memória. Preciso de provas para provar o que pretendem fazer. Preciso dar um basta pra sempre. Eles têm que pagar pelo que fizeram com a nossa família, com a família Mendoza, principalmente a Constância. Pobrezinha! Sofreu horrores nas mãos deles. Abusaram de uma pessoa que vive numa cadeira de rodas. Por isso, minha cara amiga, preciso que me ajude a vigiar cada passo deles.

- Sim. Apesar da raiva que estou sentindo, vou controlar e fingir que está tudo bem.

- Vou tomar um banho e falarei com doutor Augusto. Irei jantar aqui no quarto...

- Eu cuidarei do jantar das crianças! - disse Maria. Pedirei para trazer uma sopa quentinha para a senhora repor as suas forças.

- Obrigada Maria. Estou feliz em ter alguém para dividir esse segredo. E em quem possa confiar e me ajudar.

- Pode contar sempre comigo, senhora. Vocês são minha família.

Abraçou Sofia, deu um beijo em sua testa e saiu.

Sofia respirou aliviada. Mais calma e aliviada, se preparou para tomar banho. Quando entrou no banheiro, foi atacada por uma cobra que estava dentro do box. Por sorte, a picada pegou no roupão. O grito todavia ecoou pela casa inteira, fazendo com que dom Rafael gelasse o coração como dos demais que se encontravam no escritório. Dom Rafael saiu correndo, entrando no quarto, no mesmo momento em que o doutor Augusto. No mesmo passo, vieram Maria, Camélia e as crianças.

- O que foi Sofia? - perguntou dom Rafael olhando para a esposa, nesse momento encolhida na cama. Fala. Que diabos

- Uma cobra no banheiro - disse Sofia, aos soluços.

- Maria, leve as crianças daqui.

Maria, com muito custo, tirou as crianças do quarto. Elas não queriam deixar a mãe, mas obedeceram.

Mesmo instante, o doutor Augusto estava ao lado de Sofia a examinando, para ver se tinha sido picada. Camélia, parada feito um dois de paus na ombreira da porta, perguntou com voz de fingida preocupação:

- Você foi mordida?

Sofia, desconfiada, respondeu que não. Que o ataque pegou no roupão. Só de imaginar Sofia se arrepiava da cabeça aos pés.

Após confirmar que Sofia estava bem, apenas nervosa, doutor Augusto sugeriu que a moça tomasse um calmante e repousasse.

Dizendo isso, deixou o quarto.

Dom Rafael, nesse interregno de tempo, pegou uma arma no guarda roupas e no instante seguinte ouviu- se um tiro. Dom Rafael retornou ao quarto e disse achar estranho aquele episódio. Não era comum aquele tipo de cobra aparecer por ali. Esclareceu que pediria aos empregados que dessem uma olhada, assim que amanhecesse. No mesmo calor do assuste, pediu que Camélia saísse, que os deixasse a sós.

- Você não vai jantar conosco, primo? - perguntou Camélia com o olhar fixo em Sofia.

- Não! Vocês podem jantar sem a nossa presença. Vou dar assistência à Sofia e aguardar um pouco até que ela se sinta melhor...

- Mas primo, mesmo depois de tudo, ainda quer ajuda-la?

Em resposta, dom Rafael pareceu se enfurecer.

- Cala-te, e saia já do quarto. Não estou de bom humor para iniciar uma discussão. Saia por favor...

Vendo que se insistisse teria problemas futuros, Camélia saiu sem olhar para trás. Seguiu direto para a sala de jantar, onde seu pai a aguardava, com os olhos abertos em riso dissimulado.

Continua no próximo capítulo.

Carlasonhadora
Enviado por Carlasonhadora em 27/06/2018
Reeditado em 15/05/2020
Código do texto: T6375628
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