Patrimônio

Capítulo 1 - A Perseguição

O estampido de uma garrafa de champagne sendo aberta ecoou pela sala de Malcom Stevens. Ele estava feliz, no final do seu expediente, no seu último dia de trabalho antes das suas merecidas férias. E ainda havia acabado de fechar mais dois contratos milionários, para a exportação de pedras preciosas para a China.

Servindo o champagne para os presentes na sala, ele disse sorrindo:

- Estou em minha melhor fase! – Acabo de fechar dois contratos milionários para a nossa empresa, tenho muita saúde, e uma mulher maravilhosa.

- A Stevens, Taylor e Bancroft Ltda., tem orgulho de ter você como sócio. – disse Alan Taylor, um grande amigo e sócio de Malcom.

- Nossa empresa está vivendo o seu melhor momento – disse Abel Bancroft, amigo e advogado da empresa. - Nosso ano de 1957, tem sido bastante produtivo.

- Eu também, fico muito feliz com tudo o que está acontecendo – disse Mary Calthorpe, a secretária.

Depois de beberem a quinta garrafa de champagne, Malcom arrumou suas coisas e foi para a sua casa. Finalmente poderia descansar, com alguns dias de férias.

Enquanto dirigia o seu carro, escutando I Can’t Help Falling In Love With You, na voz de Elvis Presley, rumo ao seu apartamento, ele percebeu que estava sendo seguido.

Um Buick o seguia desde o estacionamento da empresa, passando pelas mesmas ruas, e fazendo as mesmas manobras que ele fazia.

Já não era a primeira vez, que isso acontecia. Sempre o mesmo carro.

Malcom pode perceber que o motorista, deveria ter em média uns trinta anos de idade, e possuía cabelos ruivos.

- Estou sendo seguido, eu tenho certeza! – ele disse, poucos minutos depois de chegar em casa. – É a segunda semana consecutiva que isso acontece... No início até pensei, que fosse uma coincidência, mas agora estou certo de que não é...

Sua esposa Lorette beijou-o na testa.

- Mas que motivos alguém teria para segui-lo?

- Ainda não sei Lorette, mas que é estranho, isso é... O carro, um Buick preto, sempre surge do nada, nas mesmas ruas que eu...

- Mas carros assim são tão comuns...

- É diferente... – Sinto que esse carro me persegue!

- Mas você tem idéia ao menos, de quem possa dirigir esse carro?

- Um homem de cabelos ruivos... Mas nunca o vi antes...

Na manhã seguinte, Malcom acordou com o despertar do relógio ao lado da cama. Deu um pulo, com a sensação de que estava atrasado para o seu trabalho. Só então lembrou de que era o seu primeiro dia de férias. Deu um tapa no relógio, atirando-o longe, e deitou novamente.

Durante a tarde, deu apenas uma rápida passada na sala de Abel Bancroft, para deixar uns papéis importantes, pastas e envelopes lacrados.

- Você tem mesmo certeza? – perguntou-lhe Abel.

- Claro que sim! – disse Malcom – É apenas uma questão de tempo agora... Tenho apenas que descobrir o motivo pelo qual estão me seguindo... Aí depois vou resolver tudo o que ainda estiver pendente... E serei livre, me sentirei um homem completo...

- Tenha a certeza, de que poderá contar comigo, para o que for preciso... - Mas fico preocupado com o que disse, sobre ser seguido...

-Tenho plena certeza, imagino que seja uma organização criminosa. - Movimentamos muito dinheiro, podem querer nos extorquir de alguma forma, podem estar me vigiando para sequestrar.

- Nesse caso, Alan e eu, também podemos correr perigo... - Mas ainda não percebi nada, ao menos até agora...

- Tenho percebido aquele carro em todos os lugares, em que estou...

Logo que saiu da sua empresa, Malcom foi até o supermercado, para fazer compras.

- Vamos lá, então! – disse ele, analisando sua lista de mantimentos, e empurrando um carrinho de compras lotado, pelos corredores.

O vai-e-vem de pessoas, com suas cestas de compras, e carrinhos, começaram a deixá-lo zonzo.

Crianças correndo com pacotes de biscoitos, outras se jogando no chão choramingando, velhas senhoras andando feito moscas tontas, cheias de verduras e legumes, sem nenhum rumo aparente.

Foi nesse mesmo momento, que ele teve a sensação de ser observado.

Tinha aquela sensação inquietante, de que em algum lugar, havia alguém olhando para ele.

Parou, olhando para os lados das prateleiras no corredor. Nada de anormal. Nada suspeito.

- Não estou gostando disso – murmurou, empurrando o seu carinho cheio de compras, para o outro corredor.

Mas não adiantou, porque teve a mesma impressão, só que ainda mais forte. Como se alguém estivesse se aproximando, cada vez mais perto...

Sentiu uma presença bem próxima, um vulto passando no canto do seu olho.

Quando olhou rápido para trás, não viu ninguém, apenas um vidro de aspargos, que foi derrubada por alguém da prateleira, e derramava o seu conteúdo no chão.

Mas não havia ninguém além dele no corredor de enlatados.

- Não pode ser verdade – disse ele, jogando uma lata de ervilhas para dentro do seu carrinho, empurrando-o mais rápido para os outros corredores.

Uma velhinha obesa e de óculos fundo de garrafa se aproximou do corredor, ficou observando o homem assustado, que empurrava o carrinho. Olhos arregalados, ofegante, olhando para os lados perturbado com algo, saindo em disparada olhando para trás.

“Maluco” - ela pensou consigo.

Quanto mais rápido ele corria com o seu carrinho, mais ele imaginava alguém vindo logo atrás dele.

As pessoas nos corredores por onde ele andava, o olhava, sem entender nada.

Malcom pensou ter visto um homem ruivo, próximo ao fim do corredor, junto a um grupo de pessoas que escolhiam tomates.

Trêmulo e suando frio, teve certeza de que estava sendo seguido no supermercado, e que seria pego quando estivesse distraído no estacionamento colocando as compras no carro.

Num impulso, ele jogou o seu carrinho de compras em direção ao grupo de pessoas, onde havia visto o homem de cabelos ruivos.

O carrinho colidiu com uma menina, que deveria ter no máximo quatro anos de idade, e pela força do impacto do carrinho carregado de compras, deve ter causado uma fratura.

Ele saiu correndo, esbarrando nas pessoas, gritando como um louco e derrubando uma pilha de latas de cerveja.

O policial aposentado, de cabelos ruivos, que escolhia tomates, quando o carrinho atingiu a menina ao seu lado, não entendeu o motivo da confusão, mas foi prestativo ao ajudar a menina aos prantos segurando o seu pequeno braço ensanguentado.

Olhando assustado para os lados, e correndo, as pessoas o olhavam aturdidas, pois não entendiam o que estava se passando.

- Você estava sendo seguido no supermercado também? – perguntou sua esposa Lorette, logo que ele chegou – Querido você está pálido, e suando frio...

- Não posso ficar louco! – Tenho que descobrir o que está acontecendo comigo... Preciso encontrar esse homem...

No dia seguinte, quando fazia a sua caminhada matinal, em volta de um pequeno parque, próximo ao seu prédio, notou que já não estava mais sozinho.

Ao longe, ele via um homem, caminhando em sua direção.

Malcom teve um calafrio, e começou a acelerar os seus passos, passando então à uma corrida curta.

- Não pode ser! - É ele!!!

Ao olhar para trás, viu que o homem, já estava correndo também, e muito mais perto do que antes. O homem acenou sorrindo, enquanto corria.

Um arrepio lhe correu pela nuca, ao constatar, que o seu perseguidor tinha cabelos ruivos.

- Como ele pode saber todos os lugares onde estou? – por um momento, uma ideia macabra lhe passou pela mente – E se quiserem me sequestrar? – Se esse homem sabe tudo o que faço, deve também saber da grande quantia em dinheiro que movimento na empresa... – Podem ser uma organização perigosa... - O escritório deve ter sido monitorado, claro! - Todos corremos perigo.

Quando olhou para trás novamente, o homem de cabelos ruivos, estava no máximo uns três metros dele, sorrindo como um louco.

Malcom correu então, o mais rápido que pôde, até que finalmente chegou ao estacionamento do seu prédio.

Ainda ofegante, e cambaleando pelo forte cansaço que teve, caminhou devagar, apoiando-se nos carros estacionados. Sentia umas agulhadas em suas costelas, e um gosto de sangue na sua garganta.

- Ele quase me pegou... Estava muito perto! – pensou consigo, apoiado em uma viga no estacionamento.

Subitamente, teve um sobressalto.

Assustado, colocou a mão em seu peito, para sentir seu coração batendo descompassado.

- É ainda mais assustador, do que eu supunha! – exclamou.

Estacionado à sua frente, estava um Buick preto, reluzente.

- Não vi a placa, mas tenho certeza de que é o mesmo carro que me seguia... – ele pensou. Os seus olhos estavam arregalados, olhando para o movimento de todo o estacionamento.

- Ele, ou eles, devem estar por perto... – Talvez, ainda mais perto do que eu imagine... - O homem ruivo eu reconheci, mas e se existirem outras pessoas, que eu não reconheci? - Se existirem outros... - Poderiam estar em outros lugares o observando... Poderiam estar em todos os lugares, onde menos imaginava... - Poderiam estar em todos os lugares...

Malcom chegou até o elevador do subsolo. Apertou o botão, e ficou esperando, olhando para os lados agoniado.

Quando o elevador chegou, ele entrou.

- Preciso sair desse prédio... – Preciso arranjar um outro lugar para morar... Aonde nunca, ninguém vai me encontrar... Onde nunca conseguirão me seguir... - Onde eu poderei ir ao supermercado, onde eu poderei fazer minha caminhada, minha corrida sem ser seguido... - Oh, céus! - Eu daria tudo por uns goles de alguma bebida forte...

O elevador parou no primeiro andar. Mais alguém queria subir...

Quando as portas se abriram, Malcom sentiu que ia desmaiar...

Suas pernas pareciam estar bambas, e ele não ia conseguir se manter em pé. Suas pernas tremiam, como se fossem de borracha.

Parado à porta, sorrindo, o homem de cabelos ruivos, que há poucos minutos estava correndo atrás dele.

Capítulo 2 - O Perseguidor

Com um aceno de cabeça, o homem entrou e as portas do elevador se fecharam, às suas costas.

Malcom não conseguia entender o motivo, do pavor que começava a dominá-lo.

- Entrei pelos fundos... Ele deve ter entrado pela frente e me esperado em algum lugar... – pensou encolhido num canto, como um animal acuado.

O clima dentro do elevador era inquietante. Um silêncio tão denso, que se poderia cortar com uma faca. Um clima claustrofóbico...

Juntando a coragem que possuía, até mesmo a que não poderia ter, respirou fundo, e perguntou, olhando seriamente para o homem ao seu lado:

- Você está me seguindo? – a frase saiu em disparada. Ele tentava não demonstrar a sua apreensão.

O homem de cabelos ruivos olhou-o intrigado.

- Não o entendo... – disse ele.

- Gostaria de saber, por que está me seguindo?

Rindo-se, o homem deu de ombros.

- E por que pensa assim? – perguntou num tom de superioridade.

- Porque o vejo por todos os lugares em que estou... Seguindo-me nas ruas com o seu carro, no supermercado, no parque poucos minutos atrás, e agora aqui...

- Perdão, senhor! - O senhor está me confundindo com alguém... - Eu não estive em supermercado algum hoje...

- Ora, não seja cínico!

- Definitivamente, está me confundindo, além de tudo está me ofendendo...

- Não acha muita coincidência?

- E por que eu acharia?

- Porque eu não acho que seja, uma coincidência!

- O senhor está visivelmente com a sua mentalidade perturbada, meu caro...

- O que o senhor está dizendo?

- Meu amigo, se o senhor ainda não percebeu, nós dois moramos no mesmo edifício, e por isso, é perfeitamente aceitável, esses nossos encontros casuais, a que o senhor chama de coincidência...

- Pare de me perseguir! – gritou Malcom com a voz grave.

Em seguida, o elevador parou no seu andar e ele desceu, sem olhar para trás.

O homem balançou a sua cabeça tristemente, e também desceu do elevador.

Malcom entrou correndo no seu apartamento. Estava perturbado.

- Vamos, Lorette, arrume as suas coisas! – Iremos embora desse edifício!

- Embora? – ela perguntou incrédula – Para onde?

- Ainda não sei... Mas o que importa? Tenho o dinheiro suficiente para comprar uma cidade inteira, se eu quiser... O que importa, é que temos que deixar isso aqui, o mais rápido possível... O homem que me persegue mora aqui...

- Não diga asneiras, Malcom!

- Falei com ele no elevador! – Penso que seja uma organização criminosa, e que querem me sequestrar...

Lorette bufou.

- Você está ficando paranoico! – disse.

- Por acaso, você sabe de quanto são os contratos que assinei?

Sua esposa assentiu com um movimento de cabeça.

- O dinheiro desses dois contratos, nos garante uma vida boa, por um período de dez anos... Quinze, se forem bem aplicados... - Acredito que querem me sequestrar, e pedir uma grande quantia em resgate... - Vamos arrume suas coisas, vou ir na polícia, falar com algum investigador.

- Você recebeu alguma ameaça? – Não! – Algum atentado? – Não! – disse Lorette, sacudindo seu marido pelos braços – Não vou compactuar com as suas paranoias, Malcom! – Não seja infantil! – Está tudo bem! - Você vai chegar e vai falar o quê para os policiais? - Que você acha que está sendo perseguido, porque há uma mesma pessoa nos lugres em que vocês está? - Que acredita que será sequestrado, porque vai receber uma bolada em dinheiro?

- Mas, querida... - Temos que sair daqui, preze sua vida!

- Daqui, eu não saio! – Daqui, você nunca conseguirá me tirar!

Nesse momento a campainha do apartamento tocou.

Lorette foi atender, enquanto o seu marido foi sentar-se, nervoso.

- Olá! – disse ela, ao atender a porta – Posso ajudá-lo?

- Olá! – Desculpe, importuná-la, sou Frank Shargel, seu vizinho de apartamento, moro aqui na frente, mudei há poucos dias... – Por acaso, vocês teriam uma tesoura para me emprestar?

- Claro! – disse ela – Vou buscá-la... Entre um instante...

Quando Malcom Stevens olhou para o homem de cabelos ruivos que acabara de entrar no seu apartamento, à espera da tesoura, sentiu um nó na sua garganta, e a sua cabeça começou a rodar.

- Aqui, está! – disse Lorette entregando-lhe a tesoura – Passe bem!

-Não! – pensou Malcom, baixo onde estava sentado. - Ele conseguiu um apartamento ao lado do meu...

- Oh! – Obrigado! – disse Frank Shargel, e quando estava saindo pela porta, olhou ironicamente para Malcom, e abriu e fechou a tesoura, imitando o gesto, de quem corta alguma coisa. – Vou devolvê-la muito em breve!

Ao fechar a porta, Lorette viu que Malcom estava pálido, e ofegante.

- Querida, você viu? – ele balbuciou – Ele já sabe até mesmo onde moramos! – creia em mim, estamos correndo perigo!

- Malcom, está dizendo que esse vizinho que bateu aqui agora, é o seu perseguidor?

- Claro! - É ele! - Estou falando sério Lorette! - Eu o reconheci! - Acredite, ele faz parte de uma organização criminosa, eles querem me sequestrar, para pedir um resgate, eles conhecem o meu patrimônio, todo o dinheiro que batalhei para juntar. Eles querem me extorquir, e roubar o que é meu, querem o meu patrimônio!

- Não permitirei que você faça essa loucura! – Malcom, você não sofreu nenhuma ameaça real... Nem proteção policial você pode pedir numa situação dessas... – Relaxe, querido! – Marquei um jantar com os seus amigos para hoje à noite... – Agora, descanse...

Logo que seu marido deitou, ela foi até o quarto e lhe forneceu dois comprimidos brancos, semelhantes às aspirinas.

- Você precisa ficar mais tranquilo, meu bem...

Malcom ingeriu os calmantes, depois sorriu.

- Você não está, querendo me dopar, está?

- Se for para você não fazer escândalo durante o jantar, faço você ingerir um frasco inteiro desses calmantes.

E juntos, eles gargalharam.

Alan Taylor serviu-se de mais uma dose de conhaque.

- Você tem certeza disso, Malcom? – perguntou.

- Claro! – Está sempre em todos os lugares... Sempre me observando...

- Ora, Malcom! – disse Abel Bancroft – Você sempre teve uma mentalidade fértil demais!

Lorette chegou nesse instante, vinda da cozinha, trazendo canapés.

- Minha agenda pessoal já está quase encerrada... Com todos os meus compromissos, e horários livres dos últimos dias... - disse Malcom.

- Nossa secretária cuida muito bem da sua agenda – disse Alan, rindo.

Já fazia algum tempo que os seus amigos tinham ido embora, quando ele sentiu uma estranha presença dentro da sua casa. Aquela estranha sensação de não estar sozinho.

Deixou sua garrafa de conhaque sobre a mesinha de centro, ele foi pé ante pé, por todos os aposentos, procurando encontrar algo... ou alguém.

Quando entrou no seu quarto, teve uma terrível surpresa...

Frank, o homem de cabelos ruivos, estava deitado na sua cama, com as pernas e braços cruzados. Sorriu e acenou para Malcom, de olhos arregalados, parado à porta.

Saiu correndo, ele foi procurar Lorette, que estava saindo do banheiro.

Puxou-a pelo braço.

- Ele está aqui dentro! – gritou – Vamos sair enquanto é tempo!

- Não vou abandonar tudo, como se eu fosse uma fugitiva! – Onde ele está?

- Deitado na nossa cama! - Na nossa cama!!

Lorette arregalou os olhos. Num rápido movimento, segurou-se na parede para não cair de susto.

- Não creio!

- Venha ver...

Malcom passou na cozinha, e pegou uma grande e afiada faca, e então foi até o seu quarto, seguido por Lorette, ainda com os cabelos molhados e somente enrolada na sua toalha de banho.

- Não está aqui! – ele disse pasmo, parado na porta, olhando para a cama impecavelmente arrumada, sem o menor sinal de que alguém estivesse deitado sobre ela.

- Eu disse que não tinha ninguém aqui... – A porta está chaveada! – Ninguém pode entrar ou sair daqui, sem que tenha a chave, e só eu e você temos...

Lorette entrou no quarto, e foi olhando em todos os lugares, abriu e fechou o guarda-roupas, espiou debaixo da cama.

- Não sei nem porque estou olhando isso... È impossível, Malcom...

Enquanto Lorette falava, Malcom, que ainda estava parado na porta, sentiu uma leve respiração ofegante próximo às suas costas. Chegou até mesmo a sentir um suave hálito de hortelã.

Paralisado, ele apertou a faca em sua mão e se virou bruscamente, caminhando lentamente pelos corredores, empunhando a arma.

Quando menos esperou, escutou o som da porta se fechando.

- É na sala!

Correndo, até a sala, ele não avistou ninguém, e segurando a maçaneta com força, deu um forte puxão na porta, que não abriu.

Sua esposa veio em seguida.

- Está chaveada! – disse ele.

Lorette assentiu.

- Somente nós temos as chaves... É impossível alguém ter entrado aqui...

- Não estou enlouquecendo, está me ouvindo? - ele gritou, segurando a faca com força e apontando para o rosto dela.

Os olhos de Lorette se arregalaram.

- Baixa essa faca, querido... - Você pode se machucar...

- Tem mais alguém dentro dessa casa, será que você não percebe?

Malcom gritava, agitando o braço, empunhando a faca, a lâmina assoviando, enquanto cortava o ar.

Ela se aproximou, tentando acalmá-lo, mas ele olhava para os lados brandindo os braços, para os lados, como se golpeasse com a faca, apenas o ar.

- Não pode ser alucinações! - Ou será que estou ficando louco?

Segurou o braço da sua esposa e a sacudiu com força.

- Diga Lorette! - É isso que está pensando, não é mesmo? - Que meu patrimônio, que minha ganância está me cegando?

- Está me assustando, Malcom! - Pare, solte essa faca!

- Não vai ser fácil me apanhar, não vão roubar meu patrimônio, me sequestrando! - Só vai colocar as mãos no meu patrimônio, eu e a mulher que eu amo! - ele gritava, ao ponto de suas veias saltarem em seu pescoço – Entendeu, Lorette!

Sacudindo sua esposa com força, ele só a soltou quando escutou um grito agudo dela.

Lorette, gritava com as mãos no rosto, a toalha de banho que estava enrolada, havia caído no chão e estava nua, apenas com suas mãos ocultando o rosto.

- Olha o que você fez!!! - ela gritou chorosa, sangue escorria em filetes brilhantes por entre seus dedos, manchando seu rosto, pescoço e seios. - Veja!

Quando tirou as mãos do rosto, ele pode ver, o que havia acontecido.

Enquanto a sacudia, a lâmina afiada da faca havia atingido a maçã do rosto. Parecia ser um corte profundo, desde o lábio, até o canto do olho. O sangue não parava de escorrer.

Ela abaixou-se e segurou sua toalha úmida, para estancar o sangue e correu para o seu quarto.

Malcom sentou-se no sofá, deixou a faca escapar por entre seus dedos dormentes, e ela caiu cravada verticalmente no tapete.

Logo depois, no hospital, ela já estava acabando de suturar o corte.

- Vou marcar uma consulta com o Dr. Vincent Lugosi... - disse, assim que terminaram os curativos no rosto. - Isso está saindo do controle, veja o que você fez, poderia me matar...

- Não! – recusou Malcom – Não preciso de um psiquiatra, não estou louco!

- Você está com mania de perseguição... Ou está vendo fantasmas? – A primeira possibilidade, é a que mais me atrai... O que você prefere?

Estava amanhecendo, os primeiros raios de sol penetravam pelas frestas na janela.

A garrafa já estava quase no fim. Deitado no sofá, bebendo conhaque, Malcom Stevens, sentia a sua cabeça girar.

Via as imagens turvas dançarem na sua frente, de forma, que ele se arrependia de ter exagerado na bebida. Mas era preciso para poder suportar seus pensamentos, e tentar digerir os acontecimentos dos últimos dias. Seus delírios etílicos não eram muito diferentes, dos fatos recentes da sua vida.

Quando seus olhos pousaram no sofá à sua frente, ele deu um pulo, virando um pouco de bebida na sua roupa.

Piscou os olhos várias vezes, tentando acordar do seu transe.

Mas a imagem na sua frente não se desfez.

Soluçou, e logo depois deu um arroto, com gosto de conhaque.

Continuou olhando fixamente pra a imagem no sofá. Ele estava lá ainda. Imóvel, como uma pintura em um quadro. Então a figura moveu-se.

Malcom, deu um pulo sentado, e mais bebida virou na sua calça.

O homem e cabelos ruivos, na verdade Frank Shargel, estava sentado à sua frente lhe observando. Com um sorriso falso, estampado em seu rosto.

- O que está fazendo aqui, dentro da minha casa?

O rosto do inesperado visitante rodava na sua cabeça.

- Responda, sei que está ai – Malcom balbuciou, enrolando a língua, devido sua bebedeira. - Venha Lorette, corra aqui na sala...

Mas Lorette estava dormindo no quarto, ele podia ouvir o som da sua respiração pesada, e alguns roncos. Ela sempre teve o sono pesado, e ele descobriu que ela roncava, logo nos primeiros dias de enamoro.

Sorridente, Frank continuou sentado imóvel, e não respondeu.

- Como entrou aqui? – Malcom tropeçava nas palavras, gaguejando.

- Eu atravessei a parede! – Não acha que eu seja capaz?

- Onde está Lorette? – O que fez com ela?

- Eu a sequestrei, ela está em meu poder... - e riu-se.

Uma parte da mente de Malcom sabia que Lorette estava no quarto dormindo, mas a outra insistia em acreditar no que o ruivo acabava de dizer. Ou seria sua mente lhe pregando uma peça, devido a sua bebedeira?

Levantando calmamente de onde estava sentado, Frank Shargel saiu caminhando pelo apartamento, abriu a porta, e saiu pelo corredor, subindo as escadas.

Malcom ainda segurando a garrafa, saiu cambaleando e bêbado, gritando pelos corredores, atrás de Frank, que subia as escadas.

Os vizinhos abriam as portas apavorados, e ainda sonolentos assistiam Malcom embriagado gritando, perseguindo alguém, que somente ele conseguia ver, enquanto bebia, ora na própria garrafa de conhaque, ora no copo que segurava na sua outra mão.

- Outra bebedeira – falou o vizinho parado na porta do lado.

- Esse maluco, esfaqueou a esposa dele ontem – disse outro.

- Eu acho que ele usa algum tipo de entorpecente – sugeriu outra vizinha idosa.

Ele gritava, chamando a polícia para prender o homem ruivo, enquanto chamava o elevador, apertando o botão várias vezes, batendo com a garrafa na porta.

- Ele pode ser subido no terraço – e pensando assim, desistiu de esperar o elevador.

Com dificuldade, Malcom Stevens, subiu a escadaria, e chegou até o terraço, onde o homem de cabelos ruivos poderia estar.

Cambaleante, deixou sua garrafa sobre uma pequena mesa que havia lá e andou de um lado a outro, procurando o homem que havia dito se chamar Frank, mas não encontrou nenhum sinal dele.

- Apareça! – gritou ele, o seu bafo de conhaque transformando-se em nuvens de vapor.

O prédio tinha 15 andares, e soprava um vento frio lá no alto. O dia começava a clarear, lá embaixo os carros nas ruas e pessoas caminhando nas calçadas indo para os seus trabalhos, pareciam miniaturas.

– Diga logo o que você quer! – Seu fantasma de uma figa!

Arrastando-se, caminhou e ficou ao lado do parapeito do terraço, que batia na sua cintura, e ficou olhando lá embaixo, o movimento da rua.

- Formiguinhas! - murmurou – As pessoas daqui do alto, parecem formiguinhas – soluçou – Frank Shargel, é uma formiguinha, ou será um fantasminha? - começou a gargalhar.

De repente, passos soaram às suas costas.

Soaram ao longe, depois os sons foram ficando mais perto e mais perto.

Seu sangue gelou, teve um arrepio frio percorrendo a sua espinha.

Sua boca abriu-se para emitir um grito, que nunca sairia... Porque alguém foi mais rápido.

Malcom sentiu duas garras geladas e mortais, nas suas costas, o empurrando com força, para cima do parapeito.

Seu corpo girou sobre o muro com rapidez, e iniciou seu derradeiro voo para a morte. Ainda pode sentir o vento forte batendo em seu rosto, movendo seus lábios, bochechas e olhos, em caretas terríveis, como as que os paraquedistas fazem quando saltam. Sua visão ia se tornando turva, mas ainda em seus momentos finais de lucidez, sentiu-se como um elevador descendo e passando pelos andares do prédio, o chão se aproximando cada vez mais rápido, mais perto, enquanto seu corpo dançava no ar, dando inúmeras voltas e piruetas. As pessoas lá embaixo nas calçadas e nas ruas, que antes pareciam formiguinhas, aumentando de tamanho aos poucos, até atingirem seu tamanho normal, enquanto o chão continuava subindo ao seu encontro. Conseguia ouvir os gritos das pessoas que o olhavam, esperando horrorizadas pelo momento da sua queda. Gritos de desconhecidos, que se misturavam com os seus, à medida que se aproximava do solo, até que finalmente seus olhos viram somente a calçada, e a morte veio ao seu encontro, no momento do baque, e apenas uma dor, que ninguém jamais saberia descrever.

O baque do corpo produziu um som medonho semelhante a uma melancia madura demais se partindo, e sua cabeça ao atingir a calçada, se rachou como uma casca de ovo, por onde escorreu sua massa encefálica.

Havia uma mulher na cabine telefônica ao lado de onde o corpo caiu. Ela viu o momento que a cabeça atingiu o chão, e os miolos se esparramaram na calçada, como um espaguete ao molho de tomate.

Um jovem estava parado na calçada, segurava um jornal e com uma caneta circulava um anúncio de emprego, que disputaria a vaga. Estava conferindo o número do prédio com do anúncio, quando algo enorme caiu do alto do edifício, exatamente do seu lado. Houve sangue e miolos esguichando em sua direção, sujando suas roupas e óculos, respingando sobre o anúncio que lia. Sentiu como se uma pancada de chuva quente e vermelha caísse sobre ele. Só então percebeu que alguém havia caído do prédio.

O motorista do carro estacionado na calçada, ao lado de onde o corpo caiu, estava distraído acendendo um cigarro. Quando escutou os gritos das pessoas à sua volta, já era demasiado tarde, algo caiu ao seu lado, e uma golfada vermelha atingiu o para-brisas do seu carro, escorrendo algo viscoso, que depois descobriu ser sangue.

Alguns caminhões ainda desviavam do que sobrou de Malcom e haviam porções de suas entranhas respingados por todos os carros e pessoas que passavam pela rua nesse momento. Até mesmo na calçada, haviam poças viscosas de sangue.

Lá no alto do terraço, Frank olhava a massa de carne informe espalhada entre o meio da calçada e a rua. Uma enorme mancha vermelha, se formava em volta delas.

- Como pode haver tanto sangue dentro do corpo de uma pessoa? – pensou.

E afastou do parapeito, saindo apressado do terraço..

O vento ainda soprava forte lá no alto.

A garrafa de conhaque continuava sobre a mesa, onde havia sido deixada.

No dia seguinte, algumas horas após o funeral de Malcom, Lorette estava sentada na sua poltrona favorita.

A campainha tocou, e ela foi atender.

- Aqui está! – disse Frank Shargel, lhe entregando a agenda que pertencia a Malcom – Ela me foi muito útil, querida!

Ele entrou e sentou no sofá, enquanto ela caminhou até o barzinho, e serviu um vinho tinto em uma taça.

- Nosso plano foi perfeito! – ela falou bebericando um gole do vinho, que havia servido – Fazer todos pensar que ele estava louco… Todos pensaram que ele estava paranoico e imaginando coisas… Malcom mesmo, chegou a pensar que estava tendo alucinações. E com a ajuda de uns calmantes que eu o fazia ingerir… Tudo foi ainda mais fácil...

Frank assentiu com a cabeça, bebericando da taça servida por Lorette.

- Por fim, todos pensaram que ele estava bêbado e caiu acidentalmente do alto do prédio... Tivemos a sorte de alguns vizinhos presenciarem ele bêbado subindo até o terraço, com a sua garrafa de conhaque... - Viram a algazarra que fez no corredor, chamando o elevador...

Lorette acariciou seu rosto, onde ainda mantinha o curativo. Pressionou de leve, e sentiu uma fisgada.

- O maldito me cortou com uma faca! - Não contava com esse acidente, poderia ter sido algo pior... - Mas se a situação saísse do controle, eu partiria com o plano B: eu mesma mataria Malcom com minhas próprias mãos, e faria parecer que eu estava me defendendo de um acesso de fúria dele. - Mas pensando bem, isso foi um ponto ao nosso favor, daqui algum tempo, vai restar apenas uma pequena cicatriz, e alguns milhões...

- Agora é só esperar...

- Sim! – Esperar o dinheiro que vou receber como herança... E o dinheiro dos dois contratos que ele assinou, também será meu..., todo o patrimônio de Malcom Stevens - Com a bolada que vou pôr as mãos, poderei fazer várias cirurgias plásticas, e não haverá o menor vestígio de cicatriz em meu rosto... - ela riu, quebrando sua expressão fria e maquinal – O que é uma mera cicatriz? - Ossos do ofício...

- Você tem certeza, de que Alan Taylor, representará os seus interesses... Os nossos interesses na empresa, e não os interesses próprios dele? – Ele pode querer lhe passar a perna...

- Taylor é um bom rapaz... Saberá cuidar bem do patrimônio, de uma pobre viúva... – ela riu-se – Mas se ele tentar algo, mando quebrar-lhe as duas pernas...Agora cuidado, querido! – Precisamos tomar cuidado! – Ninguém poderá nos ver juntos por enquanto... – Depois sim...

- Não vejo nada demais, sou apenas seu vizinho de apartamento, que se mudou há pouco tempo, e que veio lhe dar as condolências...

- Vou poder reconstruir a minha vida, junto do meu namorado novo... – Pois somente você poderá ser o meu namorado novo... Pois fez tudo o que podia por mim... Ah! – Frank... Meu namorado novo...

E dizendo isso, Lorette beijou o seu amante apaixonadamente.

Na semana seguinte, ela recebeu a visita de Abel Bancroft, advogado da empresa e do seu falecido marido.

- Tenho más notícias para a senhora... – disse ele seriamente.

Servindo-se de conhaque, ela bebeu um gole grande e resoluto.

- Que aconteceu? – perguntou a viúva – Algum problema na empresa?

- Bem... – pigarreou o advogado – É sobre o testamento do seu falecido marido...

Lorette exibiu um brilho momentâneo em seus olhos.

- Devo repetir que a morte prematura de meu amigo Malcom, foi uma enorme perda para a nossa empresa, e pessoalmente...

- Vamos ao que interessa...

- Vou fazer uma rápida explicação, sem termos técnicos...

Os olhos da viúva ainda brilhavam de euforia. Dentro de segundos, se tornaria milionária.

- Segundo o testamento de Malcom, redigido, no dia em que ele saiu de férias...

Lorette ergueu suas sobrancelhas. Malcom não havia lhe contado sobre isso...

- Testamento... - ela repetiu devagar, como se estivesse soletrando, digerindo a palavra.

- Malcom deixou um testamento cerrado, redigido de próprio punho...

- Eu sei o que é um testamento cerrado, siga adiante...

- Bom, serei direto já que a pressa lhe consome... Lorette, todos os bens e imóveis em nome de Malcom, incluindo esse apartamento, carros, barcos, contas bancárias, ações na empresa, todo o seu patrimônio, passam para Mary Calthorpe, que desempenhou até ontem, as funções de secretária de nossa empresa...

Abel riu-se um tanto envergonhado, não havia como se conter.

- Como advogado, eu não deveria dizer isso, mas como amigo de Malcom, eu posso...

Lorette estava petrificada... O chão havia desaparecido sob seus pés.

-Ele já estava pensando em se separar de você. -Não gostaria de ser indiscreto... Mas... Ele deixou tudo para a sua amante... Todo o patrimônio de Malcom agora pertence a ela...

A viúva arregalou os olhos.

- Não é possível, eu tenho direitos...

- Temos algumas procurações assinadas pela senhora, dando plenos poderes para Malcom dispor dos seus bens...

- Mentira! - ela gritou – Mentira! - Não assinei procuração nenhuma! Apenas assinei os papéis da minha inclusão, em um novo seguro... - parou abruptamente, como se estivesse levado um choque.

Ficou parada, olhando fixo para a parede. Parecia estar longe, e por fim lembrou-se do momento em que Malcom mandou que assinasse alguns papéis. Realmente eram inclusões em um seguro de vida e planos de saúde, mas alguns outros não havia lido, pois ele havia dito que eram apenas cópias que precisavam ser assinadas e rubricadas. Apressada, nem os leu, e logo assinou.

- Maldito! - resmungou consigo mesma – Ele me enganou direitinho… - Que o Diabo o carregue!!

Finalmente sua máscara havia caído. A mulher diabólica, escondida sob a pele de um cordeiro estava com as garras de fora.

- Tenho as cópias comigo, caso não as tenha lido corretamente quando assinou as procurações. Em termos bem simples, a senhora abriu mão de seus bens, doando-os em vida para a senhora Calthorpe…

- Não pode ser... - Vou procurar reverter essa situação absurda!

- Mary Calthorpe, pediu para que desocupasse esse imóvel, num prazo de 30 dias, porque deseja se mudar para cá... - Ah, mais uma coisa, o apartamento deve ser deixado como está, você poderá levar apenas seus objetos pessoais...

Despedindo-se, Abel foi embora.

Lorette aos poucos foi saindo do seu estado de torpor.

Entreabriu a sua mão e derrubou o copo que segurava, que se espatifou no chão, em milhares de pedacinhos.

Sentiu um forte aperto no peito e gritou... A única coisa que lhe restava fazer...

Girou pela sala aos berros.

Pegou a garrafa de conhaque, e a segurou por um instante.

Se olhava no espelho, estava escabelada, o curativo no seu rosto, precisava ser trocado, para esconder sua cicatriz.

Fechou os olhos e lembrou de quando a lâmina afiada da faca beijou a sua face.

Tremeu de ódio. Num movimento rápido, jogou a garrafa no espelho da parede, estilhaçando o vidro.

Pelos espelhos quebrados, podia ver seu rosto refletivo através de vários ângulos. Vários pontos de vista de um mesmo rosto. Várias visões de uma mesma cicatriz, que a deixaria marcada para sempre.

Então começou a urrar, como um animal, e cravou suas unhas no seu rosto, arrancando o curativo, enterrando-as na cicatriz, abrindo a ferida novamente. Gritando, e sangrando, no seu rosto e na sua alma.

Tudo havia sido em vão.

Daqui para frente, não teria mais nada.

A única coisa que teria, era um namorado novo... O seu patrimônio a partir de agora seria apenas um namorado novo, na figura de Frank Shargel.

FIM

Amigo Leitor,

Espero que tenha gostado do conto acima.

Solicito que após a leitura, deixe nos comentários o seu feedback, pois ele é muito importante para mim.

Agradeço sua visita,

Abraços!

Rangel Elesbão
Enviado por Rangel Elesbão em 02/08/2018
Reeditado em 12/08/2018
Código do texto: T6407100
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