Famintos

Joe Topanga era um jovem bonito, um profissional que tinha como ocupação, usar o seu belo corpo para ganhar dinheiro. Estava acostumado a sair com todo o tipo de pessoa. Para ele era o dinheiro quem comandava o mundo. Quem tinha grana, ditava as regras e detinha o poder. O poder de ser seu dono e desfrutar seu corpo por uma noite, ou por quanto tempo fosse necessário para saciar sua clientela. Havia aprendido a usar seu charme e sua sensualidade, como uma poderosa arma para conseguir tudo o que queria, e de fato, sempre acabava conseguindo. De um pacato menino do interior magricelo e faminto, passou a ser um monte de músculos com um corpo escultural, que usava em seu favor. Ao descobrir os prazeres noturnos, deixou corromper-se pelo poder da noite, e que a luxúria penetrasse em sua alma e na sua carne. Depois disso nunca mais foi o mesmo. Ele havia se transformado em Big Joe.

Encostado na parede de um prédio numa rua pouco movimentada e na penumbra, abrigando-se da chuva que começava a cair, encostou-se em um canto esquivando-se do vento. Acendeu seu Lucky Strike, tragou-o e expeliu anéis de fumaça densa, sentindo seu gosto amadeirado em sua boca. Colocou as mãos nos bolsos da sua jaqueta de couro. E permaneceu onde estava, com o cigarro caído num canto da boca. Aguardando… Apenas aguardando…

Passavam das cinco horas da madrugada, quando o carro se aproximou lentamente, parando à beira da calçada. Joe que nunca conseguia distinguir a diferença entre os modelos de carros importados, só tinha uma certeza: fosse quem fosse, certamente era montado na grana. Caminhando em direção a janela do motorista, sorrindo no canto dos lábios, levantou a camiseta exibindo seu abdômen rijo, ao mesmo tempo em que o vidro baixava. Seus olhos brilharam ao ver quem dirigia o carro. Sua mão desceu até o seu cinto, e seus dedos pousaram no zíper da sua calça, onde começou a abrir e fechá-lo lentamente.

Big Joe aceitou a proposta imediatamente. Entrou no carro e observou atentamente a pessoa ao seu lado. Uma mulher elegante e perfumada, com cabelos bem penteados, coberta de joias e maquiagem pesada para disfarçar sua idade. Mas pouco adiantou. Deveria ter cerca de setenta anos, uma frágil e solitária senhora em busca de momentos prazerosos em sua cama grande e fria. Uma presa fácil, para suas segundas intenções após o sexo: encher os seus bolsos com tudo de valor que coubesse dentro deles. Era sua segunda especialidade, roubar seus clientes. E como uma aranha prestes a atacar, esperava a velha emaranhar-se e prender-se na sua teia, como uma mosca indefesa.

Após dirigir durante um bom tempo, e afastar-se do centro da cidade, chegaram a mansão, em que a velha falava sem parar durante todo o percurso.

Enquanto ela sentava-se no sofá, ele analisava o ambiente minuciosamente, para localizar objetos de valor. Virou-se e a viu sentada com um copo na mão, sorrindo e admirando-o com seus olhos famintos. Foi tirando lentamente a sua roupa, até ficar somente de cueca. Enquanto ela arfava de desejo, imaginou como seria o toque no seu corpo, na pele flácida, fofa e sem viço; nos seus olhos sem vida, poderia sentir o hálito acre exalando dos seus dentes amarelos, provavelmente deveria usar dentadura.

Em pé em frente a ela, Big Joe exibiu um falso sorriso de desejo e malícia, que costumava forjar para iludir seus clientes. Habilmente foi baixando sua cueca branca transparente, a jogou para o lado num empurrão do pé. Estava nu a poucos centímetros do rosto da velha, sentia seu bafo quente exalando e tocando sua pele, quando subitamente sentiu uma picada em seu pescoço.

Espantado, levou sua mão à nuca e viu um pingo de sangue manchando seus dedos. Olhou para a mulher sorridente sentada na sua frente, sentiu suas pernas ficarem bambas, e caiu de joelhos aturdido. Sua visão foi ficando turva, até que mergulhou nas trevas. Parada nas suas costas, estava uma idosa vestindo uma camisola, segurando uma seringa em sua mão trêmula e ossuda.

Big Joe tentou se mover, mas se sentiu impedido. Seu corpo estava pesado, foi abrindo seus olhos e aos poucos, conseguiu ver nitidamente um vulto o seu redor. Sentia-se zonzo e não sabia quanto tempo esteve desacordado. O rosto da mulher sorrindo foi o primeiro a surgir, girando ao redor da sua cabeça, como num sonho. Logo depois, outros sorrisos apareceram e o cercaram. Tentou novamente se mexer, mas não conseguiu. Só então, foi tomando consciência da macabra realidade em que se encontrava.

Estava nu, com suas pernas e braços amarrados em uma mesa; sobre uma branca toalha de linho. Em sua boca havia sido colocado uma mordaça, com uma bola de silicone. Por mais que se esforçasse em gritar por socorro, só conseguia emitir alguns gemidos. Sacudindo seu corpo para se libertar, conseguiu ver pelo canto dos seus olhos, algo terrível.

Uma fileira de pratos, talheres e copos estava contornando seu corpo. A mesa estava posta, e por mais estranho que pudesse parecer, ele seria o jantar. Desesperado, tentava se debater e gritar, mas estava imobilizado e silenciado com a mordaça. Seu corpo estava dormente e a boca seca. Havia sido levado para longe, na casa da velha. Ela que não representava perigo algum. Tão frágil e fraca, de aparência inofensiva. Estava certo que após fazerem sexo e deixá-la sem fôlego sobre a cama, conseguiria fazer uma limpa na casa. Como sempre fazia com suas clientes novas, velhas, ou com os homens que o procuravam quando suas mulheres iam viajar e se encontravam sozinhos em suas casas.

Joe Topanga, que havia saído do interior para tentar o sonho de viver na capital, havia se perdido em um labirinto de decisões erradas, até que sem alternativas, descobriu o submundo dos prazeres noturnos, e a podridão da natureza humana. Foi suportando pessoas nojentas e suas taras doentias, que conseguiu fazer sua vida, e se tornar o grande Big Joe. O melhor dentre os melhores profissionais da vida noturna. Agora preso sobre a mesa, rodeado de um grupo de idosos nus e asquerosos, vestindo apenas um avental de açougueiro, ele percebia que não havia como escapar.

A velha que o havia atraído até sua mansão, parou ao seu lado segurando uma taça e derramou o vinho que bebia no rosto de sua vítima incauta, fazendo-a engasgar. Um ancião gordo e com o corpo coberto de pelos (como um urso), e uma barba espessa branca, aproximou-se dele sorrindo. Ajeitou a sua boina de couro na cabeça, e gargalhou exibindo uma baba espumante acumulada no canto da sua boca. Imediatamente os outros idosos famintos se cercaram do corpo nu do jovem Big Joe, empunhando os seus talheres brilhantes e afiados.

Joe Topanga fechou os seus olhos. Sentia-se como uma mosquinha indefesa, preso em uma teia, rodeado de aranhas famintas.

FIM

Amigo Leitor,

Espero que tenha gostado do conto acima.

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Agradeço sua visita,

Abraços!

Rangel Elesbão
Enviado por Rangel Elesbão em 02/08/2018
Reeditado em 12/08/2018
Código do texto: T6407102
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