Eu tinha apenas 10 anos!

Eu tinha apenas 10 anos. Era apenas uma criança. Uma criança feliz, alegre, brincalhona e ativa. Saia com minhas amigas para irmos a pracinha brincar, andava de bicicleta na maior euforia. Éramos inseparáveis. Aos domingos sempre estávamos uma na casa da outra. De fato, todas nós éramos crianças felizes.

Certa manhã, uma manhã de domingo, quando estávamos nos divertindo como todos os domingos, um homem aparentemente muito gentil, se aproximou de nós. Começou a perguntar os nossos nomes, onde morávamos e quem eram nossos pais. De início achamos um tanto quanto estranho, mas com o passar dos minutos, foi nos acalmando, foi nos fazendo confiar nele.

Fomo-nos chegando mais próximo a ele e nos ofereceu alguns presentes. Os presentes ele traria caso não contássemos para nossos pais que estaríamos conversando com ele. Ficamos felizes por encontrar um amigo para conversar. Um amigo para nos presentear. E tudo o que ele havia pedido era que não contássemos aos nossos pais.

No próximo domingo de manhã, estávamos lá como de costume. Esperamos por ele. Depois de algum tempo, o homem todo sorridente chegou com vários embrulhos nas mãos. Ficamos todas felizes. O que será que ele havia nos trazido? Corremos até ele morrendo de curiosidade para descobrir o que eram os presentes. Ele era muito querido. Muito amável. Nos trouxe guloseimas, salgadinhos, pipocas e fizemos um piquenique na pracinha.

Já era hora, precisávamos ir embora. Caso contrário, passaríamos da hora e nossos pais iriam desconfiar. Durante todo o mês, o homem nos trouxera as guloseimas para o piquenique.

Naquela manhã, manhã de domingo, algo foi diferente. Até a hora de irmos para casa tudo estava normal. Brincamos, andamos de bicicleta e fizemos nosso piquenique. Quando chegou a hora de voltarmos, o homem me pediu para ficar mais um pouquinho, pois ele tinha um presente só pra mim. Fiquei lisonjeada, afinal, ele tinha me escolhido para um presente escondido das outras meninas. Fiquei.

Esperei pelo presente, mas ele falou que se encontrava dentro do carro e o carro estava estacionado atrás da pracinha. Fui até lá com ele. Chegando ao carro, me falou para entrar que ele daria lá dentro. Entrei, afinal, eu queria muito o presente. Enfim, ele pegou o embrulho nas mãos e eu já ia pegando toda feliz, quando finalmente ele me disse que só me daria se ele pudesse me acariciar, acariciar meu corpo.

Fiquei assustada, porém, eu juro que não tive forças para dizer-lhe que não. Aquele homem querido, amável se transformara em um monstro. Senti meu coração pulsar tão forte que parecia que iria pular do meu peito. Ligou o carro e eu comecei a chorar. Ele dizia que não precisava ter medo que tudo ia ser muito rápido. Levou-me para longe. Um lugar abandonado e sombrio. Eu só queria estar com minha mãe e meu pai. Por que aquilo estava acontecendo comigo? Eu queria apenas aquele presente.

Ao desligar o carro, ele com aquelas mãos imundas, aquelas mãos enormes começaram a tocar meu corpo. Chorava muito. Ele começou a ficar nervoso. Pedia-me para parar de chorar. Eu não podia. Ele ficara cada vez mais enraivecido. Não tinha forças para fazê-lo parar. Ele não parava. Pedi para voltarmos, já que havia feito o que tinha me pedido. Ele não me escutava.

Eu tinha apenas 10 anos. Por que aquilo estava acontecendo comigo? Por que ele estava roubando minha infância e minha inocência? Aquele monstro continuou como um animal devorando sua presa. Eu era a presa. Uma presa de apenas 10 anos. Um pesadelo estava acontecendo comigo naquele instante. Um pesadelo que parecia não ter fim.

Àquela hora parecia ter sido uma eternidade. Uma eternidade de muita dor, muito sofrimento. Foi um pesadelo sem fim. Acordei quando ele me empurrou do carro em um lugar abandonado. Estava com muita dor. Doía meu corpo inteiro, doía minha alma. Andava por aquela rua cambaleando e pedindo por ajuda. Um carro passou eu pedi socorro.

Acordei em um hospital com meus pais do meu lado, chorando muito. Choravam pelo que imaginavam ter acontecido comigo. Culpavam-se por eu ter sido tão inocente a ponto de acreditar em um desconhecido. Eu tinha apenas 10 anos.

PS: Pesado? sim, pesado! Esta foi a intenção. Um tema para refletir sobre o que está acontecendo com muitas de nossas crianças!

Viviani Borghezan
Enviado por Viviani Borghezan em 04/09/2018
Reeditado em 13/09/2018
Código do texto: T6438944
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