As ilusões da alma

Toc...toc...toc... O barulho dos saltos ecoavam pela rua escura e deserta daquela pequena cidade, numa noite quente e úmida de sexta-feira. Não sabia o que me esperava... todos diziam que havia algo de errado com ele, mas não me importei. Tinha a certeza de que nunca me faria mal, eu o amava...

Tic...tac...Naquela cozinha revestida de azulejos em tons vermelhos como sangue que corre nas veias inocentes, Christian cortava os pedaços de carne com o cuidado e a precisão que a prática lhe trouxera, como se cada corte fosse um regojizo que preenchia sua alma de um prazer extremo.

Com as mãos trêmulas e suadas fui em direção a campainha, mas exitei... uma sensação estranha percorreu por todo meu corpo, talvez algo de ruim acontecesse. Ignorei, apesar de meus pulmões encherem-se com a atmosfera pesada daquele ambiente, que me parecia quase claustrofóbico e sufocava-me. Estar na presença dele era muito melhor, os seus toques e olhares faziam com que minhas cicatrizes do passado fossem menos profundas. Uma sensação rasa de preenchimento me tomava.

A porta abriu e os nossos olhares se cruzaram, um profundo silêncio se instaurou. A feição enigmática, convidativa, o sorriso leve de canto de boca e seus olhos que fitavam incansavelmente minha silhueta moldada naquele vestido, que apesar de sensual não escondia minha carência e solidão me atraiam ainda mais para aquela envolvente situação.

Christian não disse nenhuma palavra, algo de errado? A comida ainda não estava pronta, ofereceu-me bebida, não estava acostumada a beber, mas taças e taças foram esvaziadas. O tempo passava e a sensação estranha de desconforto aumentava gradativamente. Havia algo de errado comigo. Ou seria com ele? Não. Ele era perfeito, tinha a melhor aparência, os melhores carros, levava-me para os melhores lugares, tinha os melhores amigos, tudo nele era "melhor".

O jantar terminou e aquele olhar profundo, numa adoração quase mortal, deixaram-me angustiada e já era tarde, talvez fosse melhor ir embora. Sim, eu tinha que partir naquele instante...

Fui impedida por ele que não aceitava que uma noite tão perfeita acabasse e com doces palavras e "eu te amo" fui convencida. E, em meus últimos momentos de lucidez, como num curta metragem, as lembranças vagavam por minha mente e perguntas vinham sem respostas. Por que me contentar com tão pouco? Por que escolhi a aparência e não a essência? Por que acreditei nesse amor de ilusões, quando sempre soube a verdade? Desfaleci...

Enquanto a lua vinha nos assistir, fora de meu corpo assisti a mais bela cena de amor enquanto ele conjurava as seguintes palavras:

- Meu amor, se não tivesse duvidado tanto ficaria ao meu lado por mais tempo. Agora quem preencherá esse enorme vaio? Você é um anjo e por isso fiz questão de devolvê-la para o céu e tentar te livrar desse mundo sujo e imundo, te livrar de pessoas tão cruéis, livrá-la de mim!

Isabela Orasmo / Vitória Barbosa - alunas do 2º ano B

Escritores Escola Suely (Colonial)
Enviado por Escritores Escola Suely (Colonial) em 09/11/2018
Reeditado em 09/11/2018
Código do texto: T6498337
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