*Que Não Separe o Homem o Que Deus Uniu.

Que não separe o homem o que Deus uniu

Mat. 19,6...

Penso ser óbvio que até o mais iluminado dos crânios humanos já deve ter tido a soberba de achar que sabe tudo ou que já viu tudo. Entretanto, a maioria de nós já deve ter dito, ao menos uma vez, esta frase: “Quando penso que já vi tudo, eis que me aparece mais essa...!”

Foi exatamente isso o que me aconteceu. Eu estava trabalhando no projeto da BR-230, no município de Oeiras, primeira capital piauiense, num ano que eu nem me lembro mais. Embora fosse zona da mata, havia duas casas de lados opostos à beira da estrada, mas não no mesmo alinhamento, porta com porta, como se costuma dizer.

Eu já tinha passado por ali outras vezes, oportunidade em que colhera informações com os moradores. Por uma casualidade, acabei sabendo que dois jovens dessas casas opostas tinham um namoro sério. Naquele dia, eu passava absorto em meus afazeres quando, por uma dessas inexplicáveis sutilezas, minha visão foi atraída por algum movimento pra lá de suspeito, debaixo de uma moita frondosa.

Eu juro (embora não goste de jurar) que não pretendia ir bancar o “abiúdo”, mas amiúde nossa mente ou, pelo menos a minha, deixou-me inquieto. Travou-se, então, uma contenda em meu coração, como se a ética e a prudência me impulsionassem para a frente, enquanto a curiosidade e a indiscrição me empurrassem para o lado. Sou forçado a dizer, embora constrangido, que as duas últimas venceram.

Pela minha falta de tato, o que não é novidade alguma, os que me dão a honra da leitura já devem ter sacado, pelo título e gênero declarado, o que acontecia ali.

E lá fui eu, pé ante pé, prendendo a respiração e evitando pisar em galhos secos. Eu queria ver de perto, sem atrapalhar os acontecimentos, sem ser um empata-namoro, do tipo que nem faz e ainda sacode a moita.

Por falar em moita, aquela parecia uma perfeita tenda de campanha, que já devia ter sido usada outras vezes, pois debaixo parecia varrido a caráter. Por sorte, eu cheguei pelo lado contrário da visão dos que lá estavam. Os contorcionismos eram surpreendentes, de tirar de vez o fôlego!

Os dois estavam como vieram ao mundo, nus em pele! Ele era negro, forte, pele reluzente e ela bem maior que ele, embora mais delgada. O enrosco não era desse planeta! Estavam tão agarrados, que mais pareciam estar dançando um xote, com movimentos sincronizados, cabeça com cabeça, boca com boca, língua com língua, barriga com barriga, pele com pele, corpo com corpo. Por mais que ela se debatesse, parecia-me claro que suas forças cediam lentamente, diante da impetuosidade dele. A penetração se fazia evidente, a julgar pelos movimentos compassados, contínuos e ofegantes, até que, finalmente, ela cedeu, vencida.

Desculpem-me a expressão, mas ele a “comeu” deliciosamente, na consumação de um ato de vida e morte. Que rabo! Foi o último a ser possuído e que rabo...!

Como diz a Bíblia, já não eram dois, mas apenas uma só carne e o que Deus uniu, não seria eu, homem intrometido, que iria separar.

Depois de algum tempo, ele saiu arrastando-se e atravessou a estrada, realizado, disfarçando, como se nada tivesse acontecido...

Eu vi e conto.

PS.: Foi assim que vi uma cobra preta engolindo uma baita jararaca no sertão do Piauí... E depois quem tem a mente poluída sou eu! Marminino!...