ABDUZIDO?

Lá estava eu correndo desesperadamente segurando em uma mão um saco cheio de sapos e na outra um celular sem área, mas que me servia como lanterna.

Não sabia do que exatamente estava fugindo, mas o medo tomava conta do meu corpo. Estava fazendo uma coleta para um trabalho de universidade, coisa relativamente simples – contar quantos sapos e quais espécies seriam encontradas naquela área de mata, no sopé do lado oriental da Serra Grande. Mas agora estava ali, me jogando contra arbustos e galhos, ofegante.

Não sei se foi aquele som, aquele zumbido infernal semelhante a um enxame de abelhas que me pôs a correr ou se foi aquela luz vermelha–alaranjada que brilhou de repente sobre a minha cabeça, ofuscando meus olhos por alguns instantes.

Tive uma sensação de que estava sendo perseguido. Como era de noite, apenas conseguia ver aqueles pequenos vultos se aproximando rapidamente em minha direção. A fraca luz do celular apenas me ajudava a evitar trombar com os galhos mais grossos. Desejava mais que tudo chegar à clareira, onde estava o meu carro e sair dali o mais rápido possível.

Quando finalmente alcancei a clareira, senti uma forte pancada na cabeça. Acho que bati a testa em algum galho mais grosso. Minha visão ficou turva, senti a pressão baixar. Minhas pernas ficaram bambas e caí de joelhos no chão. Via a sombra do meu carro ali, a alguns passos de distância. Aquela maldita luz vermelha–alaranjada me ofuscava novamente. Senti duas figuras humanoides baixinhas se aproximarem. Faltavam-me forças para se levantar. Caí de cara no chão. Meu último pensamento antes de desmaiar foi: “Não acredito que estava fugindo desses moleques!”

Acordei com uma enorme dor de cabeça e um gosto metálico muito azedo na boca. À medida que o gosto diminuía eu ia lentamente recobrando os sentidos. Estava dentro do meu carro. O saco com os sapos sumiu e eu estava todo arranhado. Aparentemente não havia nada de errado comigo e nem com o carro. Quando tentava me lembrar do que tinha acontecido comigo sentia uma pontada forte no meio da testa. Por alguns instantes pensei: “A pele daqueles garotos era muito pálida... aquelas cabeças eram muito desproporcionais ao corpo...” Contudo, quanto mais tentava lembrar, mais forte era a pontada e começava a bater uma forte angústia no meu peito: “Será que eu teria sido abduzido?!”.

Afastei aqueles pensamentos da minha cabeça e quase que imediatamente me senti melhor. Dei a partida no carro e segui rumo à fazenda em que estava hospedado. Melhor ficar calado. Se me perguntarem algo, direi que caí em uma das armadilhas e perdi as amostras. Prefiro ficar com a fama de incompetente ocasional que a de louco.

Edilson Santos, 25/05/2015

São Cipriano

Manassés Abreu
Enviado por Manassés Abreu em 10/03/2019
Reeditado em 20/03/2019
Código do texto: T6594409
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