O Esquartejador (Penúltimo Capítulo)

Deixei o tempo passar só para ver como as coisas caminhariam. Por falta de provas as investigações da polícia deram uma estagnada, porém, eu poderia resolver toda a situação; não à maneira deles, mas sim do meu jeito. Precisava pensar em como atrair o verdadeiro assassino para perto de mim, no entanto seria arriscado. A hipótese de servir-me como isca estava descartada, porque eu já sabia que o desgraçado tinha preferência por matar mulheres e não homens, muito provavelmente por elas serem mais frágeis e não terem força o suficiente para revidar, isso se os crimes fossem limpos, é claro.

A sorte estava lançada. Passei os últimos dias trabalhando bastante em um plano perfeito, ao menos para mim ele era. Era tarde da noite, alguém bate a minha porta, faço silêncio. Aproximo-me e dou uma espiada pelo olho mágico e vejo que são os dois investigadores, abro a porta e cumprimento lhes apertando as mãos.

- Olá, que surpresa, não esperava receber os senhores aqui. – Disse, tentando disfarçar o nervosismo.

Saavedra deu uma geral com os olhos em todo o apartamento, estava uma bagunça só. Passei os dias estudando sobre o maldito assassino e me esqueci das tarefas de casa.

- Você mora aqui há quanto tempo? - Ele perguntou.

- Três anos, se eu não me engano, sou ruim em datas.

Os convidei para entrar e sentar. Ofereci café, mas recusaram, eles só queriam me fazer algumas perguntas. O interrogatório durou mais de uma hora. Questionaram-me sobre a minha rotina, meus horários, meus hábitos, se eu gostava do meu trabalho, se estava satisfeito com ele, e é claro, se eu tinha inimigos. Não menti em relação a isso, só omiti quando me perguntaram sobre a Patrícia e a Rose. Os dois queriam saber de mim tudo sobre elas, mas não disse muita coisa. O Duílio era um sujeito legal, diga-se de passagem. Magro, calvo, usava óculos e era às vezes brincalhão. Já o Saavedra era o oposto. Sério e bastante observador. Enquanto o Duílio me fazia às perguntas olhando diretamente nos meus olhos, ele ficava em pé andando pelo apartamento, fuçando em tudo, parecendo procurar alguma prova que comprovasse que eu era o responsável pelo sumiço das moças, na verdade eu era, em parte, e essa situação estava me deixando péssimo. Finalmente foram embora. O Duílio parecia satisfeito até então, entretanto, o Saavedra, nem um pouco, o que me fez ficar um tanto quanto preocupado.

O dia amanheceu e eu despertei de um sono nada bom, mal consegui cochilar, dormir, era algo improvável no momento. A arapuca estava pronta. Se o assassino veio até mim há poucos dias, seria fácil atrai-lo, mas para isso precisava me armar. Decidi desaparecer por uns dias, uma semana ou um pouco mais. Era mais do que necessário tirar um tempo longe de todo burburinho para arejar as ideias. Iria visitar minha pobre e doente mãezinha, coitada, um câncer estava lhe comendo tudo por dentro, ri baixinho.

Fernando F Camargo
Enviado por Fernando F Camargo em 21/03/2019
Código do texto: T6603461
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