VALE DAS FLORES - CARTA III

Carta III

Tailândia, 09 de março de 1958

“Juan,

Meu filho forte e corajoso, que bravamente decidiu se entregar em pela defesa do nosso povo em busca de liberdade e sabendo que corre riscos diários, mas não desistiu da luta, não obtive sua carta.

Perdoe sua mãe, já estou de idade avançada em quase sessenta anos e minha ansiedade sempre fala mais alto. Sem falar que estou tendo dificuldade de lembrar-me de algumas coisas por causa da fome que está se tornando crescente. Ontem mesmo antes de te enviar a carta eu quase desmaiei no meio do caminho. Graças aos deuses seu pai tinha guardado um pouco de comida para mim.

Outras três pessoas desapareceram e formavam uma família inteira. Alguns estão suspeitando que eles estavam indo até a floresta ou tentavam chegar ao frigorifico do supermercado abandonado para procurar comida e ao invés de achar, são achados pelos animais. Fora que o rumor do ataque ao nosso campo de refugiados tem se tronado crescente já que foi encontrado um homem perto da floresta com um tiro na cabeça e todo aberto. Provavelmente os animais o comeram após algum rebelde atingi-lo.

Seu pai está muito temeroso com isso e com o que irei te relatar logo e deu a ideia de nos mudarmos para o Vale das Flores, onde poderíamos muito bem viver sozinhos ali sem essa ameaça constante para nossa sobrevivência, mas acontece que não podemos sair sem os outros refugiados, pois os poucos soldados que ainda fazem a nossa proteção poderiam nos taxar de rebeldes e nos executar ali mesmo. Não queremos dar essa suspeita, ainda mais depois desses paradeiros recentes e do pai de família encontrado morto.

Sobre o outro medo do seu pai (meu tambem), os soldados estão pensando em recrutar algumas crianças aqui para combater, já que os pais estão velhos, doentes, com fome, cansados e precisam dar continuidade a geração. Eles pensam: “se levarmos os pais, não teremos famílias para serem geradas no futuro, pois a maioria ainda está com suas esposas. Eles precisam dar sequencia a reprodução de filhos. Recrutemos as crianças, as ensinaremos a atirar e poderão muito bem atacar na retaguarda, já que são pequenas e os rebeldes nem saberiam de onde viria o tiro”.

Isso é loucura! Nunca eu deixaria que levassem nossa Eleonora para a guerra, porque eles não estão querendo saber se é homem ou mulher. Se for criança, eles querem treinar. Graças aos deuses ainda nada disso aconteceu, porém é questão de tempo.

Outra coisa, ninguém está conseguindo obter respostas dos seus entes queridos que estão na guerra, então uma simples carta sua já seria o alívio para muitos aqui.

Desejamos que os céus te deem a bravura de um leão, a força do touro e a inteligência das najas.

Com amor,

Sua mãe Jadhina.”

Continua...

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 17/04/2019
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