A MISTERIOSA VILA 14 - COOPTAÇÃO DE ASGARD

Ouvia e observava atento a seus movimentos sutis e leves, sua expressão demoníaca demonstrava seu poder. Sua voz grave descreveu pausadamente a transformação de Asgard.

No conflito em Baltimore onde meu pai e Asgard lutaram juntos,os guerreiros da orda do maligno, observando a tenacidade e bravura de Asgard em ação, o fizeram prisioneiro e o levaram a presença do Capitão. Preso e acorrentado nos porões escuros e fétidos da fortaleza, o maligno o subjugou utilizando sua poderosa força sobrenatural. As qualidades de combatente, o conhecimento dos bravios mares do Norte, eram condições imperiosas e uteis aos planos do Capitão, ele o queria do seu lado. Então, em uma noite, o maligno ordenou que levassem  Asgard até sua presença.  As criaturas "soldados”, desceram aos porões, retiraram as correntes dos seus pulsos, deram as boas vindas em nome do grande mestre. Uma dessas criaturas disse.

 

- O capitão respeitosamente quer vê-lo.

 

Na presença do Capitão ele rejeitou a bebida, mas um dos soldados educadamente bebeu também uma dose juntamente ao mestre, isso o convenceu a beber. Com desconfiança, Asgard sorveu o que pareceu ser um vinho, de sabor bastante marcante. O conteúdo daquela bebida selou o destino dele, a partir daí Asgard lhe serviu com fidelidade e admiração, tornando-se o maior e mais respeitado guerreiro da legião.

Eu, nada falava nada, apenas ouvia sua voz. Em um dado momento ele se virou para Asgard e disse

 

- Preciso que conduza Aros de volta, e como tenho alta estima a você meu guerreiro, permitirei que o rapaz apenas a veja, e isso é algo que não têm precedentes. 

- Tragam-na!

Minha boca estava como um deserto empoeirado, meu sangue fluía como um córrego lamoso a ponto de congelar, o coração acelerado como o de um felino, a espreita de uma presa.

Após alguns agonizantes minutos, surge em minha frente vestida como uma rainha, minha amada Isabelle. Fiquei entorpecido, havia uma chama dentro do meu coração que jamais se apagaria. Minha vontade era de tomá-la em meus braços, beija-la e acordar daquele pesadelo.

Mas, a realidade é cruel como brasas por baixo das cinzas. Quando ela se virou para mim, levitei, senti que o chão desaparecera sob meus pés, meu corpo passava de gelado a fervente, minhas mãos se liquefaziam. Seu olhar embora vazio, não perdera completamente aquela expressão, de meiguice e inocência, era ela, a mulher que eu amo.

Aquele monstro miserável se apoderara dela e certamente a transformaria em algo terrível, assim como fez com Asgard. Seu olhar vazio denunciava sua alienação, sua subserviência, mas ela ainda era a moça dos olhos verdes.

Morri mil vezes dentro de mim mesmo assistindo o triunfo do mal. Meu esforço para me manter em pé, era descomunal.

Inevitavelmente, nossos olhos se cruzaram e o encontro dos nossos olhares deixaram escapar uma fagulha de desejo e compreensão, senti como se tivesse escapado de garras invisíveis, assomei que aqueles olhos não perderam completamente o sentimento e a ternura.

Seus lábios pálidos e entreabertos davam a clara impressão de que havia algo a me dizer, porém, permaneceram imóveis. Uma mistura de medo, ódio e incertezas me inundaram. Involuntariamente minhas pernas deram um passo em sua direção e gritei:

- Isabelle, preciso de você... Nossas vidas não podem acabar desse jeito.