XANINHO, O GATO PRETO ASSASSINO

    Xaninho é o nome que ganhou um gatinho preto que apareceu num povoado pobre do interior. Dona Rita o acolheu com pena do animalzinho e o colocou debaixo do alpendre numa caminha improvisada com caixa de papelão. Alimentou o bichano com leite e um pouco de ração que mandou comprar na venda de seu Manoel. As crianças logo se animaram com o gatinho que mostrou ser bem simpático ao ficar roçando sua calda nas pernas delas. Alí, ultimamente, não existia gato algum, o último que por alí vivia morrera, razão de dona Rita ter se agradado desse e lhe dado logo um nome. Passou a ser a diversão da meninada que gostava de animais, além de cavalos, bodes, porcos e galinhas, agora tinham mais um para agradarem.

    Alguns dias se passaram e Xaninho vai tomando forma mais avantajada, a alimentação a ele oferecida pela velha senhora o deixava forte e robusto, era admirado por todos  os moradores da localidade. Porém, um certo final de tarde, já com a noite por chegar, um dos meninos chegou gritando em casa dizendo que Xaninho havia rosnado para ele numa atitude estranha, o que causou surpresa, pois o gatinho era bastante amável. A mãe do pirralha foi então até a casa de dona Rita para se inteirar do fato, já que o gato era de sua inteira responsabilidade. Chegando lá conversou com a mulher que lhe informou sobre o desaparecimento do pequeno felino. Procura aqui, procura acolá, ninguém deu conta de Xaninho, como já era noite deixaram para procurar no dia seguinte.

    Quando o sol raiou ouviu-se um grande reboliço na venda de seu Manoel e todos para lá correram em busca de notícias sobre o que estava acontecendo. Deram com o comerciante caído ao chão desfalecido e seu estoque de ração todo espalhado. Socorreram imediatamente o homem, deram-lhe um pouco d'água após ele recobrar os sentidos e indagaram sobre o ocorrido. Bastante assustado ele quase não conseguia falar, mas ouviram um relato impressionante do comerciante que disse ter visto um gato preto bastante grande a rosnar para ele assim que se levantara para abrir a venda. O felino abocanhou os sacos de ração e com a interferência dele tentou lhe atacar, sendo repelido com um cabo de vassoura, o que de nada adiantou, foi quando perdeu os sentidos e nada mais viu.

Passados alguns dias Xaninho apareceu dócil como era antes, mas as crianças ficaram com um pé atrás depois do que aconteceu com um dos meninos e agora com essa história de seu Manoel, o que algumas pessoas não acreditaram. A calma, no entanto, voltou a reinar naquela região pobre, Xaninho não oferecia risco nenhum e as brincadeiras com ele retornaram. Mas teve uma noite que dona Rita notou a falta do gato, por sinal era uma noite de lua cheia, ele costumava já estar deitado na caixa que servia de cama, mas nessa noite não fizera isso. A mulher procurou alí por perto e não encontrou, deixando para o dia seguinte, já que ele estava bem grandinho e sabia se cuidar.

Na manhã seguinte novo reboliço na venda de seu Manoel, o povo correndo prá lá e prá cá, gente chorando, gritando, a maior confusão. Encontraram o comerciante caído com bastante arranhões e o pescoço sangrando. O homem estava morto. A Polícia foi chamada, o corpo foi removido, a viúva informou que ia fechar o comércio e no fim das contas nada foi apurado, não chegaram a conclusão de quem foi o criminoso. Nesse dia Xaninho não apareceu, veio aparecer três dias depois na maior "cara de pau" e dócil como um animal de estimação qualquer. A grande maioria dos moradores do local colocaram a culpa no gatinho, agora um pouco crescidinho. Dona Rita quiz se desfazer dele mas ficou com pena, mesmo as pessoas pedindo para que ela desse um fim nele.

Alguns dias depois a dona do gato estava na janela do alpendre e viu a lua cheia sair de trás de uma nuvem. Olhou para a caixa onde Xaninho dormia e verificou que ele não se encontrava. Já era início de noite e ela teve receio de sair a procurá-lo, mesmo assim ficou pensativa e preocupada, imaginou aquele gato em tamanho descomunal tentando atacá-la, mas foi apenas imaginação, isso não poderia aconteceu com ela. Quando virou-se para voltar às suas atividades domésticas, quem estava alí do seu lado? Ele, Xaninho, bem robusto, corpo bem além do que ela estava acostumada a ver.

Amanheceu e o pessoal das redondezas estranharam dona Rita não estar por alí varrendo o terreiro como costumava fazer todas as manhãs. Notaram a janela aberta e quando olharam para dentro da casa viram o corpo da mulher todo arranhado e com o pescoço sangrando. Estava morta. Na caixa de papelão Xaninho alí estava, bem quietinho e miando como se estivesse com fome. Um golpe certeiro com uma estaca acertou a cabeça dele por um dos homens que alí chegaram e o bichano deixou de viver. A calma voltou ao local por muito tempo.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 01/07/2019
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