Cachorro Infernal

Para o incidente que estou prestes a descrever, peço que, os senhores e senhoras leitores ministrem bem a atenção e que, de fato, não julguem o comportamento de minha parte.

Bom, estava um lindo dia, despertei as 5:30h da manhã, fiz minhas necessidades físicas, incluindo pôr, não o magnífico sol, pois tinha acabado de amanhecer, mas sim comida para minha maldita cadela chamada Lua.

A mesma tinha uma conduta extremamente irritante, latia para tudo e todas as pessoas que encontrava e convivia com ela, desse modo, a idiossincrasia da cadela acabava afetando em mim, não me estirava bem, nem jantava, nem sequer tomava meu banho diário.

Perpassava dia e mais dias, e nenhuma esperança da cadela mudar de comportamento, atingiu o que estava esperando com muita angústia, estava no instante de sacrificar a desalmada.

Posto isto em pauta, planejava meus próximos passos a fim de concluir meu objetivo mais genuíno, era tanto ódio latente que não lembrava de nossos momentos tão brilhantes, quando a achei na rua pela primeira vez, o quanto os olhos dela cintilavam e contrastavam com seu pelo branco e ameno, todavia isso permanece no passado e devo alcançar minhas metas, abater a cadela.

Olhava para cima, o céu apresentava um contraste de azul-escuro até a cor branca, sabia que eram 18h da noite, e ainda não consegui encontrar o asqueroso mamífero, o que era pra ser uma procura já estava sendo uma perseguição injusta com a minha pessoa, estou na idade de que qualquer imprevisto vira algo grave, melhor dizendo, não me aguento em pé.

Senti, por um minuto sua presença, ouvi um barulho de patas na direção norte de minha rua, avistei um vulto branco passando rapidamente entre as plantações de trigo vizinhas, sabia que era a Lua.

No entanto, eu queria entender mesmo era de uma coisa apenas, como o animal suspeitava que se encontrava em perigo, fui bem convincente. Retomei a minha busca de forma mais silenciosa, tão suave a sequência da minha marcha que estava colocando só uma parte de meu pé direito.

Anoitecendo, regressei a minha moradia para descansar, acabei repousando como uma criança depois de passar o dia brincando, abri os olhos, estava lá aquela inoportuna cadela na minha janela espiando meu dormitar.

Levantei com todo meu ódio guardado, agarrei prontamente o pescoço dela, se debatendo ela teve que reagir, sendo assim, dentou minha mão até sair o primeiro espirro de sangue, me debati de dor, tive que agir, peguei minha pequena adaga guardada na minha bancada, atingi a Lua com força no seu pequeno coração.

Estabacou-se, de imediato em meus braços, primordialmente estava feliz e realizado por ter tirado o animal infernal de minha vida. Apesar disso, tinha que encerrar o assunto e colocar em algum local que os outros não encontrariam de maneira alguma.

Coloquei meus neurônios para trabalhar, e achei a maneira mais fácil de me livrar da cadela, me posicionando para fora de casa, levei o seu corpo para as plantações de trigo de meus vizinhos, cavei com tanta vontade até que enfim consegui um buraco que cabia o infernal animal, arremessei-o para dentro e tampei com toda terra que conseguia no momento.

Porém, foi passando dia e mais dias, escutei aquele mesmo ruído, o seu latido, tinha certeza que era ela, pois que tinha o mesmo timbre e a mesma maneira estridente de irritar.

Não aguentava mais o ganido do demônio em forma de cachorro, no mesmo dia ouvi um barulho na porta, fui olhar pela fresta da mesma, eram dois guardas para fazer a revisão mensal da casa. Me atentei com todas as palavras e expressões que estavam transpassando, era isso, estavam querendo zombar de mim, sabiam da morte e querem que eu mesmo conte.

Me reprimi, fui simpático como um simples camponês, ofereci um chá da tarde, sentamos. Um guarda se levantou, agradeceu a hospitalidade e atentou ao outro que estavam na hora deles partirem.

Mas eu não me contive novamente, o sentimento de culpa, os latidos e os ruídos na parede me assombravam, me levantei também e disse:

—Vocês estão me ludibriando, sabem de tudo que aconteceu nessa casa!

Os guardas assustados com a minha encenação perguntara o que estava falando naquele momento, me apresentei a falar novamente:

—Parem de ser tolos, olhem as pegadas de minha casa até as plantações vizinhas!

Fomos sem tardar até o plantio, apontei onde estava o animal morto e começaram a cavar rapidamente pra achar essa maldita cadela, extraindo o último pedaço de terra já seco do local fiquei abismado, a Lua não estava ali.