Injustiça

O silêncio foi à resposta. Não que fosse mudo, ou tivesse vergonha de falar. Não confirmava, não negava, mas demonstrava um sentimento de ódio profundo. Não tinha forças para gritar? Tinha. Mas o silêncio bloqueou as palavras, que minutos antes socavam seus lábios. Depois de tanto esforço entenderam o motivo da paralisação. O movimento foi aos poucos influenciando cada palavra no momento de sua metamorfose verbal. Era sempre assim. Algumas decidiam serem faladas, outras escritas, outras gesticuladas, mas todas tinham de certa forma o direito de escolha. As que seguiam o caminho largo da fala, foram congeladas pelo silêncio que pela primeira vez não foi um tempo de sossego, mas uma inquietação interior. Não era acomodação, era um silêncio de protesto. Dirigiu seu dedo ao chão e escreveu uma palavra. O homem que acabara de ser acusado de roubo estava rodeado de homens corruptos. Estes não respeitavam seu momento de silêncio. Os policiais torturavam-no, os jornalistas faziam perguntas de acusação, os políticos aplaudiam a “segurança” do país. Quem passava por perto fazia questão de se esconder, para não precisar enfrentar o poder contra aquela injustiça. Era a luta de um silêncio de protesto contra o da acomodação. Acusado x Telespectadores. Os “juízes” apenas gritavam. Era a única coisa que sabiam fazer. Era uma ditadura interior própria, onde nem suas palavras tinham poder de escolha. Uma criança que passava por aquela rua puxou a mãe para ler o que o homem havia escrito. “Fome”. A criança decidiu compartilhar o silêncio e dirigiu seu pequeno dedo a areia. “Falem alguma coisa.”