Evidência A

"Fui contratado por uma empresa reconhecida no meio da robótica com o intuito de desenvolver um sistema que evitasse comportamentos auto-destrutivos entre as máquinas. Os robôs já desempenham milhares de atividades na sociedade, são responsáveis pela produção de alimentos, deslocamento, limpeza, linhas de produção dos mais diversos produtos, etc... Devido a essa ampla gama de atividades, muito distintas uma das outras, a intenção foi desenvolver um software versátil que respondesse bem às mais diversas situações.

Muitas vezes os protocolos que regem o comportamento do robô não preveem determinadas situações de risco, o que pode acabar causando prejuízo ao consumidor. Um exemplo foi noticiado na semana passada e virou piada nas redes sociais:

Uma casa pegou fogo devido a um curto nas esteiras do lixo da cozinha. A família conseguiu escapar mas Kamile, sua assistente domiciliar, foi filmada pelas câmeras de segurança sendo "queimada viva" enquanto aspirava o pó da sala, impassível, e tocava uma playlist de música clássica. A cena tragicômica foi compartilhada milhões de vezes. O robô teve perda total e, mesmo com todo seu esforço de limpeza, a sala ficou só o pó, com o perdão da piada.

A única solução para esse tipo de problema seria milhões de linhas de código antecipando todos os possíveis sinistros (imprevisíveis) e respondendo de maneira satisfatória a eles. Colocar a própria máquina para aprender por si mesma seria assumir um prejuízo milionário decorrente de uma série de "tentativas e erros" que duraria para sempre. Esse seria meu trabalho se eu não fosse, modéstia à parte, genial.

Minha proposta de solução foi simples: um sistema de dor. Os detalhes técnicos não importam muito mas, em resumo, coloquei uma fina película de receptores cobrindo toda a máquina. Os estímulos captados pelos receptores são todos direcionados a uma central de processamento onde são comparados aos limites de pressão, temperatura, etc, que a máquina suporta. Quando um estímulo excede algum desses limites a resposta da máquina também é simples: afastamento.

Qualquer semelhança com o ser humano não é mera coincidência, haha!

Quando o robô não consegue se afastar de forma a assegurar sua integridade ele emite uma série de sinais sonoros a partir de um banco de dados que eu por acaso já dispunha. O pedido de ajuda soa bem convincente, vocês tinham que ver!

Não tem praticamente nenhuma diferença entre a dor artificial de um robô e a dor real de um homem. Ambas se resumem a estímulo, corrente elétrica e resposta de aversão. Quando um robô está incapaz de se mover e você enfia uma lâmina rasgando sua estrutura de alumínio e, consequentemente, sua película de receptores, ele grita de dor e pede que você pare. É muito realista.

Com os robôs bípedes é ainda melhor. Saem correndo e cambaleando, gemendo e gritando. O único problema são determinados "pontos vitais" que se danificados acabam comprometendo todo o "sistema nervoso". Ainda tenho que resolver isso.

O software ainda está em fase de testes. É um estudo bem divertido e até viciante.

Quem sabe algum dia não possamos "mecanizar" nosso prazer de torturar pessoas, com vítimas que sentem mas não morrem, só sofrem, eternamente..."

------Evidência A------

Esse texto foi encontrado no computador do sequestrador, no interrogatório ele revelou que foi publicado dois anos atrás num fórum da deep web onde torturadores divulgavam fotos e depoimentos de seus crimes. As vítimas foram resgatadas e se encontram em estado grave, tiveram a pele do rosto, das costas, barriga e pernas arrancadas, estavam sendo mantidas vivas por meio de respiradores e alimentadas por sondas.

A empresa detentora dos direitos do software citado preferiu não se manifestar sobre o caso.

alizu
Enviado por alizu em 01/06/2020
Reeditado em 01/06/2020
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