O Sonho (19/09/2017)

Minha cabeça dói. Meus olhos ardem, faço um esforço para conseguir abri-los.

Onde estou?

Não havia cores, linhas, curvas. Não havia nada. Sentia meu coração acelerar,cada batia fazia meu corpo todo tremer de uma forma dolorosa, minha respiração começa a ficar irregular.

-Oh, agora não. Crise pânico não.

O nervosismo por não saber onde estava, tudo o que tem a minha volta é um branco uniforme, meus olhos ardem somente de pensar nessa imensidão. Apoio minhas mão no chão. Que obviamente também é branco.

-Que ironia, será que morri?

Levanto-me com dificuldade, meu corpo lateja a cada mínimo movimento que faço.

Começo a andar em linha reta, sabe-se lá onde eu iria parar. Apenas decidi andar até achar algo. Não sei dizer quando tempo estou andando, mas já não sinto minhas pernas.

Eu deveria ter feitos mais exercícios, parar de fumar seria uma boa também,pois meu pulmão grita em desespero. Minha visão começa a ficar embaçada, não consigo enxergar muito a minha frente, o que é estranho pois já não uso mais óculos. Meu coração começa novamente a batida punk.

TUM - TUM! TUM - TUM!

Mais a frente vejo algo se mover, minhas pernas começam a fraquejar devido o esforço do meu coração. Caio sob meus joelhos e sinto a dor abafada subir por toda a minha perna.

- Tudo bem com o senhor?

Uma voz fina e infantil vinha de uma pequena garotinha em minha frente. Não consigo ver seu rosto de forma nítida. Vestia uma camisola até os pés, que por sinal era amarela. Minha visão começa a voltar e consigo focar o rosto da criança.

-Como se chama?

-Isabele – Disse a garota com a voz um pouco mais ríspida, seus olhos azuis me deixam incomodado, fundos de mais para uma criança.

- Sabe onde estamos? – Pergunto à pequena enquanto tento falhamente me levantar, parecia que estava carregando sacos de cimento em minhas costas.

A menina me fita com um olhar de desdém, notei então que seus cabelos são negros, caiam por seu ombro indo até sua cintura. Deveria ter no máximo 10 anos de idade.

- Você é engraçado, Tom.

Foi então que senti um calafrio subindo pela minha espinha, um calafrio doloroso e lento, sua voz estava diferente, cuspia as palavras como se estivesse com nojo. Como ela sabe o meu nome?

- Não me lembro de ter me apresentado. E também não possuo lembranças de você, garotinha.

Isabele puxa levemente a sua camisola para cima e se ajoelha em minha frente,coloca suas mãos pequenas em repouso sobre suas pernas.

- Você esta no limbo, Tom. Sabe o que é isso? – A pequena sorria com o canto

da boca, do que diabos ela estava falando? – oohh, não faça essa cara e não tente fugir de mim, meu bem – falou passando de leve sua minúscula mão pelo meu rosto, sua mão é gélida e me faz sentir uma agonia a ser tocado. Tento falhamente me afastar, mas havia algo me prendendo naquele chão.

- Não estou entendendo – foi tudo o que saiu da minha boca naquele momento,sentia meu coração bater rápido, e minha voz começa a falhar.

Algo me incomodava ainda mais do que aquela situação dela. E isso era o que tinha atrás de pequena Isabel. Era uma pilha, algo que não consigo identificar.

A morena segue meu olhar até a pilha enorme, volta para mim com um olhar presunçoso e responde.

- Lindo, não é mesmo? – TUM, TUM! TUM, TUM! – eu que fiz - TUM! TUM! TUM –

deu muito trabalho, mas vale a pena – percebo então que sua camisola estava manchada de vermelho, e que todo o seu rosto estava coberto de vermelho.

Era sangue.

TUM, TUM!

- Vamos acabar logo com isso não é mesmo?

Com um movimento leve e astuto, ela cava uma adaga em meu estômago. Aproxima- se do meu rosto, praticamente me abraçando. Era possível sentir o cheiro de sangue em sua roupa.

A dor começou lentamente, o sangue quente escorria pelo chão. E então ela começou a mover a faca.

-Fique calmo, logo a dor vai passar – falava a mesma como se estivesse cantarolando.

Foi então, naquele momento em que já estava praticamente morto, que eu vi.

Não tinha mais forças para entrar em pânico. Então apenas observei a pilha.

A pilha composta de corpos ensanguentados.

A pilha composta por várias versões de mim mesmo.

...

Minha cabeça dói. Meus olhos ardem, faço um esforço para conseguir abri-los.

-Onde estou?

Não havia cores, linhas, curvas. Não havia nada. Sentia meu coração acelerar,

cada batia fazia meu corpo todo tremer de uma forma dolorosa, minha

respiração começa a ficar irregular.

...

caroltell
Enviado por caroltell em 08/07/2020
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