Avalanche de terror

Avalanche de Terror

Nas florestas ao redor do Palácio Leonor caminha logo ao amanhecer com as filhas de D. João VI, lindas e sapecas, uma rápida e deliciosa definição das pequenas princesinhas, assim ele gostava que as chamassem.

As viu crescer desde a amamentação, cuidava delas como filhas, mas não poderia chamá-las assim jamais, guardava apenas em seu coração.

No almoço ajudava-as a se alimentar, e depois de muitas brincadeiras as vestia após o banho, deitavam-se cedo, demoravam a dormir e por vezes contava histórias para entretê-las.

O casal real gostava de admirá-las em suas folias ao redor do Palácio, em outros momentos olhavam para os filhos em suas aulas de equitação, Afonso estava fazendo um ótimo trabalho.

Havia paz nas terras até aquele dia.

O amanhecer com muito sol e calor trouxe uma notícia triste que logo correu pelo reino, Leonor não acordou para cuidar das crianças, levá-las ao passeio matinal ou cuidar de seus banhos e descanso. Deus a havia chamado para cuidar do Reino eterno que tanto falavam em orações incessantes do povo.

Sem marcas pelo corpo, sem brigas ou discussões deram conta de que apenas havia chegado sua hora, se foi sem deixar espaço para pensarem em como fazer dali por diante, pensariam rapidamente em como substituí-la imediatamente.

O choro das crianças foi sincero, deixaram-nas a fim de que não se estressassem ainda mais. No mesmo dia apresentou-se Regina, já conhecida por seus doces maravilhosos feitos na cozinha real.

Três dias depois um anoitecer que passou a incomodar o tranquilo reino quando encontraram Afonso atrás do estábulo com a garganta cortada, estava caído ao lado do cavalo mais precioso do Rei.

Fato por demais estranho, pois ele era um homem tranqüilo, não havia motivos para o acontecimento, noivo, prestes a se casar amava Dani e entre as aulas de equitação e seu casamento já próximo ajudava-a nos preparativos.

Na manhã seguinte as fofocas eram como penas ao vento julgavam o falecido como se fosse um dos grandes amantes da história e que tivera uma morte merecida, sem nada provarem é claro.

Outros cinco dias se passaram o povoado já estava acreditando na paz novamente, foram dois casos seguidos, mas são coisas do destino.

Mas, um grito foi ouvido em meio à floresta, muito alto, parecia forçado demais, logo correram em direção ao local, Jair, Fernando e Elieser que retornavam os gritos de desespero como se fosse um eco de uma voz que fora calada naqueles instantes, eram dois corpos, mas a voz era masculina, não eram conhecidos na cidade, ao menos por eles três.

Cinquenta metros adiante um cavalo amarrado em uma árvore, o terreno era plano naquela parte da floresta, na certa pararam para descansar. Ele levou uma facada no coração, e ela quatro, o assassino quis calar o rapaz, mas, o ódio maior era da pobre moça que aparentava uns 25 anos e ele alguns anos mais velho.

Porque ele teria matado primeiro à moça? Esta pergunta correria pelo povoado nas próximas horas, e ainda a certeza de que havia um assassino em série agindo na região. Com a chegada da guarda todos se dispersaram.

O alvoroço que se seguiu não teve precedentes na história local, em pouquíssimo tempo chegou a todos os locais da colônia, comerciantes complementavam as histórias deixando elas ainda mais perturbadoras.

O assassino parecia gostar de ouvir os comentários, na certa se embrenhava em meio aos bêbados dos becos, ou entre os que dormem nas praças e ruas, ou ainda vestiam-se como os nobres em seus chás da tarde rodeados de moças bonitas planejando matá-las.

Com o inicio de uma investigação mais acirrada os casos cessaram pelo menos é o que parecia, mas a névoa da morte e da conspiração voltou a sobrevoar a região, impossível pensar em tamanha crueldade.

As festas eram comuns, mas todos andavam em grupos, ninguém se aventurava a sair só, menos ainda às mulheres, fato que levou a formação de novos casais na cidade, as donzelas sentiam-se protegidas ao lado de homens fortes e robustos principalmente.

Mas, não foi o bastante. Aparentemente o assassino era conhecido de dois destes casais que se embrenharam nas matas com bebidas a tira colo e o assassino usou disto para envenená-los. Veneno usado pelos índios em suas setas usadas para derrubar os inimigos. O amanhecer teve um ar de tamanha tristeza que o choro era ouvido em muitas casas, irmãos, pais, avós reagiam ao fato de formas bastante contristadas, e eram amparados por autoridades e amigos, familiares enquanto o cortejo era preparado.

Gritos de pedido de justiça e ação mais intrépida da guarda eram ouvidos na noite iluminada por candelabros ponteados em lugares cada vez mais numerosos, o medo do anoitecer tomava conta.

Nos dias seguintes procuravam por sombras nas matas, por armas brancas envolvidas em cobertores ou próximo aos que dormiam nas ruas, no entanto sabiam que o perigo podia vir de qualquer pessoa da sociedade e pior, um assassino poderia ter feito aflorar o mesmo desejo em outra pessoa, pois os crimes que ocorreram a seguir não tinham como serem ligados entre si, exceto pela regionalidade, classes sociais distintas, idades e profissões diversas.

A verdade é que todos eram e não suspeitos ao mesmo tempo, não se podia duvidar, mas também não era seguro confiar em ninguém, e pelo que viram mesmo em grupos, pois o assassino era conhecido e amigável do povoado.

Mas, a vida tinha que seguir, soldados foram arregimentados para ficar em locais por onde passavam os pedestres mais comumente, no entanto as maravilhas da natureza faziam casais fogosos, ou famílias adentrarem as matas. Iriam redobrar os cuidados.

Na terceira semana após os últimos “assassinatos” algumas pistas apareceram e estas mudariam os rumos das investigações,

Os dois casais envenenados aparentemente não foram mortos, foi um suicídio coletivo de comum acordo, havia quatro copos, colocados ao lado dos corpos, e não havia uma quinta marca de pegadas no local. Os corpos estavam pacificamente deitados em posições que não imprimia reação ao fato de estarem passando mal, aparentemente sabiam dos sintomas e queriam passar juntos pela experiência.

Mas o fato foi elucidado porque encontraram bilhetes de despedida em um dos quartos e ao procuram acabaram encontrando em todos eles, em todos era comum o amor e a esperança de vivê-lo na eternidade, sabiam que os pais não permitiriam seus enlaces.

Aparentemente este fato fez com que o assassino deixasse de agir por este tempo, mas, atacaria no dia seguinte.

Um dos cavalos mais caros da região, não pertencente ao rei é claro, passou pela vila a desfilar elegantemente sem a companhia de seu dono. Era manso, mas pela primeira vez o viam livremente andando pelas ruas.

Carlos logo o pegou pelo reio e avisou que o levaria de volta a casa do senhor Alcides, proprietário do belo animal. Havia somente um caminho até a propriedade, nem era preciso direcionar o Capitchê, conhecia o caminho.

A oitocentos metros da rua onde o encontrara, em meio às matas uma bota de couro muito valiosa caída próxima a uma pequena árvore frutífera. Carlos a pegou em mãos e notou uma pequena mancha de sangue. Olhou ao redor e logo avistou um cinto, aquela fivela ele conhecia, era do senhor Alcides.

Preocupado, amarrou o cavalo na árvore e adentrou a mata, outra bota, desta vez bastante ensanguentada, uma camisa rasgada, e atrás de uma grande araucária o corpo do pobre homem.

Havia aberto o peito do fazendeiro, e aparentemente lhe arrancado o coração.

Subitamente montou o cavalo e foi à delegacia.

No local o delegado e dois de seus guardas investigavam a região a procura de pistas encontrou o coração em um pequeno baú com alguns contos de réis regados a sangue, jóias de grande valor e uma carta assinada pelo falecido que seria colocada no correio, mas que lá não havia chegado, nem mais chegaria. Não podiam ler, pois estava lacrada, teriam que ter uma ordem do juiz.

Estas pistas levariam a um funcionário descontente com alguma situação, ou alguém que dependeu da riqueza dele e não foi atendido. Seu tesouro encontra-se onde está seu coração. Aquela frase seria ouvida pela cidade e redondezas nos próximos dias.

Poderia também ser um moralista que o apontava por ser um homem que em nada se preocupava com o povo, queria ele dar uma lição aos mais ricos?

Se assim fosse os outros crimes não passavam mensagem alguma, eram trabalhadores, uma era cuidadora de crianças, nada havia em comum.

A população assustou-se. Evitavam andar pelas ruas mais desertas, buscavam companhias bastante seguras, andavam em grupos ainda maiores, e os famosos piqueniques ficaram bastante escassos.

A noite chegou ao povoado, mais candelabros eram acesos a cada crime, D João VI exigira da guarda a presença do criminoso em no máximo quinze dias para o julgamento que ele já tinha formado dentro de si, e todos sabiam o que aconteceria.

Guardas se espalharam, mantendo posicionamento para cobrir toda a área ao redor do palácio e do povoado. Uma guarda especial chegaria em dois dias para ajudar a solucionar a onda de assassinatos.

No dia seguinte o cortejo para o enterro foi seguido por quase todos os habitantes das localidades, as fofocas eram colocadas em dia e muitos apostavam que não encontrariam o assassino no tempo exigido.

Senhoras preparavam os almoços e jantas dos guardas e iam distribuir em seus locais determinados, não podiam sair dali para nada.

Estas eram escoltadas por guardas, todos temiam encontrar-se com o ainda desconhecido personagem que aterrorizava a todos.

No revezamento da guarda, um cuidava do outro na chegada e saída da posição em que se encontravam.

O delegado Fausto sabia que não era o bastante, mas até a guarda de reforço chegar teria que ser desta forma.

Para manter-se informados, todos combinaram em dar um tiro ao alto a cada duas horas de plantão, eram 14 grupos até o momento.

Na primeira noite tudo tranquilo, nada de estranho, fausto informa o rei que estava tudo em paz.

No entanto a noite seguinte seria altamente estressante, o povoado, a corte do rei e em especial o delegado passaria por um terror jamais imaginado, estavam diante de um assassino extremamente cruel. Os quatorze tiros das 20 horas foram ouvidos por todos, mas às 22 horas somente quatro foram ouvidos, de pronto o estranhamento tomou conta de todos os que esperavam por mais uma noite de paz.

Fausto estava ainda na delegacia, não conseguia se apartar do serviço até que resolvesse o caso. O silêncio das armas o aterrorizava. Cinco minutos depois um tiro foi ouvido nas bandas da propriedade do falecido Alcides, mas a esperança acabava ali.

Ele arregimentou na calada da noite o único que havia ficado de lado do plantão e foram em direção aos que haviam dado o sinal de estar tudo bem, não deveriam largar o posto em situação alguma, e é o que fariam.

Muitos chegados ouviram a orientação dada aos guardas e a essas alturas estavam preocupados também. Tinha que agir rapidamente. Selaram os cavalos e foram pegar os guardas para juntos irem aos pontos de onde não haviam sido ouvidos os tiros.

Marcos foi o primeiro a ser encontrado, estava preso à árvore com a boca envolvida em um pano e flechas em três pontos mortais no peitoral. Ele era muito forte, concluíram então que não era apenas um que procuravam.

Deixaram-no ali e foram no ponto seguinte, já preparados para outra cena de terror, e assim foi, Daniel estava também amarrado à árvore, mas desta vez de ponta cabeça e com a garganta cortada, o chão recebia seu sangue em uma cova aberta certamente pelo assassino. Ao redor da cova o distintivo, a arma, o cinturão e o óculos adequadamente organizado.

As cenas seguintes foram semelhantes, exceto por Miguel do qual extraíram os dois olhos, ele havia dado um tiro, mas morreu logo em seguida.

Desesperados voltaram à delegacia, a estas horas já tinha mais de cinquenta pessoas querendo saber o que estava acontecendo. Ele nada revelou naquele momento. A cidade não dormiria.

Após dispersarem a multidão reuniram-se, e Fausto repetia: São dois, ou talvez mais, mas por quê?

Como conseguiram fazer isto em tão pouco tempo?

E pior ainda, como chegaram próximo a eles sem resistência alguma?

Deduziram ser mais de um, e conhecidos para que fossem abordados sem resistência.

No dia seguinte todos ficariam sabendo e o caos seria imposto sobre a região, no dia seguinte mudariam as estratégias de investigação. Com dez homens a menos e a situação extremamente agravada D João VI colocou parte de sua guarda pessoal para ajudar nas perícias.

O inferno de Dante se fez presente logo que o dia amanheceu nada tão terrível fora relatado até os dias de hoje.

Fausto enumerou alguns nomes que por mais que fossem improváveis seriam capazes de praticar tais crimes, pela força dos braços e conhecimento dos seus subordinados, tinham que começar por alguém e iria ser frio e calculista com todos, até o Padre Antonio investigará se preciso for, mesmo sendo franzino e extremamente calmo.

Os crimes eram uma afronta direta ao delegado, ele havia prendido alguns criminosos da região e poucos tiveram finais trágicos na prisão, dois enforcaram-se, e poderiam ter filhos traumatizados, mas todos foram para outros lugares após os fatos. Teriam que investigar um a um. Três que eram de seu conhecimento foram espancados por guardas, mas ele abriu processo interno e os mandou para outras delegacias, e os presos recuperaram-se após tratamento.

Outro sinal dado pelo assassino é que ele queria que o encontrasse, afinal de contas não tem como ser diferente.

A fim de não chamar a atenção para pessoas de bem, foram em muitas residências perguntar sobre vir algo suspeito e a tira colo pedido de depoimento, cuidado que Fausto fez questão de tomar a fim de não espantar o verdadeiro assassino.

Havia três salas para interrogatórios, e antes das dez da manhã teriam prováveis assassinos sentados em suas cadeiras.

Matar tantas pessoas em pouco tempo deixa hematomas, logo saberiam quem era.

Assim foi até as 15 horas, exaustos e desanimados pelo intento não estar dando o resultado esperado entrou na sala o último e mais improvável suspeito, ele tinha uns 35 anos, um rosto angelical-marceneiro-ele fazia móveis para o castelo e muitas residências, era muito bem visto por todos, bastante forte e trabalhava junto com seu irmão. Foram chamados pela força e relacionamentos públicos.

Quando entrou e percebeu que se tratava de um inquérito agiu calmamente, mas sabia que seria pego, e a prova estaria em seu corpo todo, muitas marcas de aparentes surras que levara quando criança, e três hematomas recém formados, Fausto percebeu que se entregaria, e logo deduziu que faria parte de uma de suas prisões, mas o sobrenome não batia com nenhum deles.

Estava ele ali diante do assassino e seu irmão na sala ao lado, ouviram suas histórias, mas não podiam se compadecer, a prisão seria o destino de ambos.

Quando o pai deles enforcou-se na prisão, a mãe os levou embora, espancava-os e os deixava passar fome, ela morreu de tristeza três anos depois. Morreu pedindo perdão, mas queria vingança, pois o pai era inocente.

Ferreira e Ferraz trocaram de documentos para não serem descobertos, e foram para a região onde programaram tudo e começaram agir. Fariam o mesmo que o pai na prisão, por isso não ligavam para o fato de serem presos.

A história mudou o modo de agir de guardas e delegacias, pois o erro pode levar a criar novos insanos a cada tempo.

Fausto saiu dali assim que tudo se ajeitou, foi para o outro lado da colônia, viveria com esse trauma até o último dia, esse era o objetivo dos irmãos, e certamente o conseguiram.

Sérgio Ricardo de Carvalho
Enviado por Sérgio Ricardo de Carvalho em 06/08/2020
Código do texto: T7028076
Classificação de conteúdo: seguro