A MISTERIOSA VILA 39 – O ADEUS

O guerreiro debruçado sobre o cadáver de Aros, soluça e deixa escorrer sobre seu rosto quase petrificado uma lágrima, ali jaz o último elo com seu maior amigo, seu maior companheiro do mar. Ele pensa em voz alta.

- Não posso deixar isso assim. – Vou capturar esta criatura, levá-la até o capitão e lhe pedir um funeral digno de um grande guerreiro, Aros merece esta homenagem.

Asgard sabe que a criatura está ali, ela o observa por entre as catacumbas, faminta por vingança. Embora o guerreiro tenha perdido a perna e um olho nas batalhas ferozes, continua imbatível, e agora é uma questão de honra.

Ele carrega o corpo de Aros até a grande Capela do cemitério e o deposita sobre o altar de pedras, amarra seus braços pendentes e cobre seu rosto destroçado, depois tranca o portão e adentra a grande fortaleza. Ao longe o comovente e incessante choro da criança, se mistura a gargalhadas malevolentes.

Asgard convoca seus guerreiros e suas ninfas no grande salão da fortaleza. Todos se apresentam, Asgard escolhe seis guardiões e os manda vestir seus uniformes de batalha para o cerimonial. A ama das ninfas, ele ordena que se apresentem com vestes pretas em sinal de luto. Ordena também, a dois dos guerreiros que preparem o corpo de Aros, com vestes da guarda real do capitão, e o traga para o salão da fortaleza onde será velado com honras de guerreiro. Mandou erigir um túmulo em granito e esculpir o busto de Aros, com um epitáfio.

Em seguida chama o mensageiro e lhe entrega um pergaminho informando ao grande capitão de todo o ocorrido, assim o espera para a cerimônia fúnebre.

Ao final da tarde o corpo de Aros está sobre o altar no centro do salão vestido como guerreiro medieval, a mão que lhe restou, empunha o grande sabre de cobre, que usou em tantas das suas batalhas. A sua volta, quatro guerreiros e duas ninfas fazem parte da consagração. Apesar da dilapidação do rosto e o semblante de desolação, Aros mantinha uma nobreza presente.

Passaram-se dois dias e a chuva caía torrencialmente, a abóboda celestial vestida em sua túnica negra, vociferava com assombrosos trovões a perda do grande guerreiro e pescador que não mais açoitaria com seus ventos e suas ondas. Os clarões dos raios refletiam nas encostas pedregosas revelando feições demoníacas entre gargalhadas infantes e gritos de desespero.

Já quase noite quando o grande capitão é anunciado. A sua mera presença física era assustadora. Sob reverência dos guerreiros ele adentra ao grande salão atendendo ao chamado de Asgard.

Ao seu lado encoberta por um manto lilás, uma figura feminina o acompanha. Ela não espera o capitão, se aproxima, debruça-se sobre o corpo e sob seu véu brilha uma lágrima que respinga sobre a face enigmática de Aros. Asgard cumprimenta o senhor enquanto observa atentamente aos soluços da dama. Aos poucos a mulher retira seu manto e revela a beleza dos seus olhos verdes. Agora o mal estava por toda parte. Porém, Asgard recusava-se a acreditar, apesar de tudo que já havia visto. Perdido em um nevoeiro de demência, lá fora o mundo envolto em lágrimas, esvai-se de pesar pela morte de um grande sonho de amor.