Assassina de pés vermelhos

Era a 110° edição do prêmio Pulitzer, eu como uma boa jornalista investigativa, fui indicada a uma das categorias. Eu vestia um tradicional yves saint laurent da coleção verão 2016 desfilado durante a fashion week em Paris, rosa claro curto com um lindo decote coração de onde saía uma saia de tule assimétrica, com um blazer xadrez para torná-lo mais formal, um pouco antigo, guardei para uma ocasião especial, meu primeiro prêmio.

Me dirigi ao bar onde peguei minha bebida favorita, Dry Martini com duas azeitonas. Quando me deparei com uma mulher, estava desleixada, usava um terno mal ajustado preto, com riscas de giz, chapéu fedora preto, sem maquiagem nenhuma, mas o que me chamava atenção eram os Scarpins vermelhos como sangue em seus pés, a combinação de estilos era tão contrastante que me vibrava os olhos.

Até que chamaram os nomes dos vencedores das categorias… “Antoniette Miller, pelo artigo ‘As mãos que congelaram’”. Chamaram meu nome! Fui até o palco, agarrei minha oportunidade, fiz um lindo discurso, chorei como de costume de todos que o ganham, as vezes precisamos nos encaixar em uma sociedade tão sagaz, desci do palco e voltei ao meu lugar, sempre observando a mulher do salto vermelho.

“Emma Johnson, pelo livro de ficção: ‘Assassina de pés vermelhos’”. Chamaram ela. Como posso nunca ter visto a mulher que ganhou um dos prêmios mais difíceis da noite? Meus pensamentos foram silenciados assim que Emma pegou o microfone, seu discurso começou dizendo que por trás uma grande farsa romântica há uma grande e real história, que nós nos apaixonamos pelo mistério, o terror e a esperança ditas em seu livro, sabíamos que não era real, gostávamos de romantizar as tragédias da vida.

Conforme ela foi falando, fui reparando em seu rosto, seus pés e recordando de casos policiais antigos que vinham em minha cabeça, quando a mulher tirou o chapéu pude ver uma marca de nascença em sua hairLine, em formato de nuvem, eu a conhecia, talvez por mais tempo do que gostaria. Emma, Evelyn, Anna, Abigail, todas tinham algo em comum, a marca, o sapato, os pés vermelhos.

Descobri que se tratava de uma história real, uma assassina com vítimas reais, uma serial killer que escrevia sobre suas vítimas, livros e livros, vidas e vidas, a polícia nunca conseguiu achá-la, parecia um camaleão, mudava sua forma, sua identidade e rotina, eu tinha escrevido artigos sobre a investigação durante anos. Sem sucesso.

O que fazer agora? Correr e procurar ajuda? Ligar para a polícia? Eles não iriam acreditar em mim, se passaram tantos anos, demos-a como morta, desfigurada. Quando foi entregue o último prêmio, encontrei a no bar.

“Parabéns pela premiação, eu sou uma grande fã da sua autobiografia “Assassina de pés vermelhos” - Eu disse com um sorriso de canto de boca.

“Obrigada!” -Disse ela com um sorriso maior ainda - As luzes se apagaram como um blackOut, os geradores acenderam, junto com eles os corpos dos dois bartenders caídos no balcão, esfaqueados rápido e precisamente, junto a eles uma pegada feita com sangue do formato de um escarpin, e a Emma havia sumido.

Soube que não era a primeira nem a última vez que encontraria aqueles saltos vermelhos, o símbolo de uma geração de romantização do terror.

Passaram-se as semanas e encontrávamos esses sapatos por toda parte, lojas, cinema, propagandas, empresas, no final, Emma, ou qualquer que seja seu nome agora, não era a assassina, mas sim os leitores vorazes que em sua mente amavam o ódio, a violência, a morte e a dor retratados em seus livros. Só precisam de alguém para alimentar seus romances trágicos e tornar seus pensamentos reais.

Mafê Binns
Enviado por Mafê Binns em 01/12/2020
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