BOSQUE SOMBRIO

A criança ainda estava chateada, não queria ter deixado seus amigos da cidade grande para ir morar no campo. A menininha fez o que as crianças fazem quando estão tristes, exploram.

Tudo era novo para a pequena Gina. As árvores em nada se assemelhavam às gigantescas construções da cidade que um dia ela chamara de lar.

Gina continuou percorrendo a fazenda. Ela sentia muita saudade de Alice, sua melhor amiga. Alice chorou muito quando Gina foi embora. Quanto mais a menina andava, mais ela sentia falta da sua escola, das brincadeiras com as outras crianças. Ela lembrava com desalento do que os pais lhe disseram antes de se mudarem:

— Precisamos fazer sacrifícios. A fazenda é mais aconchegante, você vai se adaptar.

Porém, Gina não queria se adaptar, ela queria sua vida de volta. Crianças não deveriam mudar.

Por várias horas ela continuou assim, pensativa e cabisbaixa.

Foi quando ela avistou uma estradinha de cascalho que terminava em um boque. O bosque era lindo e com muitas flores e arbustos. Gina sentiu-se atraída e caminhou pela estradinha.

Então ela escutou a canção, conforme se aproximava mais, a música ficava mais audível. Quando a criança chegou no bosque, a canção era entoada por todos os lados, como se a flora cantasse a pleno pulmões:

"Nesta rua, nesta rua

Tem um bosque

Que se chama, que se chama

Solidão."

Gina conhecia o trecho da canção. Essa mesma estrofe repetiu-se por diversas vezes, e em todas elas a garotinha cantava com o bosque.

Passado algum tempo, a menina ouviu uma voz sussurrar, a voz era calma, porém cortante, como se trazida pelo vento. Gina arrepiou-se quando as palavras foram pronunciadas por alguém que ela não podia enxergar:

— Estou aqui a tanto tempo, me sinto tão sozinho. Por favor, não vá embora!

Outra vez a melodia foi entoada. Gina agora estava assustada, apressou-se para fugir, mas as flores trancaram a passagem. A criança gritou; contudo, sua voz foi abafada pelo emaranhado de arbustos que iam tapando os raios do sol e qualquer resquício do mundo exterior. Enquanto a menina se debatia com pavor, a voz sem corpo sussurrava para ela as mesmas palavras já ditas, seguida pela canção.

Os arbustos foram cerrando-se cada vez mais, o bosque ia engolindo a criança e Gina ia tentando salvar-se. Transcorridos alguns minutos, que se pareceram uma eternidade, os gritos da garota cessaram, o bosque voltou ao normal; no entanto, a menina havia desaparecido.

Por vários dias os pais de Gina a procuraram. Arrependiam-se de terem-na tirado da cidade. Ninguém, nem a polícia, o bombeiro e um grupo de busca, conseguiu achá-la.

Os pais da menina abandonaram a fazenda depois de alguns meses. E o bosque lá continuou, esperando chegar a próxima criança para lhe fazer companhia.