Não Há Nada De Belo Aqui Também

O telhado é de amianto, a construção de barro. Há uma cruz ao seu lado assim como há uma garrafa de vinho do porto, o mesmo vinho que fora comprado para um evento que deveria ter sido feliz. Deveria. Apenas deveria. Lorenzo e seus bens completos 39 anos, carregava nas costas um corpo espctral e a possibilidade de uma prisão.

Em Dezembro, Lorenzo cometeu o maior erro de sua vida e o que assombra em todos os dias dela. Lorenzo, homem muito impulsivo e estéril, assasinou sua esposa por causa de ciúmes doentio, da forma mais cruel possível, dando-lhe vários golpes de facadas sobre seu peito e escondendo seu corpo no quintal de sua casa.

Após enterrar sua esposa, Lorenzo saiu desorientado pelas ruas da cidade, andando com a garrafa de vinho em uma mão e o tabaco em outra, indo em direção à igreja. Chegando lá, ele subiu no teto de amianto da igreja, próximo a ponta do telhado, sentou-se. O padre percebeu uma movimentação no telhado e saiu para ver quem estava lá.

Decisão. Dor. Ah! Aquele doce gosto do tabaco misturando-se ao vinho. O pecado acima de um lugar sagrado, a morte a espreita como uma cobra indo atrás de um coelho. A mão do padre repousa em seu ombro. Uma oração. "Pai nosso que estais no Céu…"

- Há esperança. Sempre há.

A típica frase dos tolos, a busca por algo que para Lorenzo não passava-se de perca de tempo, algo irracional. Estava perdido, salvação agora não existia para si. Não mais. Sua única certeza lhe esperava naquela relva umida logo abaixo.

- Assim como sua fé, padre, minha dor é inabalável!

nicollascomdoisL
Enviado por nicollascomdoisL em 09/04/2021
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