Um louco?

Não estou perdido, pois jamais me encontrei e agora, por estas esquinas escuras caminho sem rumo, com o sangue de minha amada nas mãos, mas sem o peso da culpa nas costas, me sentindo tão morto quanto ela que jaz em um quarto sujo.

-Hoje me sinto uma bruxa poderosa -levantou os braços com leveza exibindo sua nudez- Sou lascívia , sou livre, sou leve- fechou os olhos e girou, bailando em câmera lenta.

Ela tinha a beleza simples de uma flor, mas o mistério mítico de uma deusa, depois daquela noite de amor, eu quase poderia erguer uma altar para ela...

Sou um eterno excêntrico, incontrolável, quando amo, venero ao extremo, e foi isto que matou o nosso amor. Eu a limitei a um espécime bem contido, prendi com o alfinete poderoso do taxonomista, a borboleta perde o viço se limitam se vôo, e eu cometi este pecado contra a natureza. Eu a prendi entre meus dedos, mesmo vendo que se debatia tentando fugir, pois por mais que o calor de um abraço possa ser confortante, quando apertado sufoca...

Não beijei seus lábios, suguei sua alma, não quis seu corpo, quis possuir sua matéria, egoísta! Hoje caminho com as mãos embebidas do liquido viscoso que te garantia a vida, privei-me de sua presença, de sua respiração quente, de suas caricias, mas me livrei do medo enlouquecedor de te perder para aquele maldito! Oh! O seu sorriso ao vê-lo, tortura desleal! Como era efusivo aquele abraço e quão profundos os beijos! Odiei com todo o meu ser ver aquela cena se repetir infinitas vezes diante de meus olhos! Traidora! Você não tinha o direito de me dizer adeus! Agora está morta, e não choro, pois prefiro tê-la morta, que viva e longe de mim!....

E a lua continuava sendo um risco no céu, e a noite continuava envolvendo-o pelas esquinas escuras, onde o silencio mantido pela leveza dos passos não era perturbada pelo caos de sua mente: ele estava realmente perdido...

T Sophie
Enviado por T Sophie em 08/11/2007
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