O Espantalho

Sexta-feira, final de expediente, Simaria se dirigia para casa, um local lindo, situado no campo, na expectativa de encontrar o marido e os filhos.

Antes, precisava passar no supermercado para comprar algumas mercadorias para o fim de semana. Olhou na prateleira e viu um champagne que a remeteu a bons momentos vividos com o marido.

Não teve dúvidas, comprou para aquela noite, já que os filhos iriam dormir na casa dos avós.

Comprou algo mais para um jantar especial, a dois.

Pegou o veículo e partiu para casa.

Queria chegar antes de seus filhos saírem para dar-lhes um beijo.

Pelo caminho, distraída, foi repensando nos afazeres do dia e nos compromissos do final de semana.

Definitivamente, aquela não era a hora para pensar em trabalho e compromissos – imaginou. – Ansiava por chegar em casa e aproveitar a sua família.

Ligou o rádio, tocava uma música antiga, nostálgica, dos tempos de sua adolescência.

Cantarolava.

Adentra pela Estrada da Mata. Faltavam apenas 15 km para chegar em casa.

Desviou o olhar da estrada para aumentar o volume do som, viu uma sacola caída no assoalho e abaixou para pegá-la, quando sente uma batida no veículo.

O carro não anda. Algo o prendia por baixo.

Desceu do veículo, olhou para frente e para trás e nada.

Passa por trás, olha para baixo e nada.

Do outro lado ela enxerga, saindo debaixo do carro, duas pernas cobertas por uma calça jeans, calçando botinas.

– Meu Deus, atropelei um homem!

Grita por resposta!

Nada!

O silêncio a apavora!

Não tem coragem de se agachar para ver quem era.

– Estava morto? Estava apenas desacordado? – perguntava a si mesma.

O celular! Claro, o celular! – recorda-se.

Corre para o carro, pega o celular e liga para o marido.

– Amor, socorro, atropelei alguém! Venha me ajudar!

– Calma! – diz o marido, tentando confortá-la. – Onde está?

– Estou… – sua resposta é interrompida por um grito histérico de um homem.

– Ei, você – bradava alguém.

Ela se apavora, joga o celular para dentro do veículo.

– Alô, alô, amor, está aí? – berrava o marido ao telefone, sem resposta.

Ela olha para o lado esquerdo, não vê ninguém. Olha para os lados, não vê ninguém.

De onde saíram esses gritos – pensa.

– Ei, você! – ouve novamente, sentindo uma mão em seu ombro.

O medo a atemoriza.

Ela grita, chora, esperneia, se desespera.

Era a vítima que queria vingança – imaginou.

Olha para trás e vê um homem, que diz a ela:

– A Senhora poderia dar marcha ré no carro para que eu possa retirar o meu espantalho debaixo dele?

Era tarde, adeus noite romântica!

Glaucio Queiroz Oliveira
Enviado por Glaucio Queiroz Oliveira em 29/07/2021
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