Insetofobia

Era um pouco mais de meia-noite. Lá fora a lua estava escondida atrás das nuvens trazidas pelo forte vento que também soprava na veneziana da janela do meu quarto.

O frio insistia em soprar em meus pés, que estava ao relento em razão da pequena coberta. Eu usava uma ponta para cobrir minha cabeça, deixando meus pés a mercê do frio. Não queria continuar a ouvir o barulho que infernizava os meus ouvidos. Ele vinha de dentro do quarto e eu não tinha coragem de baixar o cobertor para encará-lo.

Não conseguia dormir. O medo me assolava.

Quanto mais tentava, menos conseguia relaxar para dormir.

Meus pés gelaram ainda mais quando senti um toque nos pés.

Era o meu algoz.

Sobressaltei da cama e num único pulo cai de pé. Queria me defender, mas não conseguia me mexer. Tentei, em vão, correr, gritar, sair dali, mas não conseguia. Estava anestesiado, mais congelado pelo medo do que pelo frio.

Entrei em pânico.

Agora, sem o cobertor sobre a minha cabeça, vi o assassino de meu sono passar em frente à luz do abajur.

Por onde havia entrado aquele maldito? Como conseguira acesso ao meu quarto, passando pelas portas e janelas fechadas?

Ele parecia tranquilo e calmo. Eu, em pânico profundo.

Quis gritar por socorro, mas a voz estava presa em minha garganta. Nem um sussurro ecoou.

Tornei-me uma presa fácil.

Não demorou e veio o golpe fatal.

Sem conseguir me movimentar, ele veio ao meu encontro. Vi a sua lança fincando em meu peito, próximo ao coração.

Era o fim?

Caí estirado no chão.

Com o barulho do tombo, minha mãe acordou e correu ao meu encontro.

Era tarde! O golpe fatal já havia sido desferido.

Ao abrir os olhos, estava deitado, seguro, no colo de minha mãe. Ela veio salvar-me e matou meu algoz.

Ao meu lado estava o seu corpo caído, em volto a uma poça de sangue. Provavelmente o meu sangue.

Aquele pernilongo nunca mais atacaria ninguém, muito menos a mim, que sofro de insetofobia.