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As quedas dadas no cumprimento do dever têm outra compensação, respeito e sobretudo outra remuneração.

Um soldado  caiu, partiu uma perna e manteve-se lúcido esperando pelo médico do batalhão. Era dia de tréguas no medonho fogo de artifício que tingia o céu de um negro espesso, entrecortado por enormes labaredas que iam consumindo a floresta.

O médico tardava em chegar e, embora tendo o rádio a funcionar, não lhe davam uma previsão de quando isso seria possível. Apenas diziam que vinha a caminho.

Porém não havia forma de chegar ao meio da floresta, onde o via o fumo negro e as cinzas espalharem-se à sua volta. O medo crescia e lá tentou pôr-se de pé. Não estava assim tão mal desde que a perna não mexesse.

E no chão uma pequena poça de sangue. As calças rasgadas deixavam à vista  algo branco, era um osso da perna em posição estranha como se estivesse de abalada para um precípicio. E depois como seria sobreviver sem o osso? Poderia andar como se nada fosse?

O médico tardava em aparecer e o soldado, já de pé, havia-se arrastado até uma árvore.

Ao longe um clarão, seguido de um som demente rompia o rumo normal da noite e de repente apareceu um homem. Aproximou-se do soldado, que lhe sorriu por um mero segundo, sem querer abraçou-o. O homem puxou de uma faca e de forma fria e inesperada entranhou-a no soldado, sussurrando algo. O soldado caiu redondo, sufocando de dor e mesmo antes de se estatelar no chão viu de relance uma foto da sua mulher ao peito do assassino...

conto retocado deste meu original de 2008:
O Sargento Alicate
Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 06/10/2021
Código do texto: T7357992
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