Bonequinha...
-Sei dar a vida a coisas inanimadas..
Podia ouvir a finíssima voz da amiguinha de sua infância, ela era pálida, de cabelos negros como a noite, era lindo como um sonho, quase tinha inveja, se dentro daqueles olhos não visse uma dor doentia.
-Sabe que não pode se esconder de mim...
Aflição, medo, pavor, maldita hora que duvidou que a pequena pudesse de fato dar vida.
-Sou a sua fantasia, sou a maldade de sua alma, acha que nasci das trevas apenas pelo poder de uma criança? Não nasci pelo seu desejo impuro de libertar aquilo que tentava esconder
Estava à beira da demência, não adiantava picar a boneca, ela falava e se mexia na mesma forma, desceu de suas mãos e foi caminhando em circulo pensativa, com as mãos para trás, era a caricatura macabra de um demônio angelical, sim, ela era o próprio demônio, maldita!
-Já matamos duas pessoas, agora é hora de escolher a terceira vitima do ano...
Seu coração batia disparado, suas mão suavam, era como um filme sem final, aquele demônio a seguia desde a infância, mas bastou sentir o gosto de sangue que quis mais e mais, não sabia o que a mantinha viva, nem sabia se podia chamar de vida a existência de um pequeno monstro...
Quando a vi não pude crer, era ela, tinha ainda o mesmo olhar doentio, e os cabelos iam longos escorrendo pelas costas magras, coma beleza estonteante de uma beleza mórbida, cadavérica, mesmo o suave azul da blusa parecia perder o brilho, o viço, ela era medonha, mas era necessário.
-Hei! –ela virou os olhos, estava andando distraída.
-Olá...- me olhou desconfiada.
Relembrei fatos a infância, falei sobre nossa amizade infantil, mas quando se lembrou estremeceu e disse assustada:
-Oh ainda resta um! O pequeno demônio! Onde está?
Eu senti os músculos endurecendo, as pernas bambearem quando vi a pequena se aproximar por trás dela com uma pequena faca por trás dela, mas com uma rapidez incomparável ela se virou e proferiu palavras inteligíveis, o demônio se contorceu assustadoramente e deitou.
-Foi ela que matou aquelas crianças não foi?-disse com fio de voz.
-Sim...
Os olhos negros embaçaram de lagrimas, tirando o colar de seu pescoço estendeu para mim.
-Use isto, pois almas mortas por demônios de desejos sempre tentam se vingar...
Pendurei em meus pescoço o ornamento trabalhado em prata, era frio, era pesado, era sufocante...
Acordou suada. Pesadelo horrível, mãos que puxavam para um buraco escuro, gemidos que faziam os ouvidos doerem, e ali, olhando ao redor só tinha o escuro, o silencio, o vento frio entrando pela janela...
O canto começou baixo, mas foi aumentando, vinha do corredor, lentamente foi caminhando, as mãos segurando o pingente do pescoço, os pés mal tocavam o chão. Quando viu a poça de sangue correu, temeu por seus pais, foi até o quarto deles tudo vazio, a cama nem tinha sido desfeita, e uma porta onde nunca houve uma, estava entreaberta, ali dentro viu os olhos tristes das crianças mortas, ouviu seus gemidos, sentiu o cheiro podre de seus corpo e foi sugada para sempre para dentro da porta...
-Esta moça? Ah ela está aqui desde muito cedo... Dizia ter uma boneca que tinha vida própria, que tinha uma amiga na escola que a tinha dado vida, pobrezinha, nunca teve nem amiga na escola nem boneca...
A noite era possível ouvir pelos corredores do manicômio os passos de pés pequenos da boneca.... E algumas vezes os gemidos das crianças mortas, mas devia ser apenas impressão...