Alvo atingido

- Você chegou ao local? Como está aí? - Indagou Fuselier pelo rádio.

- Bem ruim - admitiu Jaouen Rimbaut. - A explosão ocorreu bem no meio do abrigo... havia mais de 200 pessoas no local, maioria de mulheres e crianças.

- Sobreviventes?

- Ninguém. Não adianta mandar ambulâncias, só há pedaços de corpos por aqui.

Sentado ao lado de Fuselier junto ao transmissor, Luc Trahan ouvia com atenção a conversa. Inclinou-se sobre o ouvido do operador e sussurrou:

- Pergunte se posso ir até lá.

Fuselier encarou Trahan, cara fechada.

- Péssima ideia; não ouvou Rimbaut? Só há pedaços de corpos, sequer corpos completos!

- É Trahan quem está aí? - Perguntou Rimbaut pelo rádio.

- Quem mais iria querer entrar num matadouro desses? - Replicou Fuselier.

- Não mande Trahan aqui... por favor - praticamente implorou Rimbaut. - Minha equipe ainda não se recuperou da última intervenção dele. Já é o ruim o suficiente ter que lidar com o horror que encontramos.

- Trahan não vai, sossegue - assegurou Fuselier.

- Eu posso ajudar - insistiu o interpelado.

- Não é uma cena de crime onde precisamos saber quem é o culpado - atalhou Fuselier. - A culpa é nossa, erro de cálculo; isso é ponto pacífico. Lançamos bombas no lugar errado.

- As bombas foram lançadas no lugar correto - corrigiu-o Rimbaut. - Os relatórios da inteligência informavam que esse abrigo subterrâneo era ocupado pela alta cúpula do exército inimigo... não por suas mulheres e filhos.

- Como eu disse, não precisamos dos seus serviços no local, Trahan - redarguiu Fuselier. - Rimbaut, melhor jogar gasolina no abrigo e incendiar, para não deixar pistas.

- Não que seja difícil para quem quer que venha depois descobrir o que realmente aconteceu - ponderou Trahan, aparentemente mais conformado em não poder interferir.

- A guerra tem dessas coisas - ponderou Fuselier. - A pessoa está no lugar errado, na hora errada, e uma bomba explode...

- No caso específico, nem se pode dizer que foi falta de sorte. Essas pessoas acreditavam que estavam seguras contra as nossas bombas - comentou Trahan em tom retórico.

Fuselier já havia deixado de lhe dar atenção e concluiu sua conversa com Rimbaut:

- Quantos metros de concreto a bomba precisou furar para chegar ao abrigo?

- Eu diria que uns cinco metros - respondeu Rimbaut.

- Os bastardos não podem mais se julgar seguros - exultou Fuselier.

Ao lado dele, Trahan apenas ouvia, em silêncio.

- [27-08-2022]