A sombra na mata - Prólogo

O relógio no pulso de Jonas despertava, meia-noite, nem ele acreditava que havia sido convencido a ficar no bar pelos amigos, embora tenha ido na cidade apenas para comprar alguns mantimentos. Morava em uma fazenda não muito longe da cidadezinha de interior, pacata e sem graça para as pessoas das cidades grandes, mas cheia de historias e movimentada na boca do povo que morava ali.

Dos portões da fazenda Jonas conseguia ver a luz da ultima casa da cidade, suspirou e encarou o pouco menos de um quilometro que faltavam para sua cama. Percorrendo uma estradinha de terra iluminada por sete postes de luz que serviam mais para guiar o caminho do que para sua função principal. O jovem não sentia medo afinal era o caminho que percorrera a vida toda. Mas algo estava diferente aquela noite, pensou que talvez fosse pelo álcool consumido e resolveu tentar ligar para o irmão e pedir que ele fosse ao seu encontro pela estradinha. Pegou o celular e embora já soubesse que não haveria sinal pensou que poderia ser seu dia de sorte, mas não era.

- Droga! Nunca mais caio nesse papo de duas cervejas no máximo três. Depois sempre sobra para eu vir embora sozinho – Disse para o vento e as árvores.

Abriu o portão e seguiu em frente. Como sempre nada demais nenhum barulho que poderia assustá-lo, já que conhecia todos os sons animais daquelas redondezas e todos os uivos provocados pelo vento no capim. Esse que se encontrava alto, quase chegando à altura do peito de Jonas e seguia dessa mesma forma por todo o lado esquerdo do caminho de terra batida ate a frente da sede da fazenda. Assim o único pensamento real dele era de quando o pai resolveria que era hora de cortar o capim ou soltar o gado naquela parte para que ele fizesse esse serviço por eles.

Esse era seu pensamento mais consciente, enquanto seu subconsciente por algum motivo mantinha seu corpo em um estado de atenção constante, que aumentava conforme Jonas seguia seu caminho, até começar a sentir certa ansiedade ou até mesmo medo, quando ao passar o quarto porte começou a sentir um cheiro de embrulhar o estômago. O cheiro de algo podre como lixo orgânico exposto ao sol ou uma carniça que nem urubus estariam muito satisfeitos de comer.

Acelerando o passo, Jonas começou a ouvir algo no capim o acompanhando pelo capinzal, olhava para sua esquerda e para trás, mas não via nada. Ate que de repente de relance viu uma forma de homem se elevar sobre o capim e abaixar-se rapidamente como se estivesse pegando impulso para frente bem perto do quinto poste que Jonas já deixara para trás a uns quarenta passos. Então o jovem se pôs a correr e ouvia que, o homem ou coisa, que o estava seguindo corria também agora não entre o capim, mas na estrada de terra, em seu encalço e fazia muito barulho enquanto respirava como se isso fosse um esforço maior para ele do que para um homem comum.

A essa altura Jonas já havia ultrapassado o sexto poste e estava na metade do caminho até o sétimo, o barulho da respiração da coisa se aproximava fazendo seu coração disparar mais medo, do que pelo esforço da corrida. Assim começou a gritar como um louco por socorro... Por ajuda... Pela piedade de todos os santos!

Os cachorros da fazenda ouviram seus gritos e vieram ao seu encontro latindo com uma ferocidade que diminuía cada vez que se aproximavam mais e farejavam a coisa. Alguns até recuaram, ganindo tremendo de medo, mas outros passaram por Jonas e foram de encontro ao seu perseguidor. Latidos e rosnados ele ouvia de varias entonações e os sons não pareciam vir só dos cachorros. Passara o sétimo poste e conseguia ver sua casa, com todas as luzes acessas, parados em frente sua porta estavam seu pai, irmão e um dos trabalhadores da fazenda.

Jonas não conseguia para de gritar e finalmente chegou a frete da sede passando pelo seu pai e irmão, sem olhar para trás e já não ouvindo o latido dos cachorros mais, atravessou a porta de casa chegando à cozinha. Seu pai entrou logo atrás dele e seu irmão em seguida. Com olhares incrédulos e cheios de terror, trancaram a porta rapidamente, Jonas desabara no chão achando que iria infartar. Mas sua provação ainda não havia terminado.

A coisa com seu fedor nauseante começou a se jogar contra a porta, seu pai e irmão pegaram facas no armário enquanto rezavam em voz alta. Uma, duas, três batidas na porta que apenas por milagre não cederá. Um forte estampido, tiro, pensou Jonas, antes de entender os gritos que ouvia.

-Saia filho do diabo! – e falas do tipo seguidas de vários outros barulhos de disparos feitos pelos trabalhadores da fazenda afugentando a coisa.

Após isso Jonas desmaiou, e só acordou no meio da tarde daquele dia. Enquanto o assunto do garoto que conseguiu correr mais que um lobisomem estava na boca de todo morador.

CJuniorSoti
Enviado por CJuniorSoti em 18/11/2022
Reeditado em 29/11/2022
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