MINICONTO - LAURA EM PÂNICO

Era uma noite escura e chuvosa. Eu estava voltando para casa depois de um longo dia de trabalho. Enquanto dirigia pela estrada deserta, avistei uma figura solitária à beira do caminho. Tratava-se de uma mulher jovem, encharcada pela chuva e tremendo de frio. Ela parecia estar desorientada e em pânico.

Parei o carro e ofereci ajuda. Relutante ela entrou e eu percebi que seu rosto estava coberto de lágrimas. Ela me contou que se chamava Laura e havia acabado de fugir de um homem que a estava perseguindo, mas que não sabia como escapar dele. Ela implorou para que a levasse para um lugar seguro.

Decidi levá-la para minha casa, para que pudesse se aquecer e se recuperar do susto. Quando chegamos lá, ofereci um chá quente e tentei acalmá-la. Enquanto conversávamos, ela me contou que seu perseguidor era um homem misterioso que ela havia conhecido online. Nunca o tinha visto pessoalmente. Ele havia se mostrado gentil e carinhoso no início, mas depois começou a se tornar cada vez mais possessivo, controlador e perturbado.

- Você conversou com ele hoje? - perguntei

- Sim. - ela respondeu - Tinha marcado um encontro pessoalmente, mas as mensagens que ele mandou me fizeram ficar com medo e saí do ponto de encontro antes que ele chegasse. Estava voltando a pé. Não consegui pensar em nada a não ser ficar o mais longe possível do nosso ponto de encontro.

- Entendi - balbuciei pensativo.

Comecei a ficar preocupado com a segurança da jovem. Que tipos de ameaças e pressão ela devia ter passado para estar tão perturbada a ponto de nem lembrar de chamar a polícia. Entao decidi fazer algo por ela.

- Vou ligar para este cara e dizer que sou teu marido. Falo que descobri que você estava tentando me trair e que vou matá-lo se ele voltar a conversar com você. O que você acha? - perguntei.

Ela simplesmente acenou concordando com a cabeça. Mas quando eu peguei o telefone, percebi que não havia sinal. Tentei localizar meu celular, porém não o encontrei. De súbito me passou um pensamento: "e se esse cara estivesse armado e tivesse nos seguido?" Esta idéia me impulsionou a agir rápido, antes que o perseguidor realmente chegasse à minha casa.

Vendo meu desespero para encontrar o aparelho, ela disse, com a voz embargada:

- Por favor, use o meu. Não tem problema. O contato dele está na agenda como "anjo".

- Claro. - consenti

De posse do aparelho liguei para o rapaz. Enquanto completava a ligação, ouvimos uma música de chamada vindo da cozinha. Meu coração gelou. Minhas pernas tremeram. Olhei para a face da moça e ela estava branca como um fantasma.

Com o celular da moça em mãos, caminhei em direção a cozinha. A luz desta peça estava apagada, mas era possível ver a luminosidade do aparelho vibrando e chamando, em cima da geladeira. Me certifiquei que não havia outra pessoa no ambiente e fui direto na gaveta da pia pegar uma faca, para depois pegar o aparelho. O nome que aparecia na tela era "Laura".

Quando voltei meus olhos em direção a sala, Laura estava em pé na porta, horrorizada, olhando para minhas duas mãos.

- É... vo...cê! - disse ela antes de desmaiar.

Sim, era eu. Não eu que estou contando esta história para os senhores, senhores policiais. Mas sim minha outra personalidade, já que sofro de TDI, que é o Transtorno Dissociativo de Identidade. Até aquele presente momento eu não fazia idéia que minha outra faceta era capaz de algo como isto. No entanto agora sei.

- Ok! - disse o oficial da direita - Por gentileza nos acompanhe até a delegacia para darmos continuidade nos procedimentos concernentes à este caso.