Durante a noite, acordei e vi um menino parado ao lado da minha cama com uma faca na mão. Aquela situação macabra me assustou, mas não me assustou. Seus olhos eram azuis com grandes cílios e cabelos quase ruivos, me olhava com um certo sorriso e terror nos olhos, não falei nada. Apenas cobri minha cabeça com o cobertor e voltei a dormir.

Naquele dia pela manhã, a imagem do menino em pé ao lado da minha cama, não saia do meu pensamento e passei a manhã toda com dor de cabeça - não era bem na cabeça, era na testa entre os olhos - supersticiosos diriam que é o local do 3º Olho. A tarde fui ao médico pensando que ele tinha um problema. Mas o médico me disse que eu não tinha sintomas de algo mais serio, poderia ser stress, ansiedade ou qualquer coisa relacionada ao trabalho, ou ao meu emocional. Sai, com uma receita para dor de cabeça e um para dormir e tentar relaxar... Ao sai da farmácia, avistei uma igreja que estava iniciando uma missa, dessas das 18 h, uma energia boa me tomou e uma vontade absurda de chorar... E ao me ver quieta no final do último banco, um padre veio até mim... Contei o que tinha acontecido na noite anterior e que tinha acabara de vir do médico e com a sacola de medicamentos ainda nas mãos o Padre me olhou e disse o que tinha não era um problema de saúde e sim um problema espiritual e que eu precisava encontrar minhas forças e fé. Que há espíritos malignos desejando me possuir por completa, porém, há anjos que travam batalhas com esses tão próximo a mim, que acabo percebendo as situações de fúria, cansaço, desejo, paz, medo, fraqueza, dores em locais do corpo... Às vezes roxidão me aparece outros arranhões que nunca sei explicar.

Passados exatos 3 dias essa situação se repetiu, acordei com sensação de alguém me observando, abri os olhos e lá estava o menino de olhos azuis e cabelos ruivos com a faca nas mãos olhando para mim. Só que dessa vez, ele estava diferente... Maior, suas mãos tinha sangue, olhos eram tristes e os lábios se moviam como que querendo falar algo que não conseguia entender. E em altivez com a voz firme perguntei - 'O que você está fazendo parado ao lado da minha cama, filho? Por que você olha para mim enquanto eu durmo?. Nesse momento os olhos dele mudam de sentimento, me demonstra uma aceitação, um reconhecimento uma espécie de alívio, surpresa e confiança... E então, pergunto novamente. Só que agora, com a voz, mais calma e tento ser doce mesmo diante uma situação sem entender se era um sonho ou realidade. E então, ele apontou o dedo para o teto e respondeu: - Não estou olhando para você, estou protegendo você do homem pregado no teto.

Quando olhei para o teto, vi um homem vestido com um manto azul-escuro com um sorriso macabro uns olhos sem cor como uma tela em branco e um rosto enrugado com cicatrizes que iam do alto da cabeça ao queixo. Meus olhos grudaram naquela imagem assustadora e não conseguia pensar ou me mover... Então, sento um vento frio em minha face e uma força delicada me ajudando a tirar os olhos daquela imagem horrenda. O menino de olhos azuis e cabelos ruivos, tocara meu rosto e me disse - Dorme! Cubra-se com o edredom e não olhe para o teto. Eu estarei aqui. Não lembro como adormeci ou se eu estou lembrando de um sonho...

No dia seguinte, acordei e olhei para o teto. O ventilador rodava, nada de anormal ou resquício que algo estava lá em cima na noite anterior. Ao me sentar na cama enquanto acordava e refletia sobre tudo aquilo uma pena no chão. Uma pena branca pequena, eu a peguei e sorri. Ao chegar no banheiro para tomar um banho o espelho reflete uma mancha vermelha no rosto. Sangue! Então tudo foi real?

Já não conseguia dormir, passei a morar na sala e dormir no sofá e os cochilos eram de 5 min no máximo 10 min... E então decidir mudar de casa, mas até hoje, quando me lembro que todas as noites quando ia dormir, tinha um espírito sobre a minha cabeça, é assustador... Mas e aquele menino? Aqueles olhos que parece que conhecia... Queria vê-lo novamente, mais uma mistura de medo e curiosidade se misturava em mim. A cena daquela coisa sob mim só de pensar já me dá calafrios.

Passado um tempo na nova casa, recebi a visita de uma borboleta-vermelha com grandes círculos azuis em suas asas que mais pareciam olhos, ela pousou bem em cima de minha barriga e fiquei maravilhada com aquilo... Tentei pegar o celular para registrar aquilo, e então paralisei.

E ouvi:

"- você me chamou de filho quando falou comigo. Que bom que me reconheceu... O homem grudado no teto era o espirito do meu pai, que lhe possuiu a anos atrás e você me permitiu concluir meu tempo para fechar meu ciclo. E hoje eu caço ele e ele foge de mim. Durante uma de nossas lutas ele prometeu perturbar a única mulher que me amou por 10 semanas de gestação e me quis mesmo após ser violentada... E desde então, eu te protejo dele! Ali você não me deixou te salvar. Vocês me salvou ao encará-lo sem medo e com desprezo e repulsa. Mais o medo, o pavor, o pânico não existiu. E ele entendeu que você é uma mulher especial por isso. "

Acordei com a casa no escuro, assustada pelo tempo... Parecia que tinha adormecido mais de 10 horas. Um silêncio, uma dor nas costas, ombros, nuca... O sofá sempre foi um lugar desconfortável para dormir tanto tempo. Liguei a luz, fechei a janela, olhei o relógio eram 23:23 achei engraçado e sorrir. O celular tocou era minha mãe preocupada, estava ligando desde as 10:00 da manhã e nada de atender o celular. Fiquei surpresa com o relato de minha mãe e com as horas. Não lembro o porquê adormeci e o motivo de acordar tão tarde... Mais dei uma desculpa para não a preocupar e desliguei o celular. E percebi que o video da câmera do celular estava ativada. Nitidamente, um video onde um menino de olhos azuis e cabelos vermelhos estava sentado no meu colo sorrindo me contando historias que não conseguia ouvir ou lembrar... De repente o celular cai de minhas mãos e a filmagem é interrompida.

Passei horas e dias lembrando disso e me emocionava sempre... Não tive vontade de mostrar o video para ninguém e todas às vezes, que me sentia triste com falta de algo eu buscava por esse video. Até que um dia perdi todas as imagens e vídeos nele... Mas não carecia mais do video. Entendi e perdoei qualquer dor em mim.

E todas às vezes uma borboleta-vermelha com suas asas de bolas azuis, sentava em minha janela ou entrava em minha sala... Eu me aconchegava no novo sofá felpudo e macio que comprei para dormir, quantas horas fossem necessárias

 

Monet Carmo
Enviado por Monet Carmo em 14/05/2023
Código do texto: T7788214
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