Infidelidade

 

        Quando a mulher de Edgar abriu os olhos naquela manhã, o relógio marcava nove horas e quinze minutos. O espesso cortinado, e o tapa sol do mesmo tamanho, deixavam o quarto quase tão escuro durante o dia quanto ficava à noite. Ela bocejou preguiçosamente, rolou para o lado e pegou o telefone na mesa de cabeceira. Seu marido não estava em casa. Já estava no trabalho há quase duas horas. Geralmente acorda às seis, deixa Enzo no colégio às sete e chega na empresa por volta de sete e meia. Aqueles que o conhecem, geralmente dão testemunho de que é um bom marido e igualmente bom pai. No trabalho não chega a ser o engraçadinho da turma, mas figura entre os bem humorados. Naquela manhã, porém, parecia perturbado com alguma coisa e tinha uma expressão sombria…

 

 

Trajando apenas uma calcinha minúscula, a mulher de Edgar tinha um sorriso lascivo no rosto enquanto trocava mensagens com um interlocutor que despejava obscenidades em seu smartphone. Com a câmera do aparelho ligada, ela exibia as curvas do corpo semidesnudo, preservando apenas o rosto durante a filmagem. A outra pessoa, no entanto, não se importava em mostrar a face e menos ainda as proporções de sua virilidade em ângulos diversos. A dupla, todavia, desconhecia o fato de que suas mensagens estavam sendo monitoradas naquele momento. As palavras libidinosas, as fotografias despudoradas e cada violação das regras do matrimônio eram vistas por outros olhos também...

 

 

Ana, a esposa do homem que trocava palavras e fotos com a mulher de Edgar, também estava no trabalho. Segurava o telefone e este era-lhe por testemunha do quanto suportara o comportamento do marido passivamente. Jamais achou que chegaria ao ponto de fazer o que faria, mas estava determinada. Ainda assim, as lágrimas em profusão banhavam-lhe o rosto.

 

Por que meu marido tem feito isso comigo? Sou uma mulher bonita, carinhosa e tenho sido fiel a vida toda… Por quê?!

 

Ana, de fato, era uma mulher relativamente formosa e, em razão disso, bastante assediada. Não tinha a esteticidade de uma assistente de palco de programa de tevê, porém era atraente e seu modo de andar deveras gracioso. Apesar disso, mantinha a postura de uma mulher casada, não ensejando qualquer manifestação desrespeitosa por parte de seus admiradores.

 

 

A dupla de infiéis prorrogou a conversa até às dez da manhã. Determinaram que se encontrariam às onze e meia no estacionamento de um shopping que dista cerca de dois quilômetros do motel para onde regularmente vão. A avó de Enzo, como de costume, ficaria com o menino à tarde. Acreditava que a filha estaria na academia e talvez demorasse um pouco mais porque tinha de buscar uma encomenda na casa de determinada amiga.

 

 

Edgar saiu mais cedo do trabalho e dirigiu resoluto rumo ao evento que mudaria sua vida para sempre. O destino: um motel próximo a determinado shopping… Ao mesmo tempo, Ana, a mulher cujo marido a estava traindo, também se dirigia para o mesmo local, porém num veículo de aplicativo. Ela estava aflita; suas mãos tremiam em razão do que estava prestes a fazer…

 

 

Às onze e quarenta, o carro com a mulher de Edgar e seu amante chegou ao motel. O veículo reduziu a velocidade para entrar e nesse momento alguém se aproximou e apontou uma Glock G19 para o motorista. Antes que o homem ou a mulher no banco do carona pudessem dizer qualquer coisa, quinze tiros foram disparados à queima roupa. Ambos morreram na hora. A mulher que efetuou os disparos cuspiu no cadáver do homem…

 

— Eu te avisei que se me traísse de novo seria a última vez que faria isso! Não sou a idiota da tua mulher que abaixa a cabeça para as tuas cretinices!

 

 

Cerca de quinhentos metros dali, sem saber de absolutamente nada do que havia acontecido, Edgar e Ana faziam amor na suíte master de um motel. Planejaram o encontro apenas para dar o troco aos infiéis, mas sentiram um pelo outro mais que apenas desejo carnal...

Netokof
Enviado por Netokof em 23/05/2023
Reeditado em 24/05/2023
Código do texto: T7795148
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