O abandono (microconto).

Passei todo esse tempo planejando, tudo querendo dar certo, sei que há-de estar comigo a graça de quem age corretamente. Aproveitarei o dia, até lá. Ansiedade mata o espírito, assim estragarei minha paz a troco do que há dias se constrói cuidadosamente. Todos os pontos estão ligados, eu sei. Cuidei de tudo, apesar de nem tudo estar em minhas mãos, pois dependo de mais alguém; porém, sei estar tudo direito, por parte dessa pessoa. Atravessar o precipício sobre a fina linha da harmonia. Preciso me acalmar, meus pelos já se arrepiam.

Inspira... Um... dois... três... quatro...

Expira... Quatro... três... dois... um...

Plantei sementes selecionadas, e as nutri de néctar divino, vivi esses momentos com o capricho de um anjo. Surgirá uma planta forte, bela. Preciso respirar, não me deixar levar pelo nervosismo. As coisas demoram, mas nos desesperamos quando o último minuto chega, e é aí que muitos espalham a terra para ver o que há com as sementes ainda não germinadas. Esperar é necessário. Cada passo é se aproximar disso. Estou tremendo, sinto frio e pontadas no coração; já não controlo a respiração. Não! Estou convencido do que fiz. Mas... nem tudo é regido por mim... Ai!

Estou diante do meu palco, com tantos olhos voltados para minha direção. Não sou apenas eu. Essa peça deve ter alguém ao meu lado. Cadê? Onde está você? Por que faltou? Não sei o que fazer, sinto que meu corpo se estilhaça como vidro... Por que me deixou sozinho?

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 29/05/2023
Código do texto: T7800621
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