O ESQUEMA DO COMERCIANTE

Naquele tempo (não há necessidade de precisar á época) predominava a comercialização de algodão. Muitos agricultores rurais produziam e procuravam pelos compradores que não era nada fácil encontrá-los, o único estabelecimento que interessava-se pelo produto pertencia um mestiço com sotaque europeu que era conhecido por Brás. Ele vinha de Portugal e estabeleceu-se em Moçambique algures da cidade de Nampula, por muito tempo dedicou-se na compra e venda de algodão, comprava dos agricultores e vendia para as indústrias transformadoras.

O seu negócio andava a mil maravilhas. Até que um certo dia o jovem Mapanda quis vender seu algodão, mas não entendia muito do negócio porque era novo no ramo da produção, até que ouviu falar do famoso Brás, então este foi ao estabelecimento do Brás onde a princípio foi bem recebido - Até então; tudo certo - O Mapanda levava consigo uma saca enorme de algodão e acreditava que quantidade excessiva que tinha colocado nela passava dos cinquenta quilos.

O Brás olhou para o rosto esperançoso do Mapanda e sorriu de sarcasmo, de seguida aproximou-se da sua balança e pediu que o Mapanda colocasse, a saca na base da balança para iniciar com as negociações, feito isto o Mapanda ficou em choque - ninguém lhe contou, viu sozinho - que o peso do seu algodão não chegava e pouco aproximava a metade de cinquenta quilos. Enquanto este tentava entender porque seu algodão não pesou de acordo com a sua estimativa, o Brás rapidamente registou a compra e deu-lhe vinte contos alegando que este era o valor do seu produto.

O Mapanda ficou sem perceber o que tinha acontecido, levou os vinte contos e parou no lado de fora do estabelecimento e passou a questionar os outros agricultores tentado encontrar uma resposta para sua dúvida, porque acreditava que tinha sido aldrabado, mas ninguém conseguia explica-lhe o certo, apesar que todos sentiam que algo estava errado, mas ninguém reclamava. Naquele estante este observou o Brás dentro do estabelecimento fazendo movimentos estranhos, e perguntou-se porque sempre que um agricultor entra com uma carga no estabelecimento o Brás aproxima a sua balança e coloca o pé esquerdo por trás dela - Aí ficou a sua curiosidade e armou-se em detective -.

Quando todos agricultores foram-se embora o Mapanda esperou que todos no estabelecimento estivessem distraídos e entrou indo diretamente ao lado da balança, por lá este viu uma espécie de pedal ligada a balança, por curiosidade colocou seu pé nele precionando para baixo, e viu a base da balança levantando e a agulha correndo o sentido contrário. O Brás o viu. Então perguntou-lhe:

- Então infeliz, o que fazes aqui?

- Olha que infeliz és tu, andas a roubar-nos? Conto a todos que não passas de um charlatão!

- Não contes isto a ninguém Proíbo-lhe percebes? Pro-í-bo-lhe, e saí daqui antes que eu chame o Xipanga - O Xipanga era o seu fiel guarda costas, grandalhão e incivil - que ao ouvir o seu nome no diálogo pegou o Mapanda pela gola e o jogou para fora do estabelecimento. O probre Mapanda na rua, sentido-se ao ar livre, cobrou o ânimo e disse aos seus botões: - Ainda envergonho este gajo, custe o que custar! - Não demorou muito e três dias depois do incidente o Mapanda teve a ousadia de colocar pedras sobre o algodão dentro da sua saca e levou montado em um burro para o estabelecimento. Quando o Brás viu o Mapanda aproximando-se do seu estabelecimento pensou em expulsá-lo, mas não quis gerar uma confusão porque encontravam-se muitos agricultores no recinto. Então o Brás aproximou-se da sua balança e colocou seu pé sobre o pedal sem ninguém perceber, e mandou que Mapanda passasse na frente da fila com seu produto com a intenção de debochar, dele. - Olha que o Brás estava muito entusiasmado com a sua ideia maléfica - Então o Mapanda aceitou, mas reclamou do peso da sua carga, o Brás rapidamente ordenou que o Xipanga o ajudasse. Os homens pegaram de lados opostos da saca, e carregaram-na, quando aproximaram-se da balança o Mapanda soltou e jogou com muita força sobre a base da balança, e no mesmo estante o Brás não conseguiu manter seu pé no pedal e caiu passando vergonha na frente de todos. Esse incidente me lembrou do famoso ditado que diz (O feitiço virou contra o feiticeiro) e naquele estante o esquema do comerciante foi descoberto.

Nélio Da Costa José
Enviado por Nélio Da Costa José em 06/07/2023
Reeditado em 06/07/2023
Código do texto: T7830368
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.