O POETA

"A minha paixão é linda

Quando penso em ti

Minha mente fica a deriva"

Declama o jovem poeta, nas ruas da cidade, concentrando multidões de pessoas com a sua voz encantadora. As pessoas se enchem de emoção a cada rima por ele solta. Sim! Ele é o poeta conhecido como o "Rei do verso".

O poeta sempre expressou livremente seu amor pela arte, mas o que muitos não sabiam era que ele apenas amava a poesia e se inspirava na maioria das vezes pelos frutos da sua imaginação. Sempre foi aberto ao público, dizendo que nunca amou ninguém e não tinha uma musa. Seu talento era divino. Segundo o poeta, o amor é algo que normalmente pode ser sentido por algo ou por alguém, mas nunca sentiu algo "anormal", especialmente por uma mulher. Ele jurava que o amor que deixava os homens loucos não era feito para si. Acreditava saber tudo sobre o amor, seu coração estava corrompido de conhecimento e que não era necessário ter uma parceria para amar ou ser amado.

Um certo dia, o poeta encontrava-se no parque da cidade onde sempre exercia suas atividades. Quanto mais pessoas apareciam no local, mais dinheiro ganhava, e as pessoas sempre se comoviam pelos seus versos. Neste dia, um certo promotor de eventos que acompanhava as atuações do poeta decidiu convidá-lo para uma festa cultural que iria acontecer algumas semanas depois. Ele ficou muito emocionado e com muitas expectativas de poder encarar um público maior. Passou dias se preparando de boa forma para fazer vibrar a plateia.

Três dias antes desta festa, o poeta recebeu um pagamento adiantado e em seguida uma mensagem do promotor pedindo que este usasse um pouco deste dinheiro para comprar uma boa roupa para sua apresentação. Assim que leu a mensagem, dirigiu-se ao ATM mais perto e colocou-se na fila esperando sua vez para fazer o levantamento e seguir com o pagamento dos vestuários. Enquanto tolerava a fila, alguns fãs que o conheciam o saudavam, outros que apenas ouviam falar dele admiravam-no ao ponto de não acreditar que aquele era o "Rei do verso". Naquele momento meio agitado, uma moça se aproximou e perguntou por que ele era chamado de "Rei do verso". Ele sorriu e explicou por que as pessoas o tratavam desta forma, e perguntou como se chamava a moça:

- Sou a Cristina - respondeu a moça.

- Prazer, eu sou o Poeta conhecido como "Rei do verso". E tu, Cristina, moras aqui na cidade?

- Sim, sou nova na cidade, mas nunca ouvi falar de ti. Talvez por ser nova mesmo. No momento já estou ansiosa para assistir a uma atuação sua.

- Sério? Então receba este bilhete e venha participar no evento festivo do sábado daqui a três dias. Estarei por lá. Seria um prazer ter alguém como tu no meu público.

Neste instante, Cristina ficou muito emocionada com a forma como o poeta a tratou e garantiu que iria fazer parte do público no dia do evento. Durante aquela abordagem, o poeta percebeu que a moça estava muito emocionada e quis se exibir de uma boa forma, dizendo para a moça que se ela fosse ao evento, ele faria uma apresentação prestando homenagem a ela. Segundo ele, ela era perfeita demais. Vendo a emoção da moça naquele momento, o poeta não se conteve e fez a proposta. A moça perguntou por que tudo aquilo se acabavam de conhecer-se.

- Tu és muito bonita. Desde que chegaste na fila, roubaste-me a atenção. Tua pele é radiante, o que me fez pensar mil vezes antes de te abordar. Mas tive que manter a calma porque algo me disse que virias até mim - respondeu o Poeta com os olhos melancólicos.

- Wow! Admira Cristina.

E como já estavam conversando há algum tempo, ela despediu-se do poeta e garantiu que viria naquele dia que por eles era esperado ansiosamente.

Assim que a Cristina foi se embora, o Poeta fez o levantamento do valor necessário para suas vestes e saiu correndo para comprar tudo em pouco tempo. Ao voltar para casa, ele intensificou sua preparação para o dia da festa.

O Poeta sentia que estava apaixonado, mas acreditava que era apenas um momento emocionante de inspiração. Durante sua preparação, ele passou muito tempo pensando em Cristina e notando detalhes sobre ela, que poderia usar para criar um poema eletrizante. Ele pensava nos olhos castanhos, nos lábios suculentos e na pele brilhante dela. Quanto mais ele procurava por detalhes caprichosos, mais profundos eram seus pensamentos sobre Cristina. No momento de escrever o poema, ele fez as rimas:

"Cris, sou o poeta, este momento me alegra,

Enfeitiçado por ti estou, minha negra.

Estou na metade da minha vida sem nenhuma parceira,

Mas contigo quero ficar a qualquer custo e de qualquer maneira.

Eu sou o Poeta "Rei do verso", tu já sabes tudo sobre mim,

E como a gente fica, me diz tu, bela Cris."

A cada rima elaborada, o Poeta se apaixonava mais pelo poema e simultaneamente por Cristina. No entanto, seu ego solitário o fazia acreditar que era apenas um momento de inspiração. Dois dias antes do evento, o Poeta inventou uma desculpa dizendo que era parte da preparação da homenagem e pediu para encontrar-se com Cristina. Quando se encontraram, o Poeta observou atentamente todos os movimentos dela e percebeu que sua voz estava tensa e seu rosto pálido ao falar. Apesar dos sinais evidentes de estar apaixonado, o Poeta negava em seu coração que fosse possível. Naquele momento, ele se sentia completamente tímido na presença de Cristina. O encontro não durou muito tempo e ele pediu para ela ir mais cedo ao evento no sábado.

Um dia antes do evento, o poeta decidiu não ter contato com Cristina e se concentrar apenas no trabalho. Poucos minutos depois, ele começou a sofrer mentalmente, pensando em como seria se Cristina fizesse parte de sua vida e ele fizesse parte da vida dela. Ficava cada vez mais confuso, pois não entendia como alguém considerado um mestre do conhecimento sobre o amor estaria tão descontrolado por uma pessoa que conhecera apenas três dias atrás. O dia passou lentamente, o poeta terminou o poema e se preparou para sua apresentação no dia seguinte.

No dia do evento, o poeta chegou cedo ao local, entusiasmado, e assistiu a outros artistas que abriram o festival cultural. No entanto, ele percebeu que Cristina ainda não havia chegado e ficou silencioso. Ninguém queria falar sobre isso, pois era um momento de festa. O poeta não deixava de olhar para o público a cada segundo que passava, prestando atenção na bancada reservada para Cristina, que ainda estava vazia, enquanto sua hora de se apresentar se aproximava. Alguns minutos depois, chegou a vez de sua apresentação. Meio triste, subiu ao palco e deu o melhor de si, como sempre, declamando o poema que havia escrito em homenagem à sua fã, Cris. Muitas moças que tinham o mesmo nome da musa do poeta sentiram-se especiais. Após descer do palco, o poeta decidiu ir embora. Assim que saiu do estabelecimento, percebeu que havia uma multidão que não conseguiu entrar para assistir aos artistas, pois o local estava lotado. Ao ver a aglomeração, o poeta encheu-se de esperanças e começou a procurar por Cristina, mas não a encontrava e, simplesmente, desistiu e quis sair dali.

Naquele exato momento, alguém chamou pelo seu nome, "POETA". Seu coração bateu forte e ele notou algo muito familiar naquela voz. Ele foi em direção à pessoa que o chamava e, ao chegar naquele cantinho, viu seis jovens conversando normalmente, um pouco afastados da multidão, e Cristina estava entre eles. Ele educadamente cumprimentou a todos e se apresentou. Em seguida, Cristina apresentou seus amigos ao poeta, explicando que não conseguiu entrar para assistir à apresentação devido à grande aglomeração, e que não quis entrar sozinha e deixar seus amigos para trás por causa de uma companhia muito especial. Aí, ela mencionou seu namorado, Salazar.

- Quem é essa pessoa muito especial? - perguntou o poeta.

- Meu namorado Salazar - respondeu Cristina.

- Você tem um namorado? - perguntou o poeta, decepcionado.

- Sim, tenho um namorado, Poeta. Este é o Salazar, meu namorado. Salazar, este é o Poeta, meu amigo artista, conhecido como o "Rei do verso" - Com um sorriso no resto a Cristina fez a apresentação.

- Prazer, sou o Salazar. Ouvi muitas coisas sobre você, Poeta - disse Salazar sentido muito lisonjeado por finalmente conhecer o "Rei do verso"

- Prazer é todo meu, Salazar. Obrigado - respondeu o poeta, com um sorriso maroto no rosto.

O poeta sorriu, sem acreditar no que estava acontecendo, despedindo-se de todos em seguida foi se embora.

Nos dias seguintes, o poeta não quis entender o que havia acontecido nos últimos três dias. Ele pensou que se refletisse sobre o assunto, ficaria mais confuso e triste. Prometeu a si mesmo que esqueceria tudo aquilo que havia acontecido de uma vez por todas e que, a partir daquele momento, se concentraria apenas no trabalho que realmente amava.

Nélio Da Costa José
Enviado por Nélio Da Costa José em 06/07/2023
Código do texto: T7830492
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