A Pisadeira

Em uma noite sombria e tempestuosa, na pacata cidade do interior, envolta por densas florestas e cercada por montanhas imponentes, Joãozinho se encontrava em sua casa. O vento uivava sinistramente e as árvores rangeram como se sussurrassem segredos obscuros. As ruas vazias estavam envoltas em uma névoa densa, que parecia esconder criaturas sobrenaturais espreitando nas sombras.

As casas de madeira rangiam ao vento, enquanto a escuridão se infiltrava pelos cantos, criando uma atmosfera opressiva. O garoto sentia arrepios percorrerem sua espinha e um medo profundo se instalava em seu coração. Ele se questionava se a Pisadeira era apenas uma lenda, ou se de fato, uma presença maligna perambulava pela cidade.

Joãozinho, desde muito pequeno, ouvia as histórias assustadoras contadas pelos mais velhos da cidade. Entre todas as lendas macabras, a da Pisadeira era a mais temida. Dizia-se que ela surgia durante a noite, quando a lua se escondia por trás das nuvens, para assombrar aqueles que se entregavam aos excessos da gula,

Naquela noite, ele estava deitado em seu quarto, com a barriga cheia após um jantar farto. A escuridão envolvia o ambiente, com apenas um feixe tênue de luz da lua infiltrando-se pelas frestas da janela. O garoto adormeceu rapidamente, mas logo foi despertado por uma sensação desconfortável em seu estômago.

Joãozinho abriu os olhos e, para sua surpresa, viu uma figura sombria de pé ao lado de sua cama. Era a Pisadeira, com suas feições assustadoras e olhos faiscantes. O coração do garoto disparou de medo e ele tentou desesperadamente se afastar da criatura. "Por favor, não me machuque!", sussurrou Joãozinho, tremendo de medo.

Mas, para sua surpresa, a Pisadeira apenas sorriu maliciosamente e, com um movimento lento, levantou o pé e o posicionou sobre o estômago de Joãozinho. Uma pressão desconfortável tomou conta do garoto, fazendo-o se contorcer de dor.

Com lágrimas nos olhos, Joãozinho lutou para escapar do aperto da Pisadeira. Seu corpo se contorcia freneticamente enquanto tentava se libertar, mas a presença da Pisadeira parecia dominar o quarto.

No entanto, enquanto se debatia em meio ao tormento, Joãozinho começou a sentir uma dor mais intensa em seu estômago. Um arroto desajeitado escapou de seus lábios, seguido por um alívio repentino.

Foi então que Joãozinho percebeu que a Pisadeira não era uma criatura sobrenatural, mas sim sua própria indigestão causada pelo jantar pesado. O alívio se misturou ao constrangimento, e ele riu de si mesmo por ter acreditado na presença assustadora.

Com o coração ainda acelerado, Joãozinho levantou-se da cama e abriu as cortinas, deixando a luz da lua banhar o quarto. A escuridão foi dissipada e o quarto recuperou sua atmosfera tranquila.

E assim, enquanto a lenda da Pisadeira continuava a assombrar os corações dos moradores da cidade, Joãozinho compartilhava sua história, deixando um suspense no ar. Ele percebeu que, às vezes, é melhor "dormir com um olho aberto e outro fechado", pois o desconhecido pode estar mais próximo do que imaginamos, pronto para nos surpreender com seu terror. Afinal, as lendas populares têm suas raízes na realidade e é melhor estarmos preparados para o inesperado.