QUEM MATOU GEZEBEL ? – PARTE FINAL .

 

    No capítulo anterior, logo cedo quando se dirigia a padaria para comprar pão, o porteiro de um edifício de três andares numa tranquila rua de um bairro de classe média descobriu o corpo ensanguentado de Gezebel.

    Ao lado do corpo também foi encontrado um tijolo, que não deixava nenhuma dúvida ter sido a arma do crime. Preocupada com a repercussão negativa do caso, a síndica convocou uma reunião de emergência no seu apartamento, tendo inclusive o porteiro comparecido para testemunhar.

    Na conversa inicial todos negaram qualquer participação no macabro acontecimento, mas no íntimo nenhum deles conseguia esconder a satisfação por terem se livrado de Gezebel.

    A vizinha do 301 não disfarçava mais o sorriso cínico e seu marido, o ranzinza, percebendo a fisionomia da mulher, começou a rir. Seu riso no inicio foi discreto mas logo se transformou numa sonora e incontrolável gargalhada.

    Os casais do 201 e 202 não se fizeram de rogados e logo acompanharam os vizinhos, com estrondosas gargalhadas. De repente o ambiente que parecia ser de autentico velório sem corpo presente, transformou-se numa enorme farra e com certeza se não fosse tão cedo, a síndica teria servido cerveja bem gelada para os presentes.

    Não havia nenhuma dúvida do quanto Gezebel era indesejável. Entretanto, o problema persistia pois além da remoção do cadáver o ranzinza do 301, tomando a frente das novas decisões, levantou novamente a questão sobre quem tinha matado a Gezebel.

    Não que ela fizesse falta ou isso fosse importante, mas era só por curiosidade. Se fosse descoberto ou se auto- denunciasse o autor seria reconhecido, de certa forma, como um pequeno herói.

    Novamente, longo silêncio na sala. A mulher do 102, a que dissera ter ido dormir cedo porque estava indisposta , pigarreou e pediu a palavra. Disse que tinha mentido e que na verdade não foi se deitar mais cedo.

    Tinha esperado o marido dormir e desceu as escondidas até os fundos do prédio para fumar . O marido não gostava. Segundo ela, eram quase uma hora da manhã, quando ouviu passos. Escondeu-se entre os carros e viu o vizinho do 202 andando sorrateiramente , dirigindo-se até ao jardim.

    Carregava um pequeno saco preto de lixo e estava tão preocupado de não ser visto por ninguém que tal fato a deixou desconfiada.

    Descoberto, o vizinho acabou confessando o que tinha acontecido. É que quando saiu do apartamento dos vizinhos do 201 depois do jogo de baralho, ganhou um pedaço grande da pizza que tinha sobrado e que por ter sido preparada pela dona da casa não teve como recusar.

    A pizza estava horrível e portanto ele tinha aproveitado a madrugada para jogá-la fora, sem que ninguém pudesse ver.

    Como era a hora da verdade, o vizinho do 101 também resolveu confessar uma coisa. Disse que quando chegou da festa, realmente depois de 1 hora da manhã, viu o porteiro de longe no momento em que entrava em casa.

    A mulher e o filho subiram na frente e quando percebeu que estava sozinho na garagem, resolveu pregar uma peça no vizinho do 301. Olhou para os lados e não vendo ninguém, simplesmente urinou nos pneus do carro do ranzinza.

    O ranzinza ficou vermelho de raiva, mas foi contido pela sua mulher, a que pouco falava, só ria. Ela informou aos presentes que era o seu marido quem rabiscava as paredes e também urinava nos pneus dos carros dos moradores.

    Depois de tantas confissões, revelações e desabafos todos, sem exceção, absolutamente constrangidos e sem se despedirem foram se retirando um a um para suas casas, até por quê, cada um deles sempre cometia algum delito às escondidas.

    O que aconteceu a partir daí foi o seguinte : os carros não amanheceram mais com cheiro de urina, as paredes do condomínio foram pintadas e nunca mais rabiscadas. O jogo de baralho aos sábados passou a contar com quase todos os moradores, o ranzinza ficou tão popular que algum tempo depois foi nomeado o novo síndico e a mulher do 102 não precisou mais fumar escondido.

    Além disso , a vizinha do 201 nunca mais quis fazer pizza caseira e o porteiro, principalmente aos sábados, passou a dormir um pouco mais tarde.

  Mas quem era Gezebel ? E porque não foi respondida a pergunta : quem matou Gezebel ? Vamos por etapas, aos poucos.

    Gezebel era uma gata, estava sempre no cio e adorava miar e perturbar o sono dos moradores nas madrugadas. Também tinha um defeito, gostava de dormir em cima do capô dos carros.

    E como ela morreu ? Quem a matou ? Ninguém matou Gezebel !

    O que aconteceu foi o seguinte : na parte dos fundos estavam construindo outro prédio de apartamentos, muito maior do que aquele que tinha sido adotado pela gata.

    Naquela madrugada, não se sabe como ela estava no beiral da construção, certamente ronronando para outro ou outros gatos quando pisou em falso, perdeu o equilíbrio e tentou se agarrar num tijolo que estava na beirada.

    O tijolo, lógico, não aguentou o peso de Gezebel , foi escorregando e caíram os dois. Por azar, a gata caiu primeiro e o tijolo logo em seguida, bem na sua cabeça. Morreu na hora.

 

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NOTA : como era o mais inocente na história, o porteiro ficou encarregado de remover o cadáver.




(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 27/12/2007
Reeditado em 05/01/2013
Código do texto: T793025
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