O frio que vem de dentro

Estava cansada. Deitei sem tomar banho. Não tinha ânimo nenhum para encarar a água fria do chuveiro que teimava em gotejar. Momentos antes ouvi um estrondo e tudo escureceu. Ouvi meu filho gritando, do quarto ao lado, que estávamos sem luz e avisou que já estava deitado. Chovia forte e o vento uivava nas frestas da velha casa. Enrolei-me nas cobertas e fechei os olhos, queria dormir. Esquecer de tudo por algumas horas e quem sabe sonhar com um dia ensolarado num paraíso tropical pegando sol na beira do mar, vendo o pequeno juntando conchinhas, alegremente.

Estava naquele momento em que não temos certeza se ainda estamos acordados ou demos um passo em falso no abismo mais profundo. Senti um abraço gelado por baixo das cobertas. No mesmo instante meu corpo enrijeceu de terror e frio. Uma friagem tomou conta de mim e não consegui me mexer nem gritar. Um sussurro fez minha garganta travar e no escuro não enxergava nada.

O abraço apertou-me mais e mais pra perto e eu escorreguei bem devagar para dentro do corpo gélido e mole e desde então, só sinto vontade de ficar na cama. A cada toque meu, o filho reclama:

- Mamãe como você está fria!