"A Masmorra" 3ª Parte

3ª Parte

Acordei achando que tudo era um terrível pesadelo. Quando abri os olhos e vi aqueles fios e senti a minha doída impotência em movimentar qualquer membro, minhas esperanças se evaporaram. Meu estado era real e irreversível.

Desesperadamente meus pensamentos se voltaram para Juliana. Por mais que eu buscasse algum consolo, alguma luz, acabava sempre me torturando com minhas lembranças doentias.

Não me conformava, de jeito nenhum, com aquela situação. Sempre tivemos uma relação clara e honesta. Porque ela não se abriu comigo? Eu podia até ficar um pouco triste, mas iria compreender, sem dúvida. Éramos tão amigos...tão...

Deixei tanta coisa para trás. Tanta coisa inacabada. Tantos projetos! Guardei muita champagne para momentos especiais. E agora? Quem vai se aproveitar das minhas economias? Quem vai tomar os meus vinhos?...e comer a minha mulher?

Automaticamente repassei amores antigos, ou nem tanto amores mais talvez pequenos namoros ou apenas alguns casos não concretizados.

Paula parecia querer algum relacionamento comigo. Era sempre simpática e me elogiava. Às vezes trazia com alguma dúvida para poder se aproximar. Nas festas de final de ano, sempre se sentava ao meu lado. Recusava convites para dançar, menos comigo. Senti seu corpo estremecer ao colar no meu. Mas não passou disso. Tinha um enorme respeito pela Juliana. Não me sentia bem, apesar do tesão contido. Era apenas atração física. Não quis me envolver, pois trabalhávamos juntos.

Eu estava me implodindo com pensamentos destruidores, mas não conseguia comandar sequer um dedo, quanto mais a mente.

Tentei me distrair com o mundo externo. Só agora me dei conta que havia mais um paciente no meu quarto. Ele também parecia entrevado. Estava horrível. Extremamente pálido, olhos fundos, roncava levemente. Vez ou outra dava um suspiro que parecia ser o derradeiro. Será que teve derrame também? Ele cheirava muito mal. Devia estar todo sujo ou já estava sendo comido pelos vermes. Ele dormia o tempo todo. È, meu chapa, nós estaremos, em breve livre deste mundo imundo.

Chegou a filha dele. Chorosa, trêmula passou a mão na cabeça dele. Beijou sua testa e sentou-se ao lado da cama, séria e pensativa. De vez em quando ela olhava para mim com olhar de pena. Perguntou a enfermeira o que havia acontecido comigo e soltou um “coitado”. Passados alguns minutos ela se foi desconsolada.

Comecei a imaginar uma história para aquele cara. A princípio eu considerei que ele era um industrial riquíssimo e ela, sua esposa bela e fogosa. Ela tinha um amante mais novo e trapaceiro, então resolveram acabar com ele para herdar sua fortuna. Que bobagem!

O que Juliana estará fazendo agora? Que dia é hoje?Alguém pode me matar, por favor!

(continua)