Na Noite da Grande Estréia

"Finalmente, o ódio, que julga ser a antítese do Amor, não é senão o próprio Amor que adoeceu gravemente."

~ André Luiz.

- Olha! O circo está de volta! - uma voz indefinida soou em meio a alegria amontoada ao redor da estação, vendo o trem do circo chegar a cidade.

De uma janela, uma menina observava tudo. "Olha! O circo está de volta!", ela escutou. E se lamentou.

O circo se hospedara na cidade. Estava já montado, mas ainda faltavam alguns ajustes. Treinar, treinar, treinar... Treinar para abrir a temporada com uma grande estréia, tudo haveria de ser perfeito. Do cabo, a sete metro do chão, a menina equilibrava-se, apoiada em sua própria fé e desgraça. Qualquer deslize poderia ser o último. Ela observava seu triste fardo e se lamentava.

- Hoje é a grande estréia! Ninguém pode perder!

Naquela noite, tudo ocorria bem. As estrelas embelezavam a abóbada celeste, rostos felizes, circo cheio, dinheiro no bolso... Talvez fosse a melhor apresentação daquele circo, se...

Subitamente, um incêndio. Um palhaço descuidado o causara. O incêndio impediu todos de saírem da lona a tempo... Só o domador que encontrou seu fim de outra forma: quando a confusão começou, o leão se deleitou da sua falta de atenção e deu-lhe um abraço de adeus...

Mas, ao longe - bem ao longe -, havia uma figura fugidia. Fugira sem saber do que o destino armara contra o circo fatídico. A jovem equilibrista, regida pelo estrelado firmamento, observava, com uma indescritível felicidade e um sorriso ambíguo, o circo pegar fogo.

(CaosCidade Maravilhosa, 27 de março de 2007. Este conto pertence ao meu projeto "Contos Surreais - Quimera & Senso".)