†PESADELOS†

Ao cair à noite adormeci....

O frio que sentia não gelava meu corpo, no entanto, tomava de temor meu ventre quando o calor dos primeiros raios de sol tocava meu rosto. Aflito observei, vasculhei meu corpo a procura de uma gota por mínima que fosse de sangue, que a força haveria sido extraída de minhas veias. Por sorte nem arranhões somente vestes sujas e empoeiradas e um dorido na fronte que me turvava a vista.

Um vazio a memória me tornara cauto, por não saber o motivo de tanta ânsia. O lugar onde me abrigara sufocava meus pensamentos. O odor que sentia me vertiginava, um cheiro acre de mofo e um fino quase extinto olor de lavanda, que acho eu emanava de lençóis velhos logo abaixo de mim.

Dormira eu dentro de um desses carros plásticos de forma quadrada com rodas abaixo, de varias finalidades, de transporte de imundices fétidas e putrefatas a materiais estéreis de uso hospitalar. Tais fatos me faziam crer estar em uma lavanderia.

Acabado o momento em vão de reflexão, onde regressava os passos só achando respostas vagas, deparei-me com a certeza de que estava demasiado exposto naquele cubículo mofado. Com movimentos leves como de um debilitado abro lentamente a tampa do abrigo traiçoeiro deixando um pequeno espaço para que os olhos vissem apenas a imagem que não deixara de me amedrontar ainda mais.

O lugar era avelhantado, com colunas férreas e enferrujadas, no teto restos de telha de amianto gotejando água proveniente das tubulações degradadas pelo tempo. As paredes sujas e tomadas pelo limo davam um ar úmido ao ambiente. Pelo chão, carcaça de antigas lavadoras, centrifugas arcaicas, apenas bolas oxidadas e imprestáveis.

Meu peito acelera novamente ao descer a vista ao chão, piso de concreto, esburacado, encoberto por uma fina camada de lama, detalhe este sem valor, a não ser pelas pegadas que levava ao meu abrigo, detalhe este obvio e concebível, a não ser pelo fato de terem dois pares que vinham a minha direção.

O medo incontrolável me tomava e me forçava pelo instinto a fugir impetuosamente aos berros dali, mas um lapso de razão me trouxe a prudência.

Sai do carro sem o menor ruído, o que parecia impossível, olhei para os lados e notei que sem opção segura estava. Fitei o chão e vi que as pegadas que não cabiam a mim seguiam para certa direção. Então resolvi ir contrario as que se estendiam mais a frente, com a suposição de que ao fim delas estaria a minha tênue liberdade.

Caminhei manso sobre aquela fina lama, fugindo daquela sala medonha, adentrei numa de porte menor, para a minha tristeza as pegadas cessaram, pois ali só havia poeira ao chão. À minha frente duas portas, entrei pela que tinha a luz do dia a passar pelas frestas.

Qual foi a minha alegria ao ver a saída, corri o mais depressa que pude sem temor algum, sai do Érebo às pressas, a claridade do dia me cegara momentaneamente, assim corri por entre os capinzais salientes que cercavam aquele museu de tormentos. Nem pelas costas olhei de tão receoso, porem o ouvido não surdo me fez estremecer e impulsionar meus passos ainda mais, alguém me chamou a atenção. O sangue percorreu rapidamente as veias a partir daí ouvi somente a ofegante respiração que me ritmava. Vi algo familiar que me deu uma esperança vã, meu carro parado a alguns metros de mim, mais as chaves, onde estariam? Notei também que estava amassado. Continuei a correr por entre os matos, subi um pequeno morro e ao descer estaria a salvo?Uma estrada um tanto movimentada avistei. Aquela voz gritava palavras que meu ouvido emproado se fazia surdo ao perceber.

Na agonia do perigo vindo a mim e a chance do escape, veio à tona as lembranças bloqueadas, como num curta-metragem. Lembrei quem me perseguira, o motivo de estar ali, o porquê de tudo. Então tudo ficou claro. Quase sem forças pensando somente em salvar-me o medo dominou meus pés fazendo-me correr mais e mais.

Aquela voz ofegante me era familiar mais eu não me arriscava a olhar tentando ignorar o quão perto estaria de mim. Cheguei finalmente à estrada que parecia inalcançável desviei de um veiculo que passou a buzinar por mim, atordoado sem a menor noção do perigo sob rodas que vinha ao meu encontro parei ao meio da estrada e pus-me a acenar como louco a espera que alguém parasse, aquela voz gritava coisas do lado da estrada que eu ignorava, gritava meu nome e eu ignorava, a voz gritou seu nome, e eu parei confuso, olhei calmamente para o lado, um sorriso amigável, um momento calmo, um olhar de espanto, a voz gritou cuidado! ...E ao olhar para frente vi somente dois faróis em minha direção...

Foi quando senti o frio do medo em minhas entranhas e o calor dos primeiros raios de sol em meu rosto.

Ao surgir o sol despertei....

Ewerton Lages