PACTO MACABRO

1990...

Eram quatro amigos, todos loucos; e sempre que se encontravam juntos, coisa boa não saía dessa reunião.

Roubavam casas e carros por diversão, matavam gado de criadores no pasto (só para ver o tombo), cheiravam cocaína sem limites...até alucinar...viravam a noite acordados, bebendo Old Eight, dando cavalo de pau nos carros dos pais, empinando motos nas ruas do centro, em meio ao trânsito, enfim, eram arruaceiros.

Não tinham respeito por ninguém e apesar de serem filhos de boas famílias, eram todos mal-educados, não respeitavam os mais velhos, viviam se envolvendo com mulheres casadas, enfim, topavam qualquer parada.

Certo dia conheceram um rico empresário, e este os chamou para sua casa; e quando chegaram ficaram deslumbrados e fascinados com a riqueza...Cocaína pura, Chivas 12 anos, Marlboro...Uma Honda 750 Indi na garagem, ao lado do Opala Diplomata 4.1.

A piscina de água quente soltava fumaça, e todos entraram, relaxando, entre uma carreira e outra, goles de uísque e tragadas no tabaco...

O tal empresário, começou a se aproximar de um, de outro, disse que viajava aos E.U.A com frequência e se revelou gay.

No começo eles estranharam, depois resolveram entrar na onda, ou seja, retribuir tantos favores especiais e tanto luxo.

Um por um, fazendo tudo o que o bacana queria, até a satisfação total, todos prestaram favores sexuais...afinal, era um preço baixo por tudo o que estavam vivendo, por todas as regalias ofertadas.

Outras festinhas semelhantes sucederam, e sempre os quatro amigos, todos na "fita", todos na aba do bacana.

Um dia, os quatro amigos saíram de rolê, e encontraram um velho conhecido, que estava morando na capital paulista a muito tempo.

Perguntaram sobre a vida do velho amigo, e este disse que morava em São Paulo fazia algum tempo, que havia se envolvido com drogas injetáveis e chegou à beira da morte, e que infelizmente, havia contraído uma doença recém descoberta, incurável e mortal, chamada AIDS, para qual não havia remédio ou tratamento até o momento.

No trânsito da conversa, o conhecido comentou que outro velho amigo, empresário e gay, esteve em São Paulo naquela época e também estaria contaminado com o novo vírus, e que o mesmo já havia viajado até os E.U.A procurando tratamento para tentar prolongar a vida.

Quando os amigos começaram a desconfiar, perguntaram o nome do indivíduo, e a suspeita se confirmou: era o bacana.

Os quatro, se juntaram, cheirando pó, enquanto engendravam um plano...um dizia:

_Vamos matá-lo, ele vai espalhar a história e como a cidade é pequena, todos vão ficar sabendo que somos aidéticos.

Outro emendava:

_É o câncer gay, todos vão achar que somos viados, vamos acabar com ele...ele sabia que tinha e passou para a gente.

Outro dava a dica:

_Tem que parecer um acidente ! Ele vai pagar por isso !

O outro, mais contido e racional, dizia que era melhor "largar mão" disso, deixar prá lá...

Plano mal feito, conclusão pior ainda, um dia chegaram à casa do empresário e propuseram irem todos até uma cidade vizinha, onde havia uma Zona (Casa de Prostituição). No meio do caminho pediram para o bacana parar o carro em um pasto para darem uma "cafungada" e foi aí que começou a barbárie...

Deram uma gravata no indefeso empresário, tiraram-no do carro e passaram a agredí-lo, logo depois encontram uma pesada pedra e começaram a bater em sua cabeça com violência....o sangue jorrava no pasto e a vítima sempre de olhos abertos, pedido "pelo amor de Deus", mas eles não paravam...continuaram com a agressão até que um disse:

_O desgraçado não morre...

Deixaram ele caído no chão, quase inconsciente, entraram no carro e começaram a parte mais cruel: passavam em cima do empresário com seu próprio carro, primeiro de frente, depois engatavam marcha-ré e voltavam passando por cima, indo e vindo, até a vítima não mais esboçar reação alguma.

Dos quatro, somente um foi preso, pois fugiu da cidade e foi considerado o único culpado, já que os outros, pactuaram e descarregaram a autoria toda no foragido e foram ouvidos apenas como testemunhas.

Este que fugiu, foi preso e morreu de AIDS na cadeia, pagando sozinho por um crime cometido por mais três, e alguns dizem que ele foi o único que se opôs a matar o pobre coitado.

As lembranças são dolorosas para a família do falecido, que apesar de gay e doente, ajudava muita gente que dependia dele, como funcionários, irmãos e os pais.

Dizem que no lugar em que ele foi assassinado, nunca mais nasceu mato ou grama, ficando uma espécie de clareira em meio ao pasto que foi banhado com seu sangue.

FIM

BORGHA
Enviado por BORGHA em 08/04/2008
Reeditado em 08/04/2008
Código do texto: T936321
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.