Turista de cemitério II (Conto minimalista)

Em uma de suas visitas a cemitérios, numa das cidades vizinhas de onde morava, Tonhão parou em um bar para fazer um lanche, no horário do almoço. Num dos cantos, ele observou um senhor de meia idade. Magro e de olhar cadavérico, o homem vestia um paletó roxo. O velho turista fez seu lanche e saiu rumo ao cemitério para mais uma de suas aventuras.

Era um daqueles dias de inverno em que o céu escurece bem cedo. Tonhão passou a tarde olhando os túmulos. Fazia questão de ler todas as mensagens contidas nas lápides, inclusive datas de nascimento e morte. Às 17h40, pouco antes de fechar o cemitério, com o céu já bem escuro, ele avistou um paletó roxo pendurado na cruz de um dos túmulos e lembrou-se do homem que viu no bar.

Tonhão aproximou-se do local e, no momento em que ia tocar o paletó, ouviu grito, vindo de dentro de uma das capelas ao lado. – Não mexa em meu paletó. – Assustado e no desespero, ele saiu correndo do cemitério e nem olhou para ver quem havia dado o grito. Minutos depois, o coveiro saiu da capela, pegou seu paletó, dirigiu-se até a secretaria, assinou o livro ponto e foi descansar de mais um dia de trabalho.

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Obs.

Durante boa parte de minha infância morei bem ao do cemitério. Velórios, enterros, necrotério e tudo o que se relaciona a isso foi algo muito comum em minha vida de criança. Eu brincava dentro do cemitério e ouvi muitas histórias. Como músico, tive a oportunidade de tocar várias dezenas de vezes em sepultamentos de amigos. As histórias que tenho contado aqui não são novidades. Muitas até são consideradas causos do folclore e também lugar comum. A maioria dos casos que conto, ouvi de coveiros e pessoas que trabalham nesta difícil, mas tão necessária e nobre atividade profissional. Por isso, qualquer semelhança com outras histórias (creiam) é coincidência mesmo!

fiore carlos
Enviado por fiore carlos em 09/06/2008
Reeditado em 09/06/2008
Código do texto: T1026277
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