2002 - Diário de um Predador

Ele a observa há algum tempo.

Os dois estão em um vagão do metrô. Este sacoleja embalando seus caminhos.

A moça está em uma ponta ele na outra.

O anoitecer está longe de terminar.

O jovem sorri levemente ao encará-la e ela vira o rosto timidamente.

A camiseta da garota roqueira era a capa de um disco do Iron Maiden, Purgatory, com metade do rosto do Eddie e a outra metade do demônio.

O índio de longos cabelos negros volta a sorrir quando ela se levanta.

Pensa em segui-la, mas deixa para lá.

Tinha mais o que fazer.

Quando a porta do metrô se fecha, ela procura olha-lo uma última vez.

Para sua surpresa o rapaz está de pé, junto à porta.

Finalmente ela sorri o que enche o rapaz de alegria.

A garota encosta a mão no vidro, e o jovem sente o desejo indefinível de imitar o gesto.

Quando o metrô dá um sacolejo, pronto para partir algo acontece.

Ela pisca com espanto. Não pode acreditar.

Os dentes dele estão maiores.

A garota se recusa a acreditar que viu um vampiro.

O rapaz lhe dá um aceno, despedindo-se enquanto o metrô se afasta.

A jovem não consegue se mover, sente apenas um leve tremor nas pernas.

E a composição do metrô some no túnel.

O Rapaz sorri consigo mesmo, seu nome é Saturno.

Ele é um vampiro.

Após vinte minutos, chega finalmente ao Jabaquara.

Desce através do terminal e alcança a rua, o céu escuro retumbava pronto para desabar.

O índio sorri.

A noite está perfeita para uma caminhada.

Pensou na garota do metrô.

O sangue dela teria um gosto bom?

Anda pelas ruas escuras próximas ao Shopping West Plaza, aspirando o forte cheiro de podridão.

Sabe que está sendo seguido.

Não se importa nem um pouco, pois pode sumir no instante que quiser. Achou aquilo divertido.

Quer ver até onde vai chegar.

Seus pés chutam latas e cacos por onde passa, e seus ombros estavão encurvados para dar-lhe uma aparência doente.

Pouco tempo depois quatro rapazes o alcançam, com facas e pedaços de pau.

- Aí meu! Cê tem dinheiro?

- Não.

O vampiro continua a andar.

Os rapazes se entreolham e acham que não vale a pena assalta-lo.

- Vambora! Dexa o cara aí que ele é nóia!

Saturno deu alguns passos e parou, resolve provocá-los.

Endireita o corpo e chama os rapazes:

- Ei! Dá uma olhada nisso seus viados!

Os caras se viraram espantados.

O imortal tinha nas mãos um pedaço de madeira e o quebrou em duas partes.

- Mas que porra é essa? Tá quereno apanhar é? – diz um jovem tatuado, que parece o chefe do grupo.

O filho da escuridão atira o pedaço de madeira mais pontiagudo contra um deles.

O corpo de um rapaz negro foi atravessado e ele grita de espanto e dor.

Em poucos segundos estava morto.

- Pega ele! Pega ele! – Gritou o líder dos malandros.

O vampiro o olhou bem o tatuado, pois seria o último.

Um grandalhão o ataca, seu murro derrubaria um homem comum.

Saturno não é mais humano, agora é um filho das trevas.

- Bom soco. Sente o meu agora!

O golpe fez com que os dentes do cara atravessem a própria nuca.

O imortal tira a mão do rosto afundado, o sangue esguicha e ele lambe os dedos, experimentando-o.

- Hum. Um pouco de anabolizantes, mas tudo bem!

Outro dos rapazes, de cabelos tingidos de amarelo, vem devagar por trás.

- Morreeee! – berra o loiro.

Rapidamente o índio desvia-se e segura a mão do jovem, saca seu próprio punhal afiadíssimo.

- Você primeiro, por favor.

Corta a garganta do rapaz que espirra sangue para todos os lados.

Saturno engoliu um longo gole.

- Hummmmm! Esse está bem melhor! Acredito que seja o gosto de MacDonald´s.

O rapaz magrelo e coberto de tatuagens que liderava os outros começa a correr, e retira um celular Ericsson do bolso.

Disca olhando para trás.

Após tocar por alguns momentos, alguém atende.

- Sim? – pergunta uma voz calmamente.

- Se-Senhor! Acho que descobrimos um! – gagueja o rapaz.

Um longo silêncio se fez do outro lado da linha.

- Senhor?

- Suas coordenadas, sim? – pede a voz com uma ponta de ansiedade.

O rapaz as passa desesperado, pois quando olha para trás vê que o vampiro se aproxima cada vez mais.

Saturno já o teria pegado, se quisesse.

O jovem tatuado entra em um beco e liga seu sinalizador.

Reza para ser resgatado antes que fosse assassinado.

O vampiro entra caminhando lentamente pouco depois.

Seus compridos dentes caninos ainda pingam o sangue de seus companheiros.

- Oi. Achou que te esqueci?

O rapaz saca seu calibre trinta e oito, acertando cinco tiros certeiros no peito do imortal.

O tranco das balas joga Saturno no chão.

Ele fica um instante se fingindo de morto.

Antes que o rapaz suspirasse de alívio o vampiro levanta-se.

Solta um riso sinistro e avança sobre o jovem.

Seus dedos gelados agora são garras.

Com uma só mão suspende o rapaz, como se este fosse um saco de trapos, e com a outra mão arranca o coração.

Dentes se cravam, sugando a vida líquida do órgão que pulsa ainda.

O rapaz largado escorrega lentamente pelo muro, ciente dolorosamente de sua mortalidade.

Na entrada do beco, dois homens com sobretudos de couro negro aparecem.

O vampiro os ouve no momento em que engatilham as estranhas armas.

- Vão querer levar o seu também hein?

Vira-se largando o coração vazio. Seus olhos adquirirem um tom vermelho.

Os dentes caninos estão agora totalmente expostos, e manchados de sangue, que escorre também pelo queixo.

Mal deu dois passos e atiram contra ele.

O vampiro se desvia de uma cápsula azul. Esta acerta a parede que congela instantaneamente.

Não teve muita sorte com a segunda cápsula, pois ela se quebra contra seu corpo.

Seu corpo começa a congelar em instantes.

Continua avançando mesmo sentindo uma dor absurda no peito.

Normalmente suas garras podem cortar um homem ao meio, mas aquele não é um couro comum.

Foi com certa dificuldade que o filho-da-noite rasga o sobretudo.

Sorri ao notar que o nitrogênio começa a congelar também o homem que o atingiu.

Tudo se torna escuridão.

O tempo passa de uma maneira que não pôde ser quantificada.

Um pouco de consciência vaza pelo mar de escuridão.

Ele percebe que está sendo descongelado e também que colocaram algo em sua cabeça.

Seu relógio interior lhe avisa que dois dias haviam se passado.

O corpo todo formiga, dando-lhe horríveis câimbras a cada movimento.

Sua cabeça lateja ainda, mas está completamente descongelado.

Está em um imenso aposento branco sem móvel algum e aparentemente sem entrada ou saída.

Tateou o crânio tentando entender o que era aquilo.

- Não adianta. Foi cravado dentro de seu cérebro.

Saturno virou-se rosnando, dentro de uma cabine de vidro está um homem.

Estava sentado vestido elegantemente com paletó e sapatos pretos.

O vampiro ataca a cabine descobrindo que seus golpes não surtem efeito.

- Blindada. – esclarece o homem – não a destruirá de maneira alguma.

- É por causa dos ladrõezinhos? – quis saber o imortal.

O homem pensa por alguns instantes antes de responder:

- Não. Iam morrer de um jeito ou de outro, pelo menos nos levaram até você.

- E o que quer comigo? Me matar?

O índio estava desconfiado.

- Não, não. Longe disso! – riu o homem – Pegar você foi um engano, mas diante de seus talentos, quero que mate alguém!

Sem esperar resposta liga uma grande TV de plasma de trinta e duas polegadas.

O jovem de cabelos negros observa atentamente.

Parecia uma câmera dentro do metrô. E pelo horário já era noite na gravação.

Um grupo de rapazes fazia a maior algazarra quando um rapaz ruivo aproximou-se deles.

No momento em que o metrô entrou no túnel a câmera falhou.

Instantes depois quando a imagem voltou, os rapazes estavam mortos e o ruivo estava sentado, porém sorrindo.

Lambeu os dedos ensangüentados e gargalhou olhando fixamente para a câmera.

Seus longos dentes caninos apareceram e acertando um forte chute quebrou a janela do vagão onde estava.

Saltou com facilidade, apesar de o metrô estar em movimento.

No momento em que o ruivo apareceu no vídeo Saturno notou que se tratava de um ser da mesma raça que a dele.

- Ele está atrapalhando grande parte de nossas operações nessa capital. Quero que você o mate.

O imortal tentou enxergar melhor o, homem com quem conversa.

Impossível. Algum tipo de projeção holográfica encobre seu rosto.

O índio observa bem sua postura e voz e então nota um anel de diamante no dedo mínimo.

Fora lapidado com uma pedra inteira no formato de um crânio humano.

Aquela coisa em sua cabeça incomodava e o filho da noite passou a mão sob os cabelos.

- Então você reparou no dispositivo implantado em seu crânio?

O ser das trevas nem se dá ao trabalho de responder, apenas toca a própria cabeça novamente. Franze as sobrancelhas.

- Trata-se de um poderoso explosivo dentro de uma cápsula de titânio. Caso não complete a missão a qual o designamos ou tente fugir... Vaporizamos você!

Saturno urrou de fúria.

- Ótimo que você tenha entendido. Uma última demonstração: olhe para o cubo junto à parede, ele tem um quarto de grama. Lembre-se que seu capacete tem quinze gramas. - o homem apontou para um canto do extenso aposento branco.

O cubo é ativado e em alguns segundos explode com estrondo.

Um enorme buraco fica no local da explosão.

- Essa é sua porta de saída. Você tem uma semana para acabar com o ser da sua laia. Saberemos se tentar nos ludibriar.

O holograma desaparece sem ruído algum.

- Não vou falhar. – rosna o vampiro com os olhos vermelhos.

Usando um boné preto para que ninguém veja sua cabeça, sai à caça de sua presa.

Espalha entre todos que quer achá-lo. Anda por todos os muquifos de São Paulo.

Na primeira noite o ruivo não dá as caras.

Logo o jovem de cabelos negros está distribuindo dinheiro por qualquer informação que o leve ao Ruivo.

Três dias depois já está desanimado.

Algumas horas antes do raiar do dia, está sentado no balcão de um bar em frente ao Shopping Higienópolis.

- “Posso tentar entrar em contato com o Grego”. “Ele é cientista e talvez consiga tirar esse troço da minha cabeça”.

Faz alguns dias que ele estava afastado de seu amor, Ângela, pois não quer envolvê-la em algo que poderá matá-la.

Alguém Toca em seu ombro.

- Não enche. – resmunga o indígena olhando de relance.

Quase cai da cadeira. O ruivo está bem às suas costas.

- Ouvi dizer que está me procurando...

A voz dele é horrivelmente fanhosa.

Em poucos minutos o vampiro explica a situação.

- É verdade... Eu tenho perseguido e matado os agentes daquela organização.

- E agora é entre nós dois. Ou te mato ou me matam... – o olhar de Saturno é frio como de costume.

O ruivo ri apaziguador.

- Calma cara! Vamos ver se meu patrão pode te ajudar.

- É. Talvez ele possa...

Apesar de não aparentar o imortal de cabelos negros estava aliviado, pois não pretendia matar um igual.

Os dois dão alguns passos rumo à saída e o Ruivo para.

- Hum. Só que lembrei de uma coisa...

- De que? – perguntou o índio despreocupadamente.

“Clic”.

Das mangas do Ruivo, duas pequenas foices de mão saltaram.

Algo no tom da voz do ruivo alertou o índio.

-... Meu patrão também te quer morto!

As foices atingiram o jovem imortal de raspão quando este saltou para trás.

Um “X” sangrento aparece no peito do vampiro brasileiro.

- Merda! – grita ele.

O ruivo começa a rir feito doido.

- Meu nome é Tom! O vampiro Irlandês que vai acabar com tua raça!

Os riquinhos que estão no bar começam a correr, o cheiro do medo enche o ar.

Saturno saca o afiado punhal e esconde-se atrás do bar.

Logo em seguida o índio sente uma pontada estranha no olho direito e um estranho barulho ecoa em sua cabeça.

Parece com um relógio, mas bem mais baixo.

Menos de um instante depois ele percebe do que se trata.

A bomba foi armada!

Ele não faz idéia de quanto tempo dispõem antes da explosão.

O índio respira fundo e enfia o punhal no crânio.

O vampiro Irlandês ia pular o balcão, porém é atingido nas costas.

Para e cuspe sangue.

Um PM alto e confiante está com seu calibre 38 nas mãos.

Um fio de fumaça escapa do cano da arma recém-usada.

- Saco! Cansei de brincar com a comida!

Rodopiando como um pião o Ruivo avança sobre o PM.

Em segundos o agente da lei é feito em pedaços.

- Eu chamo isso de um trabalho bem feito! – riu o Irlandês.

Apesar da dor lancinante Saturno arranca a prótese do alto do crânio.

O cérebro fica a mostra.

Quando arranca o explosivo seu olho vai junto, ligado por um cabo.

Haviam conectado uma micro-câmera nele.

- “Filhos da puta!”. “Foi assim que descobriram que me encontrei com ele”.

Passa o dedo no mostrador do detonador ensangüentado e descobre que tem menos de doze segundos.

O vampiro brasileiro pula o balcão enquanto o Ruivo se vira.

Seu punhal afiadíssimo faísca no ar.

Com o golpe certeiro abre um profundo corte na barriga do vampiro Irlandês.

Ele grunhe e sua pequena foice corta o rosto de Saturno de orelha a orelha.

Antes que seu inimigo possa continuar o ataque o jovem de cabelos negros enfia o explosivo no estômago aberto.

- Cabum!

O ruivo fanho se espanta e empurra o vampiro índio com violência, tentando retirar o explosivo.

Porém a bomba e o detonador estão muito enroscados nas tripas que escorrem pelo corpo afora.

- Desgraçado! – berra Tom levantando a foice.

Antes que possa desferir seu golpe um tiro esfacela sua mão.

- O que?

Ele se vira e vê o mesmo que Saturno:

Um dos dois homens de sobretudo negro havia atirado.

O outro aponta a arma de nitrogênio líquido.

Aproveitando o instante de distração de seu oponente, o índio agarra o Irlandês pelo toco do braço.

Antes que o Ruivo possa reagir, é girado no ar e jogado contra os homens de sobretudo.

Gritando palavras de vingança em sua língua materna o fanho é atingido pela cápsula de nitrogênio.

O que cai aos pés do homem é um bloco de gelo com forma vagamente humana.

O homem de sobretudo sorri e engatilha sua arma, apontando-a para Saturno.

- Merda!

O jovem imortal fecha os olhos, pois acredita que o nitrogênio congelou o explosivo.

Pensa que é seu fim.

A onda de choque o atira dentro do bar que desaba salvando-o do fogo.

A explosão demole três quarteirões em volta e vaporiza um pedaço do Shopping.

Muita gente rica e famosa morre na explosão.

Com o corpo parcialmente queimado e esmagado Saturno sai dos escombros.

Ao ver toda aquela destruição sorri para si mesmo.

- “Não gosto dessa cambada de riquinhos mesmo!”

Riu com gosto.

Enquanto as pessoas correm para ajudar os feridos, o vampiro brasileiro esgueira-se até um bueiro.

Arranca a pesada tampa e deixa seu corpo cair no esgoto fétido.

Ele fica algum tempo fora de circulação cuidado por sua garota, Ângela.

Ela como toda boa mulher, lhe passa um sermão daqueles.

- Se tivesse saído comigo não teria se metido nessa enrascada!

- Talvez tivesse... – resmungou Saturno.

Ela suspira. É impossível discutir com ele.

- Homens são todos iguais, vivos ou mortos!!

Por meses o índio se recupera dos ferimentos, mas evita ficar parado.

Visita dezenas de bibliotecas, onde estuda diamantes.

Pede para que Caronte, um vampiro gay de Osasco que pesquise a Internet atrás do diamante.

- Nossa! Que interesse? Vai me dar um de presente?

Ângela sorri de modo insinuante.

O vampiro índio a encara com olhos sem emoção.

- Não. Estou rastreando o cara que quase me ferrou...

Em seguida volta para a leitura.

A garota fica chateada e se afasta dele.

Saturno percebe que pisou na bola, fecha o livro pondo-o na pilha dos não lidos.

Dentro do subsolo do esqueleto de edifício que eles moram na Rua dos Andradas, podem-se ver diversas pilhas de livros roubados de bibliotecas e livrarias.

Agarra Ângela por trás e morde levemente seu pescoço frágil.

- Desculpe Angel... É que enquanto não pegar aquele safado não vou sossegar!

Ela tapa a boca do rapaz com a mão e depois retira lentamente.

Beija-o longamente.

O vampiro começa a apalpar o corpo frio de sua amada.

Ela levanta a camiseta do jovem de cabelos negros e dá uma bela mordida no mamilo dele.

Os dois começam a se agarrar e rodopiar. Livres das roupas e das amarras da consciência.

Acabam caindo sobre as pilhas de livros, ofegantes e nus.

Saturno olhou para os livros com espanto e a vampira pensa que ele vai ter um acesso de raiva.

Logo ele começa a rir sem parar e ela não entende o por que.

Ele pega um livro grosso e ilustrado e mostra a foto.

- Quer um anel de diamante? Vou te dar esse! – avisa.

Na gravura está o diamante em formato de crânio além do nome do proprietário.

Um rico banqueiro de São Paulo.

- Oh meu amor!

A vampira olha a foto maravilhada.

Arranca o livro da mão de Saturno e o coloca sobre uma cadeira.

- Pensa que me escapa é? – agarra-o e o joga entre os livros.

Eles fazem amor à noite inteira.

Algumas luas mais tarde Saturno avisa:

- É hora da minha vingança. Vou buscar seu presente...

Ângela fica um pouco apreensiva.

- Quer que eu vá junto?

O jovem de longos cabelos negros balança a cabeça.

- Precisa não. Eu dou conta!

Sai do casarão no Brás onde estavam nos últimos dias e foi de Metrô até a estação Brigadeiro.

De lá pega um ônibus para Pinheiros e anda um bom pedaço até chegar a uma mansão.

- “Bela casa!” “E belos cachorros!” “Poderia fazer uma boquinha com eles, mas vou esperar o prato principal!”.

Saca o punhal e rapidamente mata meia dúzia de Rotweillers, anda por toda a mansão até achar seu alvo.

Meses depois de quase ter sido eliminado da face da Terra, sua pele ainda tem extensas cicatrizes e no alto de sua cabeça o osso ainda não se fechou completamente.

Tem que usar boné para que as pessoas não notem o furo em seu crânio.

- Feche esse maldito negócio! – grita o banqueiro ao telefone.

O vampiro entra na sala furtivamente.

- Não quero saber! Se não conseguirem essa escritura, ou eu mato ou eu morro!!

O banqueiro solta uma baforada de seu charuto cubano.

Essa é a deixa de Saturno com o punhal afiadíssimo corta o fio do telefone.

- Alô?Alô?

- Ele não vai te escutar... Ninguém vai...

O velho homem dá um pulo em sua poltrona estofada.

- Quem é você?

- Lembra do vampiro ruivo? Você me ordenou que o matasse.

O banqueiro começou a tremer intensamente.

- Não pode ser! Você está morto!

Saturno gargalhou com gosto.

- Sim. Estou morto. E você também...

Caminha lentamente em direção ao abastado senhor.

O banqueiro cai da poltrona.

- Na - Não!

- Belo anel. Notei desde que vi no holograma. Vai ficar bem na minha garota.

O velho banqueiro olha para o anel e no instante seguinte ele some.

Do dedo cortado o sangue começa a esguichar.

- AAAAAA! PeloAmordeDeus! Não me mata! – implora o banqueiro – Eu te dou qualquer coisa!

Os dentes de Saturno crescem assustadoramente.

- Eu só quero seu sangue!

Levanta o velho com uma mão só e cola em seu pescoço sugando vorazmente.

Após o primeiro gole, cospe no chão.

- Seu colesterol está muito alto!

Volta a morder profundamente.

Depois quando a vida já abandonou o corpo do banqueiro esfaqueia-o diversas vezes, quebra alguns objetos e rouba algumas peças de valor.

Não que se interesse por dinheiro, só que precisa simular um assalto.

Enfia o anel com dedo e tudo no bolso e foge da mansão.

Pega um ônibus até o centro e de lá vai até o metrô Sé.

Quando chega a estação do Brás desce assobiando Heaven and Hell do Black Sabbath.

Nesse momento a vê.

A garota do Metrô.

Ela o olha com o semblante carregado de medo, enquanto o sinal toca e as portas do metrô se fecham separando-os uma vez mais.

O índio sorri. Está faminto.

Alguns segundos depois ele está dentro do vagão.

Aproxima-se lentamente dela.

- Oi. Eu me chamo Saturno.

A garota o olha com medo e espanto.

Dois dias depois seu corpo completamente destroçado na linha do trem.

No dedo frio de Ângela, um belíssimo anel de diamante.

E na mente do vampiro a pergunta:

Quem seria o patrão do vampiro Irlandês?

Ivan seu inimigo imortal?

Ou algum outro?

Ele não sabe.

Fim.

Humberto Lima
Enviado por Humberto Lima em 11/08/2008
Código do texto: T1122634
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